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Ricardo Rio: «Braga proporciona experiências inolvidáveis»

Braga foi eleita “Melhor Destino Europeu em 2021”, pela European Best Destinations. Depois de ter alcançado o segundo posto em 2019, os atributos e encantos da cidade bracarense não passaram, uma vez mais despercebidos, tendo, no entanto, agora ocupado as preferências dos participantes, e superado a concorrência de mais 19 destinos europeus. O presidente do Município de Braga, Ricardo Rio, explica, em entrevista à Revista Minha, as razões para esta «enorme» conquista, numa distinção que atesta o potencial e atratividade da cidade, consolidando-a como um destino de excelência e uma referência no turismo internacional.

 

O que lhe vai na alma, depois de saber que Braga é eleita Destino Europeu 2021?
É um sentimento de enorme satisfação, partilhado não só com a generalidade dos bracarenses, mas também a nível nacional. Todos os reconhecimentos são positivos e é muito importante posicionar o nosso país e, em particular, a nossa região e o nosso concelho, no patamar de notoriedade internacional. Neste caso concreto, há uma dimensão muito relevante de satisfação porque é o corolário de um trabalho que temos efetuado, em conjunto, com muitos parceiros e que tem dado frutos. Neste caso concreto, colocou-nos num patamar que, há alguns anos atrás, seria inimaginável.

Depois do segundo lugar em 2019, acreditou que seria desta?
Em 2019, a própria nomeação foi surpreendente. Foi a primeira vez que surgimos num leque tão restrito de destinos para visitar. Neste caso, já não ficamos tão surpreendidos com a nomeação e achamos que, depois do resultado obtido em 2019, poderíamos ir mais além. É curioso que mais de 70 por cento dos votos que recolhemos referem-se a participantes fora do território nacional.

Que ilações tira dessa observação?
Há um efeito prescritor de quem já nos visitou e que já conhece a cidade. A juntar a isso, há uma outra dimensão, que é a do “passa a palavra”, nomeadamente em mercados como o Brasil ou Reino Unido. Há uma “contaminação positiva”, porque existem muitas pessoas que já cá estiveram e outras que residem, atualmente, em Braga, que passam uma imagem positiva e são verdadeiros embaixadores da cidade, em termos internacionais, transmitindo aquilo que Braga tem para oferecer, do ponto de vista estrutural e das vivências que propicia. Esta imagem corre o mundo e trouxe-nos, obviamente, benefícios nesta votação.

Que significado tem este prémio para a cidade e para os bracarenses?
Eu gosto de ver Braga a disputar, em todas as áreas, uma espécie de “Liga de Campeões” das cidades. Gostamos e queremos estar sempre entre os melhores. Nestes últimos anos, temos conseguido posicionar a cidade em várias frentes nesse mesmo “campeonato”. Pela inserção que temos tido em várias ações e redes internacionais, em espaços de colaboração e projetos diversificados, podemos afirmar que Braga é muito conhecida e muito mais reconhecida, do que há uns anos atrás, principalmente, devido aos méritos que tem tido e pelas iniciativas que desenvolve, hoje em dia, com frequência. Para os bracarenses, acredito que há um sentimento de enorme orgulho, porque todos nós gostamos muito da nossa cidade e vê-la reconhecida traz-nos alguma dose de vaidade. Mas é, igualmente, motivo de grande regozijo para todos os portugueses.

Braga tem-se transformado num epicentro cada vez mais inquestionável. Que visibilidade trará à cidade este prémio?
Há um efeito de sinergias positivas que se vão arrastando de umas áreas para as outras. Ainda, recentemente, Braga foi reconhecida pela União Europeia como uma das cidades com maior qualidade de vida na Europa. Noutros contextos, temos sido, também, reconhecidos pela dinâmica económica, pela competência inovadora e de atrair investimento, pela aptidão de captar novas empresas e pela capacidade de gerar postos de trabalho. Tudo isto, acaba por “casar” muito bem, porque Braga vai-se posicionando como um referencial para quem quer investir, trabalhar, viver ou visitar. É a afirmação de um território em várias dimensões com efeitos, obviamente, positivos.

O que acha que levou as pessoas a votar em Braga? Quais são os trunfos que a cidade ostenta?
O principal traço distintivo da cidade é, claramente, o “casamento” entre a dimensão histórica e patrimonial de uma cidade com mais de dois mil anos de história, com o facto de sermos uma das cidades mais enérgicas, jovens e irreverentes da Europa. A fusão entre tradição e a inovação, história e modernidade, património e juventude proporcionam aqui experiências inolvidáveis. Refiro-me a recursos patrimoniais e paisagísticos, atrações culturais, hotelaria, gastronomia de excelência, acolhimento ímpar, dinâmica crescente, entre muitos outros argumentos que a cidade exibe a quem nos visita.

Este reconhecimento chega, no entanto, numa fase difícil. O impacto não será, certamente, o esperado…
Considero que veio no momento certo! Numa conjuntura normal, de generalização dos movimentos turísticos, Braga iria aparecer como mais um destino possível. Neste contexto, em que o foco das pessoas está obviamente noutras dimensões, o reconhecimento que foi atribuído posiciona-nos numa posição prioritária em termos daquilo que é a visibilidade dos potenciais turistas. E um reconhecimento destes não é imediato. Traduz-se de forma duradoura ao longo do tempo. É uma alavanca poderosa para a retoma turística.

Em tempos de crise, esta distinção pode, portanto, funcionar como um alento e um sinal de esperança para toda a comunidade bracarense…
Sim, sem dúvida. Nos últimos dias, ouvimos muitos empresários a reivindicar que a primeira prioridade para a atividade turística deveria passar pelo desenvolvimento de campanhas no mercado nacional e internacional para captar o máximo de turistas possível, no regresso pós-pandemia. Uma iniciativa destas é um incentivo brutal do ponto de vista dessa mesma visibilidade e da atratividade que poderá propiciar em Portugal e no plano internacional.

Esta pujança que a cidade apresenta em variados segmentos e, agora, com este reconhecimento, levará a cidade a fazer-se notar de uma forma cada vez mais exuberante no panorama nacional e, principalmente, internacional?
A cidade tem conseguido um crescimento sustentado e muito racional. Temos consciência das nossas limitações e a nossa principal prioridade passa por garantir o bem-estar da nossa população. A partir daqui, tentamos crescer em função daquilo que são as áreas estratégicas de desenvolvimento. Do ponto de vista turístico, temos condições para dar um grande salto. Já em 2020, se a pandemia não tivesse surgido, acreditávamos que iriamos, seguramente, ultrapassar as 700 mil dormidas/ano. Com o somar destes reconhecimentos, a breve prazo, no período pós-pandemia, as nossas projeções apontam para 1 milhão de dormidas/ano na cidade. Não é por acaso que vão sendo concretizados vários projetos de investimento turístico e vão surgindo novas unidades hoteleiras. É precisamente para assegurar a capacidade de acolhimento para esse fluxo turístico que se espera.

Não teme que o provável aumento do turismo possa “desumanizar” a própria cidade?
Em primeiro lugar, todo o nosso património e todas as iniciativas que desenvolvemos são para ser fruídas pelos próprios bracarenses. Considero que temos conseguido harmonizar o crescimento da dimensão turística com a vivência da cidade. A própria reabilitação efetuada no centro histórico vai de encontro a esta análise. Há muita oferta turística, mas existem, também, muitos edifícios reabilitados para promover a habitação no centro da cidade. É uma prática equilibrada que não põe em causa o desenvolvimento da cidade à custa do turismo.

Braga está preparada para enfrentar este possível “boom” turístico?
Sim, estamos preparados. Estou certo que vamos beneficiar muito deste fluxo turístico. E este impacto positivo vai refletir-se também nas cidades vizinhas e em toda a região.

Há, inevitavelmente, algumas obras e melhorias a realizar na cidade. Recordo, por exemplo, os problemas existentes com o Rio Este e com o trânsito ou a necessidade de realização de obras de conservação em alguns edifícios. Quais são as que considera mais urgentes e indispensáveis para o plano turístico?
O principal problema de Braga, em termos de desenvolvimento próximo, é a questão da mobilidade. Há um trabalho a fazer na melhoria do sistema de transportes e na qualificação cada vez mais necessária do transporte público. A mobilidade sustentável passa sobretudo pela oferta de um transporte público de qualidade, regular, eficiente, confortável e económico. Para que possa atrair mais público e desincentivar a utilização de viatura própria. Em Braga, não houve essa preocupação durante muitos anos. Temos uma cidade desenhada, estruturalmente, para o automóvel, com facilidade, apesar de tudo, de estacionamento no centro da cidade, e com muita circulação de atravessamento, com convergência para esta zona. A nossa principal prioridade passa por drenar todo esse trânsito para outras vias, através de projetos já em desenvolvimento, como a Variante do Cávado e o Nó de Infias. Do ponto de vista da qualificação, uma das grandes mais valias que se avizinha no futuro, além de vários investimentos que já estão em curso na requalificação do património, como na Ínsua da Carvalheiras ou no Convento de S. Francisco, diz respeito à dimensão do património natural, nomeadamente, os melhoramentos nas praias fluviais ao longo de todo o rio Cávado. É uma zona lindíssima que merece toda a atenção, seja dos bracarenses como dos turistas e visitantes. No centro da cidade, a prioridade passa pela qualificação dos espaços verdes de grande dimensão, concretamente do parque das Sete Fontes e do melhor aproveitamento da interligação entre o parque do Picoto, o Parque S. João da Ponte e toda a zona envolvente.

Para terminar, que deixar uma mensagem aos bracarenses e a todos aqueles que pretendem visitar a cidade?
Aos bracarenses, uma palavra solidária de regozijo por este momento de grande afirmação da nossa cidade, pelo apoio e dedicação que ofereceram para que fosse possível. Para quem nos visita, a certeza que irão ter uma experiência inolvidável nas mais diversas dimensões.

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