Eis-nos chegados ao mês de maio, altura em que todos nós já sentimos que as férias estão quase à porta, que o tempo está a ficar mais quente e mais convidativo para passeios. Em família, ou mesmo com os amigos, a sugestão é sair de casa e partir à descoberta do nosso património de grande valor, repleto de histórias para contar. E este mês, a nossa sugestão leva-nos até ao concelho de Vila Nova de Famalicão para conhecer um dos mosteiros mais antigos deste território. Os investigadores que se debruçaram sobre a história do Mosteiro de Oliveira Santa Maria dizem não ter dúvidas sobre a antiguidade deste conjunto monástico, até porque os dados mais antigos existentes reportam-se ao ano de 1033, ou seja, muito antes da nacionalidade. O historiador José Marques, na sua obra “A Arquidiocese de Braga no século XV”, aponta mesmo a hipótese de este ser um domínio monástico de tradição visigótica. Mas, faltando documentação anterior a 1033, não será complicado imaginar que, apurar a sua origem e o seu desenvolvimento é uma tarefa de grande dificuldade para os historiadores. Não se conhecendo documentação da época mais remota do mosteiro, é, contudo, a partir de 1033 que começa a ser possível atestar, em termos documentais, a existência deste conjunto monástico, havendo aqui referência a possíveis fundadores.
No entanto, ressalve-se que aqui os termos fundação e fundadores deverão ser entendidos com reticências. Assim, uma das hipóteses para a fundação do mosteiro é avançada por D. Nicolau de Santa Maria, na Crónica da Ordem de Santo Agostinho, que aponta Arias de Brito como fundador do mosteiro em 1033, referindo que à data já aí existiam clérigos «que viviam em comum com seu Prior D. Antão, a quem o fundador fez huã larga doação de todas as herdades que tinha na villa de Oliveira, em Carrazedo, em Subilhaes». O Mosteiro de Oliveira Santa Maria foi um dos conjuntos monásticos no Norte de Portugal que aderiu à Regra de Santo Agostinho.
Ainda hoje, a igreja tem num dos lados do seu Altar-Mor a imagem de Santo Agostinho e, no outro lado, a imagem de São Teotónio que foi o primeiro prior de Santa Cruz de Coimbra, a Casa Mãe em Portugal desta ordem. Segundo José Marques, no seu livro “A Arquidiocese de Braga no século XV”, «à semelhança do que tinha acontecido com os beneditinos, os Cónegos Regrantes de Santo Agostinho instalaram-se em mosteiros pré-existentes, atraídos à sua regra e observância».
«Isto equivale a dizer que houve um movimento maciço de filiações ou adesões, não havendo notícia de fundações propriamente ditas», acrescenta. É possível dizer com toda a certeza que esta adesão «se situou entre 1131, ano da fundação de Santa Cruz de Coimbra que, como é sabido, foi a instituição a partir da qual irradiou a Regra Agostinha em Portugal. Na lista de priores que lideraram ao longo da Idade Média o Mosteiro de Oliveira Santa Maria há um que se destaca. Trata-se de Fernando Pires Coelho que, durante a sua vida e mesmo depois da sua morte, teve a fama de santo. Segundo Maria do Rosário da Costa Bastos, no livro “Santa Maria de Oliveira — Um domínio monástico do Entre-Douro-E – -Minho em finais da Idade Média”, a ascendência de Fernando Pires Coelho não é conhecida, sabendo-se apenas que era irmão de Pedro Eanes Coelho que, com a sua mulher, doou ao mosteiro três casais que possuíam na Terra de Vieira.
Ainda segundo a investigação que efectuou, a historiadora diz saber que Fernando Pires Coelho governava o mosteiro em 1299 e faleceu a 18 de Janeiro de 1340, tendo recebido uma sepultura honrosa no claustro, junto à parede da igreja. «Pela fama de santo que granjeara, consta que muita gente acorria ao seu túmulo em veneração, especialmente na data de aniversário da morte deste prior», afirma. Se na liderança do Mosteiro de Oliveira Santa Maria há a registar um homem que teve a fama de santo, parece também ter havido quem se desleixou nos preceitos espirituais da instituição. Estamos a falar de Sixto da Cunha, o primeiro dos três comendatários de Oliveira.
A sua demasiado breve passagem pela clerezia secular, o seu completo desconhecimento da vida claustral, a falta de disciplina imposta ao convento que dirigia ou, pura e simplesmente, todos estes fatores combinados, levam a um deplorável relaxamento dos preceitos espirituais de Oliveira.

