O mês de novembro é ótimo para aqueles que gostam de fazer umas caminhadas ou de passear no meio da natureza, aproveitando estes momentos para descansar da balbúrdia dos grandes centros urbanos.
Em novembro, o Verão de São Martinho costuma trazer uns dias de sol propícios para este usufruto da natureza, numa altura do ano em que o outono pinta a paisagem com uma paleta de cores que vai do amarelo até ao vermelho. E, se conseguirmos aliar este espetáculo que a natureza nos proporciona com o património edificado, obtemos um passeio que promete ficar na memória de toda a família.
Sem mais “considerandos”, é altura de nos colocarmos a caminho para usufruir de tudo isto, esperando que o São Martinho não nos falte com aqueles dias de sol. E o nosso destino é a zona do Gerês, quase dentro do único parque nacional do país que está a celebrar 50 anos. Vamos visitar a aldeia de Brufe.
Para lá chegar, saindo de Braga, vamos seguir a estrada que nos leva até Terras de Bouro. Cuidado, não entramos na vila porque na rotunda na zona da Pesqueira vamos pela nova travessia sobre o rio Homem. Chegados à rotunda seguinte, vamos pela primeira saída, entrando na estrada municipal 501 que, sempre a subir, nos vai levar direitinhos a Brufe.
No passado aqui era a freguesia de Espírito Santo de Vila Garcia, pertencendo ao concelho de Vila Garcia, que foi extinto na reforma administrativa realizada entre em 1834 e 1836. Brufe, pela sua situação geográfica, foi uma aldeia que, durante muitos anos, esteve isolada no cimo da Serra Amarela.
Atualmente, é servida pela estrada municipal 501 que vai minimizando esse isolamento serrano e que, no passado, deverá ter sido penoso. Aliás, não é nada difícil perceber essa dificuldade passeando ainda hoje pelos arruamentos da aldeia.
Em 1958, viviam em Brufe 130 almas distribuídas por 27 fogos, dos quais nove se consideravam pobres, sendo na altura a riqueza destas gentes a produção de milho.
Deixando o carro na estrada, o desafio é entrar pela aldeia de Brufe e perceber as dificuldades do passado e os desafios que ainda hoje se colocam a quem ali mora. Aproveite para descobrir a arquitetura rural aqui existente e tente descobrir quem ali habitou, pelas pistas que ficaram gravadas no granito.
Na casa do antigo pároco de Brufe, por exemplo, estão gravadas decorações com motivos de caça porque, segundo consta, o padre António José Francisco era o mais afamado caçador das redondezas.
Quem mora hoje em Brufe ainda sabe onde está a casa de José Gonçalves Gaio, que foi recuperada para turismo rural. A este morador recorriam as pessoas doentes porque ele “arranjava os ossos” tanto dos homens como dos animais.
Mas, desengane-se quem pensar que nesta aldeia só é possível encontrar património com séculos de existência. Foi em 2005 que a aldeia de Brufe foi falada em todo o mundo por causa de uma construção recente. O edifício que alberga o restaurante “O Abocanhado” recebeu a medalha de prata na Bienal de Miami Arquitetura, organizada pela Sociedade Americana de Arquitetos Paisagistas e pela Federação Pan-Americana de Associações de Arquitetos, que congrega arquitetos e designers de todo o mundo.
Os autores do projeto, António Portugal e Manuel Maria Reis, desenharam um edifício encaixado nos socalcos de Brufe, com uma paisagem, para quem está a usufruir da refeição, verdadeiramente deslumbrante sobre o vale do rio Homem.
Não deixando de ser uma coincidência curiosa, o galardão foi atribuído na edição de 2005 da Bienal, que decorreu entre os dias 4 e 22 de novembro em Miami, estando a fazer precisamente 20 anos que a aldeia de Brufe foi dada a conhecer a todo o mundo e ao universo dos arquitetos. Finda a nossa visita, prepare-se para a descida. Não voltamos para trás, mas continuamos na mesma estrada e vamos em frente, onde uma paisagem de cortar o fôlego promete deixar todos de boca aberta. Esta é a estrada que nos leva até à barragem de Vilarinho da Furna. Mas, antes de lá chegar, poucos quilómetros depois de sair da aldeia, esteja atento à indicação para o fojo do lobo de Brufe, que também vale bem a pena visitar, para perceber como é que os lobos eram antigamente caçados.
José Ferreira
Jornalista