Sem Treta

Um Natal longe de casa

Marvellous Agbamie, uma jovem de 23 anos, e os seus dois filhos, uma menina de três anos e um menino de um ano e nove meses, são uma das famílias monoparentais femininas acolhidas pela ADOLESCERE – Associação de Apoio à Criança e Adolescente. Este é já o segundo ano em que Marvellous, natural da Nigéria, passa o Natal em Portugal. Para Marvellous, o que mais custa é estar longe da família e dos amigos e o seu desejo de Natal era, numa realidade paralela onde não houvessem conflitos e voltar a reunir-se com os seus ente queridos, no seu país. «Tenho muitas saudades da minha família e dos meus amigos. No Natal a minha família reunia-se na casa dos meus avós, era o ponto de encontro habitual», revelou Marvellous Agbamie em entrevista à Revista Minha. «Este Natal, o plano que tenho em mente é bastante simples, vou passear pela cidade com os meus filhos e com os amigos que fiz cá», acrescentou.

Adolescere, a associação bracarense que tem apoiado vários cidadãos refugiados

A Adolescere é uma associação que tem como principal objetivo a melhoria da qualidade de vida da população vulnerável ao risco social, especialmente com crianças e jovens. Para além de trabalharem com crianças, jovens e famílias que se encontram sem ou com muito pouca retaguarda familiar e/ou institucional, a associação encontra-se à frente do projeto Casa Sorriso, de forma a dar resposta às famílias com horários atípicos. Desde o ano passado, em resposta à necessidade do Alto Comissariado para as Migrações (ACM), a associação tem acolhido famílias monoparentais femininas refugiadas. O projeto, “Acolher”, acompanha as famílias durante 18 meses, contando neste momento com 29 refugiados provenientes do Sudão, do Iraque, da Síria, da Somália, do Afeganistão e do Irão. «Neste momento também acolhemos jovens refugiados não acompanhados, o que foge um pouco à nossa resposta inicial, uma vez que são jovens adultos, mas dado ser uma necessidade urgente devido à crise humanitária que está a acontecer no Afeganistão, nós, como associação, obviamente não iríamos fechar a porta», revelou Rita Rodrigues, Educadora Social da Adolescere. Neste sentido, o projeto “Acolher” alastra-se agora até Fão, onde acolhe neste momento 14 cidadãos refugiados de famílias nucleares e monoparentais. «Com o projeto “Acolher” apoiamos na integração profissional e académica, auxiliamos na aquisição da documentação, como o título de residência, na integração no sistema nacional de saúde, realizamos atividades de cariz psicossocial e psicopedagógico, entre outros. São coisas que para nós são básicas, mas que para eles são um grande desafio, até porque ainda não estão familiarizados com a língua portuguesa», assegurou Rita Rodrigues em entrevista à Revista Minha. Como a língua é o ponto-chave para a integração, a Adolescere tem uma parceria com a Cruz Vermelha e com a SYnergia, para que estes cidadãos refugiados possam aprender português. Frequentam também cursos de aprendizagem da língua portuguesa disponibilizados pelo IEFP. «O nosso principal objetivo é apoiá-los de forma a que eles se autonomizem aos poucos e que após os 18 meses consigam ser completamente independentes», acrescentou.

«A essência do natal está no amor, na alegria e na partilha»

Quanto ao Natal, a associação admite ser um ponto sensível. «Apesar de ser importante a integração destes cidadãos na nossa cultura, fazemos de tudo para que não se esqueçam da cultura deles». «Há uma questão delicada e que achamos importante realçar, como nós acolhemos famílias muçulmanas e cristãs, não pode – mos desvalorizar a cultura dos muçulmanos e ornamentar toda a casa com decoração de natal, por exemplo. O que acaba por acontecer, e é bastante bonito, é que os cristãos fazem a ceia de Natal lá em casa e os muçulmanos acabam por se juntar à festa!», destacou a Educadora Social. «No Natal passado fizemos diversas coisas: festas em casa em que eles se vestiram com os trajes tradicionais das suas culturas; vimos as luzes de natal na cidade; fizemos um jantar onde cozinhamos bacalhau e eles também elaboraram pratos típicos das suas culturas para nós experimentarmos; os funcionários da Agere reuniram-se para comprar prendas para as nossas crianças. Organizamos uma tarde de festa, com muita alegria e música, onde abrimos as prendas como se fossem do Pai Natal! As crianças ficaram muito contentes», relembrou Rita Rodrigues, revelando considerar que são estes pequenos gestos que os fazem entrar no espírito do amor, da alegria e da partilha, que é a essência do Natal. Este ano, a associação admite que pretende fazer ainda mais atividades. «Vamos assistir ao momento em que as luzes de natal são ligadas, no dia 1 de dezembro, e estamos a pensar fazer algumas parcerias para que possam realizar diferentes atividades, como patinagem no gelo», termina.

 

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