Roteiros

Roteiros pelo Património

Os tempos de pandemia que vivemos dizem-nos que devemos ter precaução, mas também sabemos que devemos continuar a usufruir do melhor que temos, de forma responsável por forma a respeitar a saúde pública. Por isso, em fevereiro, o mês do amor, o convite é para um passeio ao ar livre, mas repleto de história e de histórias, onde o património espreita a cada esquina por onde passamos. Falo-vos do Soajo, no concelho de Arcos de Valdevez, onde podemos encontrar tudo o que necessitamos para passar um fim de semana de excelência. Para lá chegar, os mais apressados dirão a autoestrada A3. Eu aconselho vivamente, para quem sai de Braga, seguir até Vila Verde, dirigindo-se depois em direção a Ponte da Barca, pela Estrada Nacional 101. Sem entrar naquela vila, a Estrada Nacional 203 leva-nos quase até ao Soajo, percorrendo a margem esquerda do rio Lima. Mas, cuidado, em Paradamonte tem de entrar na Estrada Municipal 530, que atravessa o rio Lima para a outra margem e o levará diretamente ao Soajo. Aqui chegados, entramos na vila, onde respiramos história a cada esquina onde passamos. A referência documental mais antiga que se conhece, onde é explicitamente referida a terra do Soajo, data dos meados do século X, tratando-se do famoso testamento de Mumadona. Contudo, para os historiadores não há dúvidas que este território regista uma ocupação humana ancestral que se perde na bruma dos tempos. No passado, quem aqui vivia, tinha direito a privilégios concedidos pelo poder real que foram sucessivamente confirmados pelos vários reis de Portugal. Os moradores de Soajo eram monteiros, isto é, guardas e fiscais da serra, privilégio que conservaram pelo suceder dos tempos e de que ainda se conservam reminiscências. Quando organizavam caçadas por conta própria davam ao Rei as espáduas dos porcos grandes que matassem, e de ursos davam as mãos. Nada pagavam por caçar nas sete semanas antes do Entrudo e nas três primeiras semanas da Quaresma, afirmam os historiadores. Um pormenor da história deste território acontece a 5 de março de 1401, data em o rei D. João I assinou um documento de proteção ao povo de Soajo, proibindo a morada nesta terra de gente fidalga. Mas, olhando agora para o património do Soajo, o grande ex-libris, dirão todos os que visitam este território, é o conjunto de espigueiros comunitários que existe. Sem dúvida alguma que vale a pena ver e apreciar. Contudo, para nós, o Pelourinho do Soajo não fica atrás em termos de importância enquanto bem patrimonial. Segundo reza a história, a 7 de outubro, o rei D. Manuel I elevou o Soajo a vila e, na sequência desta decisão e em data incerta, ergueu-se este pelourinho, onde era exercida a justiça. Trata-se de uma estrutura em cantaria de granito, composta por soco quadrangular de três degraus escalonados, onde assenta coluna de fuste circular, tendo esculpido no topo face circular, marcada com grandes olhos redondos, nariz e boca risonha. Remata este pelourinho uma placa triangular que lhe dá um ar de chapéu. O Pelourinho do Soajo é Monumento Nacional desde 16 de julho de 1910.

Nesta praça, onde se encontra este monumento, não deixe também de ver a casa que outrora foi a botica desta vila, ou seja a casa que serviu antigamente de farmácia e que passou a ser uma dependência bancária. Nesta zona central da vila encontra também a casa que o pároco do Soajo decidiu construir para si em 1914, tal como indica a data nela inscrita. O sacerdote avançou com a edificação desta casa porque, com a implantação da Repúblico a 5 de outubro de 1910, a casa paroquial, conhecida por Casa do Adro, foi tomada pelos republicanos. Por fim, não deixe de ir ver os famosos espigueiros da vila do Soajo, um ex-libris desta terra e deste território do concelho de Arcos de Valdevez. Vale a pena passear entre cada um deles, admirar a paisagem e, desta forma, ganhar algum apetite para um repasto num dos restaurantes do Soajo, conhecidos e reconhecidos pelo seu bem servir. Ao regressar a casa, não esqueça de parar junto ao monumento dedicado à Serra e à Vila do Soajo que foi abençoada e inaugurado por D. Abílio Ribas, Bispo Emérito de S. Tomé e Príncipe, natural de Soajo.

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