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Ponte da Barca… e de Maria!

O mês de maio para os cristãos, é sabido, é o mês de Maria, sendo que o grande epicentro de todas as celebrações acontece no Santuário de Fátima, na Cova da Iria. 

Foi aqui que, a 13 de maio de 1917, Nossa Senhora apareceu aos três pastorinhos, Lúcia, Jacinta e Francisco, pedindo-lhes que rezassem o Terço todos os dias pela Paz no mundo.

O que poucos, provavelmente, saberão é que poucos dias antes, há o registo de uma aparição de Nossa Senhora a um pastor no concelho de Ponte da Barca, precisamente com a mesma mensagem. Hoje, a nossa proposta de viagem pelo património leva-nos, precisamente, até à capela de Nossa Senhora da Paz, edificada no local desta aparição, mais concretamente no lugar do Barral, na freguesia de S. João Baptista Vila Chã, concelho de Ponte da Barca.

Para lá chegar, o Google Maps dá-nos três opções, sendo que a menos atraente é a que a vai pela A3. As outras duas, confesso, não as conhecia, mas parecem ser muito interessantes, sobretudo a que vai por S. Bento da Porta Aberta. Há ainda uma quarta hipótese, a que, saindo de Braga, nos leva até Ponte da Barca, onde devemos seguir a direção do Lindoso. Nesta estrada, um pouco mais à frente do corte para a Central Hidroelétrica do Touvedo, tem um corte à direita que leva direitinho a este santuário de Nossa Senhora da Paz.

Conta a história onde a 10 e 11 de maio de 1917, dois dias antes da Cova da Iria, um menino disse ter visto Maria. As Aparições de Nossa Senhora do Barral começam a 10 de maio, perto das 8h00, quando o pastor, de 10 anos, órfão de pai, ia para o monte rezar o Terço quando, perto da capela de Santa Marinha viu um relâmpago. Curioso, foi ver e encontrou uma Senhora com um rosto lindo e cheia de luz, vestida de branco com um manto azul, sentada. O pastor surpreendido caiu e, ao levantar-se, a Senhora já lá não estava. De regresso a casa, foi ter com o pároco para lhe contar o sucedido, tendo o padre aconselhado o jovem a voltar e a perguntar à Senhora quem era ela. Assim fez no dia seguinte. Severino Alves voltou e encontrou novamente Senhora a quem perguntou quem era. A Senhora respondeu: “Não te assustes, sou Eu, menino. Diz aos pastores do monte que rezem sempre o Terço, que os homens e mulheres cantem a Estrela do Céu. E as mães, que têm filhos lá fora, que rezem o Terço, cantem a Estrela do Céu e se apeguem Comigo, que hei de acudir o mundo e aplacar a guerra”.

Provavelmente, os desígnios divinos quiseram que Fátima fosse mais conhecida que o lugar do Barral, mas o grande historiador e investigador barquense, cónego Avelino de Jesus da Costa, foi dos grandes obreiros para que estas aparições não ficassem perdidas na bruma dos tempos. Passaram 50 anos dos acontecimentos quando foi erguida a capela de Nossa Senhora da Paz, inaugurada a 15 de setembro de 1969.

Neste santuário, para além do trabalho artístico que embeleza a igreja, sobressai a presença dos inúmeros quartzos, tão abundantes nesta terra. Aliás, é verdadeiramente impressionante pela sua dimensão a peça única em quartzo que dá corpo ao altar da cripta. Outra peça que não deixa de se poder admirar é o quartzo que se encontra no exterior, formando um monumento à Paz.

Não é, por isso de estranhar que junto à capela exista até um museu dedicado a este mineral, que vale mesmo a pena visitar. O seu amor por este local levou mesmo o cónego Avelino de Jesus Costa, um dos maiores investigadores da Universidade de Coimbra a doar parte do seu espólio e algumas peças académicas que lhe pertenceram à Confraria de Nossa Senhora da Paz.

A festa maior acontece aqui no último domingo do mês de maio, com a procissão de velas no sábado à noite, a celebração da Eucaristia no domingo às 11h00 e a procissão à tarde.

 

José Carlos Ferreira
Jornalista

 

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