O projeto Virar a Página serve em Braga mais de 400 refeições por dia. Números que não assustam os 200 voluntários que se revezam para que nada falhe em todos os dias do ano, sem exceção. Numa sala do Centro Paroquial Gualtar muitas mãos cozinham, limpam, preparam e distribuem comida para aqueles que pedem ajuda alimentar, a maior parte provocada pela pandemia da Covid-19.

Este projeto nasceu em março de 2020 com a ideia que seria uma ajuda provisória na cantina do Colégio Luso Internacional de Braga (CLIB). Na mesma semana perceberam que os pedidos de ajuda não paravam de chegar. «Não tínhamos a noção e não sabíamos como estava a funcionar a emergência alimentar em Braga. Reparamos que as coisas funcionam muito desarticuladas.Afinal há muitos meios, muito desperdício mas a articulação ainda não está feita», explica a Helena Pina Vaz, diretora do CLIB e porta-voz deste projeto.

Os pedidos nunca diminuem, saem uns entram outros. Felizmente já 150 pessoas deixaram de precisar da ajuda do projeto. Infelizmente desde que começou o segundo confinamento algumas regressaram porque têm contratos de trabalho muito precários que voltaram a perder. Quem contacta o Virar a Página pode contar sempre com uma resposta imediata. «Se a pessoa nos vem dizer que precisa, que não tem alimentos, não tem como os preparar e não tem quem lhe leve a casa, nós de imediato ajudamos e em dois dias verificamos a situação», esclarece Helena Pina-Vaz.

“É surpreendente que isto ainda precise estar aberto”

A responsável lembra que o projeto já serviu mais de 120 mil refeições desde o início da pandemia. Todos os dias o improviso é a palavra de ordem. As ementas fazem-se de um dia para o outro, com o que é possível. Quem trabalha na cozinha faz essa gestão com os produtos que são doados por empresas, por cantinas, pelo Mercado Abastecedor de Braga ou outras instituições. Esta estrutura está preparada para funcionar todos os dias do ano. Sempre que as outras organizações de apoio alimentar fecham na cidade, mais beneficiários pedem ajuda ao Virar a Página. «Já só falta fazermos o Dia dos Namorados e o Carnaval», diz Helena Pina-Vaz, em tom de brincadeira.

A mentora explica que fechar ao fim de semana nunca fez sentido. «Nós não sabíamos que funcionava assim e ainda bem, não tivemos a tentação de seguir o que existe», diz. O projeto conta com perfis variados de voluntários. Há estudantes, beneficiários que fazem questão de ajudar, reformados, estrangeiros (principalmente brasileiros) e pessoas que conciliam o seu trabalho com horas de voluntariado. Uma das tarefas é a distribuição das refeições, até porque o número de beneficiários que vão buscar comida ao local é residual.

Vários grupos distribuídos por várias zonas da cidade distribuem todos os dias o almoço e o jantar durante mais de uma hora. Esta é a tarefa que o voluntário Rui Peixoto mais gosta, confessa que é «gratificante». A estudar para ser chef de cozinha, ajuda desde outubro este projeto, que conheceu através de uma palestra na escola. Durante a pausa letiva e o confinamento Rui refere que vai quase todos os dias. «É sempre bom ajudar as pessoas. Nas entregas vejo a condição das pessoas e há zonas que não parecem pertencer à mesma cidade», explica.

João Portela é estudante do 10.º ano e faz voluntariado neste projeto desde o fim de maio. É ao fim de semana que doa o seu tempo para «ajudar de forma concreta as pessoas». «Acho muito importante estas iniciativas acontecerem. Noto que os pedidos estão sempre a crescer mas também crescem o número de voluntários», concluiu. O projeto conseguiu no mês de fevereiro cumprir um objetivo muito desejado de contratar uma pessoa para gerir o espaço a tempo inteiro. Esta era uma dificuldade que a equipa de centenas de voluntários tinha que agora vê colmatada. Esta contratação foi possível através de um apoio dado pela Câmara Municipal de Braga.

Como ajudar?

Quem quiser ajudar a virar a página das pessoas apoiadas pelo projeto pode fazê-lo através de voluntariado para a confeção das refeições, entrega das mesmas, apoio e logística, recolha de bens, donativos em géneros ou dinheiro.