A Galiza quer que os minhotos descubram o potencial que tem na área do turismo náutico sustentável. As praias paradisíacas, os faróis de encantar, os pores do sol deslumbrantes e a gastronomia de excelência são alguns dos motivos para explorar este território em qualquer estação do ano. É que há muito para apreciar para além das praias mais conhecidas…
A Galiza tem no mar e nas rias um dos pilares da sua economia, que está a rentabilizar do ponto de vista turístico como um destino sustentável. Os minhotos estão no topo das prioridades no que toca à captação de visitantes, tendo em conta a proximidade geográfica e a afinidade mútua.
A afirmação da Galiza como um destino sustentável está a ser promovida pelo Clúster de Turismo de Galicia, com o apoio da Xunta de Galicia. Numa vista para imprensa, a diretora de Turismo de Galicia, Nava Castro, destacou que este território possui quase 1700 quilómetros de costa, 16 rias, 880 praias e 10 500 postos de amarração, que constituem um potencial imenso que está a ser valorizado através dos planos de sustentabilidade dos municípios do litoral, os primeiros a serem contemplados com as verbas europeias do Mecanismo de Recuperação e Resiliência. Paralelamente, está em marcha um plano transversal na área da mobilidade, para que os turistas possam encontrar meios de transporte sustentáveis, podendo deslocar-se em bicicletas, carros e barcos elétricos. Neste âmbito, está em curso um projeto-piloto de disponibilização de carros ecológicos nas estações de comboio de Ourense e A Gudiña, servidas pela rede de alta velocidade, que podem ser reservados através de uma aplicação digital.
Por seu turno, o presidente do Clúster de Turismo de Galicia, Cesáreo González Pardal, salienta o crescimento do número de empresas galegas comprometidas com o território e com os produtos locais, que são exemplos de boas práticas ao nível da sustentabilidade.
A consciência ambiental acentuou-se com a tragédia do Prestige, em 2002, quando o afundamento daquele petroleiro provocou uma imensa maré negra na costa galega. As práticas sustentáveis têm vindo a generalizar-se, traduzindo-se agora numa marca apelativa, que pretende levar os visitantes à descoberta de um território que vai muito para além das praias mais famosas da zona das Rias Baixas.
A rentabilização turística destes recursos inclui a diversificação das propostas colocadas à disposição dos visitantes. Entre essas experiências está a descoberta da origem do famoso mexilhão da Galiza, proporcionada pela Bluscus, empresa de turismo náutico, que leva os turistas desde o porto de Vigo até às plataformas de cultivo de mexilhão: as bateas.
É no Santa Cruz, um antigo barco de pesca de madeira totalmente recuperado, que é feito o percurso até às mexilhoeiras, estruturas concessionadas que podem chegar a custar um milhão de euros, que se avistam quando se atravessa a Ponte de Rande, a famosa ponte de tirantes sobre a ria de Vigo.
As bateas são compostas por traves de eucalipto, madeira resistente e flexível, onde estão penduradas 500 cordas com um comprimento de 12 metros, sendo que cada uma delas pode atingir 300 quilos de mexilhão. Tendo em conta que existem 3300 bateas, estes números fazem da Galiza o maior exportador mundial de mexilhão.
O processo começa na zona de reprodução da batea. Na etapa seguinte, os mexilhões vão passar por uma máquina tubular para se fixarem à corda onde vão crescer, sendo que na etapa inicial são envolvidos por uma malha biodegradável, para evitar que se despeguem. Aqui vão ficar um ano e meio, até atingirem o tamanho para comercialização, embora haja países como a Itália que preferem este bivalve mais pequeno. Nesse momento, entram em ação os “bateeiros”, barcos que levantam as cordas com o mexilhão, procedem à sua remoção das cordas e acondicionamento para seguir o processo rumo ao mercado.
Também Malpica, na Costa da Morte, está a tirar partido da sua tradição piscatória para atrair visitantes. Com uma frota de 52 barcos, a lota é um dos pontos de atração, especialmente na hora de fazer o leilão do peixe, que em muitas ocasiões ainda mantém as tradicionais licitações de viva-voz, embora já haja a moderna versão eletrónica.
Ao lado da lota trabalham as redeiras a consertar as redes de pesca. Este trabalho foi reconhecido como profissão, sendo atualmente uma das atrações desta localidade. Entretanto, numa boa prática de economia circular, começou a ser feito artesanato a partir das redes que deixam de poder ser utilizadas na pesca, designadamente bolsas.
É em Malpica que começa o Caminho dos Faróis, um percurso de 200 quilómetros até Finisterra, que pode ser percorrido em oito etapas, sempre com o mar como protagonista. Tendo os faróis como ponto de referência, este trajeto permite descobrir os principais pontos de interesse da Costa da Morte, sem a pressão de turistas que se verifica nas rotas de pedestrianismo mais conhecidas. Esta é uma das propostas da Tee Travel, agência especializada em percursos pedestres e de cicloturismo, com destaque para todos os percursos dos Caminhos de Santiago.
Como exemplo do que os visitantes podem encontrar neste percurso, os participantes na visita pela Galiza sustentável foram ver o pôr do sol no Farol de Punta Nariga, sendo este um momento mágico em que um matiz vívido de amarelo, laranja, vermelho e púrpura tinge o céu no ocaso do astro-rei na linha do horizonte. Este é o farol mais recente da Galiza, tendo sido inaugurado em 1995. Com desenho de César Portela, a construção rente ao
mar lembra a forma da proa de um barco.
Mostrando que a preocupação com o ambiente é transversal a diversos pontos da Galiza, o grupo teve a oportunidade de percorrer o passeio marítimo da Corunha em bicicleta elétrica, proporcionada pela Ok Zona EBike. Esta é uma forma cómoda de percorrer o maior passeio marítimo da Europa, numa distância superior a 13 quilómetros, em que se destacam os emblemáticos candeeiros vermelhos.
Relativamente aos principais pontos de atração da cidade, destaque para a icónica Torre de Hércules, o único farol romano que se mantém em funcionamento e que está classificado como Património Mundial da UNESCO desde 2009, e a Praça María Pita, uma heroína que, no ataque à cidade pelo corsário Francis Drake, em 1589, matou o alferes inglês que tinha conseguido entrar por uma brecha na muralha e galvanizou a resistência corunhesa com o repto “quem tiver honra, que me siga”.
A ligação ao mar que marca o pulsar da Galiza está igualmente patente no restaurante Curricán, estabelecimento com vista para a marina de Sada, a pouco mais de 20 quilómetros da Corunha. Evocando no seu nome uma arte de pesca tradicional, o restaurante assume a vocação marítima e aposta na qualidade dos produtos que serve.
Nesta proposta, registo para a harmonização com o Formigo, um Ribeiro fresco e aromático, com toque de salinidade, que tem um curioso rótulo, com as fases de elaboração do vinho.
Em matéria de alojamento, destaque para a requintada A Quinta da Auga, em Santiago de Compostela, o único Hotel Spa Relais & Châteaux da Galiza. O hotel resultou da vontade dos proprietários, Luisa García Gil e José Ramón Lorenzo, de transformarem uma antiga fábrica de papel do século XVIII no local ideal para receberem visitantes na sua cidade-natal. Com a colaboração da filha, Luisa Lorenzo, o espaço abriu em 2009, como um hotel ecológico que se funde com a natureza envolvente, uma quinta de 10 mil metros quadrados, ao ritmo da água do rio Sar.
Apostando na exclusividade, cada quarto tem decoração diferente e foi desenvolvida uma fragrância específica para o hotel. Os hóspedes são recebidos com um cartão de boas-vindas personalizado, escrito à mão.
O SPA e o restaurante Filigrana são mais-valias deste espaço de luxo. O restaurante é capitaneado pelo chef Federico López, praticando cozinha de alto nível, com qualidade e esmerada apresentação. Entre as propostas deste espaço destaca-se a harmonização com Pagos del Galir, um Valdeorras com nariz complexo e final longo na boca, prolongando os sabores da Galiza, aos quais se fica com vontade de regressar.