Sem Treta

OS SÍMBOLOS QUE NUNCA FALTAM

Este ano, como em 2020, as festas populares realizam-se de forma muito tímida, devido à Covid-19. Mas, basta entrar no mês de junho que imediatamente se sente o “cheiro” dos Santos Populares. Ao longo deste mês, em vários pontos da região (e não só) é notória uma grande azáfama nas ruas.

Os Santos Populares são isto mesmo. São festa, movimento e alegria espontânea do povo. Seja Santo António, S. João ou S. Pedro, estas celebrações populares reúnem anualmente milhares de pessoas nos locais onde são comemorados, sempre, de mãos dadas, com um leque extenso e variado de atividades e costumes próprios. Nesta altura e como manda a tradição, não faltam os manjericos, os martelos, os balões, os fogos de artifício, as sardinhas, as cascatas, as fogueiras e o alho-porro, símbolos associados a estas festividades.

Fogo-de-artifício, balões e fogueira

O costume do fogo-de-artifício está ligado às celebrações do fogo, que transporta para a noite o vigor e a potência divina do sol. Esta tradição atrai grande atenção da população que durante o seu lançamento para, para ver o céu iluminado. Os tradicionais balões de S. João estão, igualmente, relacionados com as manifestações ligadas ao fogo. Os balões são elaborados em papel, apresentam-se em várias cores e são lançados em direção ao céu. Apesar de estarem ligados ao S. João, são obrigatórios também nos festejos dos outros santos populares. As fogueiras representam a purificação, tendo em vista a saúde, o casamento e a felicidade. Atualmente, ainda se verificam em várias aldeias, onde grupos de moradores saltam por cima delas, em verdadeiros atos de coragem.

Manjerico e alho-porro

As ervas aromáticas são próprias nesta altura do ano e assumem nas festas populares, especial relevância. A importância que lhes é atribuída refere-se aos benefícios que se julga trazerem à saúde, mas também pelas manifestações que lhes são atribuídas pela população. Com um formato e um cheiro peculiares e inconfundíveis, o manjerico é a erva aromática que celebra o S. João, mas também o Santo António e o São Pedro. A tradição diz que se deve comprar o manjerico e conservá-lo até ao dia seguinte. Devem ser “cheirados” com a mão e são vendidos em vasos enfeitados com uma bandeirola, na qual está gravada uma quadra popular.

Nas ruas, instalam-se ao longo de vários dias, os vendedores, que disponibilizam exemplares para todos os tipos de gostos ou carteiras. Há pequenos, médios e grandes e um vaso da conhecida “erva dos namorados” pode ir de um euro até aos vinte. Tudo depende do tamanho. O alho-porro é um símbolo ligado à boa sorte, sendo usado para tocar e dar a cheirar às pessoas durante a noite mais longa do ano.

Cascatas

As cascatas estão ligadas às festividades sanjoaninas. São cenários livres de representações, com origem pro- vável nos presépios de Natal e têm no elemento água, um dos seus principais princípios. A figura central des- te conjunto é ocupada pela imagem de S. João Batista, bem como por representações figuradas da cena bíblica do batismo de Jesus pelo Santo, no rio Jordão. Algumas cascatas são muito coloridas, inclusive com movimento das próprias peças, muito enfeitadas.

Martelo

O martelo de plástico é um substituto moderno do alho-porro. Durante as noitadas dos santos populares, é impossível não levar com um martelo na cabeça. Produzem um som próprio e são imprescindíveis entre os foliões.

Gastronomia

Nas grandes noites das festas é tradição comer-se caldo verde com broa, sardinha assada, salada de pimentos e cabrito. De acordo com algumas opiniões, a utilização do cabrito deve-se à presença deste animal nas imagens de S. João, numa alusão ao cordeiro de Deus. É, normalmente degustado no dia 24 de Junho. A sardinha é o prato principal nas três festividades. É mais barata e bastante abundante nesta época.

A SARDINHA QUE PINGA NO PÃO

As sardinhas têm uma forte ligação tradicional com as festas dos santos populares. Em qualquer localidade onde se celebram estas festividades não falta sardinha assada na mesa. Porquê? «Porque é tradição», repete a voz popular. De faca na mão, no pão ou até mesmo à mão, cada um saboreia à sua maneira. Em casa ou nas ruas, todos os locais são pretexto para manter a tradição. E a sardinha é o prato principal. O hábito criou-se, dizem algumas vozes, porque «é barata e bastante abundante nesta época». São, normalmente, acompanhadas com pimentos assados, broa e um bom vinho português. Durante as festas, não faltam barracas de comes e bebes a vender esta iguaria. Nestes locais, as sardinhas são retiradas da grelha ininterruptamente. À espera têm sempre um número elevado de pessoas de prato na mão. A azáfama verifica-se, igualmente, em vários postos de venda. Nos mercados, peixarias ou em pequenos supermercados é grande a corrida à sardinha. Em certos casos, com alguns dias de antecedência de forma a encontrar as melhores ao melhor preço. Na altura da compra, é necessário fazer uma seleção cuidada, porque nem todas estão em condições perfeitas para serem degustadas. As sardinhas não devem ser grandes nem pequenas. Segundo alguns especialistas, «as médias são as melhores».

O tamanho é importante, no entanto, para se realizar uma “boa sardinhada” é preciso ter em atenção a outras características. As sardinhas devem estar muito brilhantes, rijas, ter o olho vivo e não apresentar a cabeça manchada de sangue. Depois, o assador deve estar prevenido com cinzas ou com areia, de forma a apagar a chama, que eventualmente se forma com a gordura das sardinhas. Por fim, é apreciar com a alegria natural que o momento recomenda!

COMÉRCIO DE RUA ONDE TUDO SE ENCONTRA

As festas populares, para além de atraírem a atenção da população local, cativa ainda milhares de turistas vindos de vários pontos do país e inclusive do estrangeiro, com destaque para a vizinha Espanha.

E é nesta época do ano, que os comerciantes tentam combater a crise e vibram com o possível aumento das vendas e dos lucros. Existem negócios para todos gostos. A expectativa é sempre a mesma: «que este ano seja melhor do que no ano anterior». Vendedores ambulantes, tendas de artesanato, carrosséis, lojas, cafés, restaurantes, tasquinhas de comes e bebes, roulottes de farturas e doces. Todos aproveitam estes dias de festa para conseguir «um dinheirinho extra».

E neste período, não são só os locais a participar no evento, existem muitos trabalhadores e comerciantes vindos de outras cidades à procura de melhorar o seu negócio. Outros, com tenda montada há vários dias, deslocam-se propositadamente de países africanos e asiáticos.

Percorrendo as ruas engalanadas, tudo se encontra. Roupa, sapatos, doces, farturas, febras, sardinha assada, pão com chouriço, manjericos, tapeçarias, bordados, óculos de sol e relógios, entre outros.

A CORRIDA ÀS BIFANAS E AO PÃO COM CHOURIÇO

Numa festa repleta de tradições, das quais se destacam os manjericos, os martelos, o alho-porro, os balões, os fogos de artifício, as sardinhas ou a farturas, as bifanas e o pão com chouriço têm ganho, nos últimos anos, papel de destaque nas festividades.

Ao longo de vários dias, posicionam-se nos locais com mais corrupio e comercializam estas iguarias, que fazem as delícias de milhares de foliões. Em certos momentos, as pessoas enfrentam filas no intuito de saborear uma bifana ou um pão com chouriço.

Nas noitadas, mesmo no final, quando já vai alta a madrugada é comum assistir-se a um movimento de foliões em direção a estes locais, procurando confortar as barrigas para um merecido descanso. Este sucesso «deve-se ao fabrico de pão tradicional, cozido a lenha», dizem os comerciantes.

MAIS UMA VOLTA, MAIS UMA VIAGEM

As festas populares são vividas com animação e um pouco por todo o lado não faltam atividades e divertimentos para todos os gostos. Os carrosséis são normalmente muito procurados. «Mais uma volta mais uma viagem» é uma das frases mais ouvidas, como que a chamar os presentes para uma aventura de sensações e adrenalina.

Os carrinhos de choque são os mais tradicionais e que reúnem maior consenso. Compram-se as fichas e o corrupio de entrada e saída é uma constante.

A pista é um local de encontros radicais que terminam invariavelmente em choques frontais. A “corrida” é, também, aproveitada pelos rapazes para realizarem abordagens a raparigas solteiras. Mas existem outros carrosséis também muito procurados como a montanha russa, a casa
assombrada ou a roda gigante.
Há locais (diversões) apropriados para crianças, com sons agradáveis, onde os animais ou os carros se assumem como meios de transporte. Os mais pequenos experimentam e gostam. Difícil mesmo é abandonarem o entretenimento.
Outros preferem enfrentar medos maiores e buscam carrosséis mais radicais que circulam a velocidades alucinantes ou que alcançam alturas assombrosas. Há para todos os gostos e idades. O que importa mesmo é a diversão.

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