Opinião

Perspetiva Zero: Liberdade

Integrada na Licenciatura em Ciências da Comunicação da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da UCP -Braga, a disciplina de Fotojornalismo, a meu cargo desde 2010, tem procurado dar expressão pública aos trabalhos realizados no 2o ano do curso. Procuramos treinar o olhar e ativar a curiosidade dos estudantes, convocando-os a construir pequenas peças jornalísticas ilustradas com fotografias da sua autoria. Este ano, pela primeira vez, estamos consigo, na MINHA. Terminado o semestre, tivemos o simpático convite para…CONTINUAR! E cá estamos, agora chamando mais voluntários, mais gente gira, como a Mariana Tavares, Mariana Lopes, Bárbara Lima e a Francisca Gomes, alunas finalistas, para além do Ricardo Faria Ferreira e da Joana Rebelo, do 1.o ano, e Rafael Henriques, aluno de Intercâmbio “Erasmus”, que acompanham os residentes, Inês Neves e Diogo Ribeiro. Estamos muito felizes com esta oportunidade e esperamos que gostem. Agradecendo a coragem de quem tão bem nos acolhe, somos CC. Assumimos o projeto Perspetiva ZERO – porque estamos a começar.

Luísa Magalhães

Professora Auxiliar

Mariana Sousa Lopes

Entre desconfinamentos e confinamentos, novas regras e evolução da pandemia, uma das frases mais vezes repetida foi “não temos liberdade”. Não banalizemos o conceito de liberdade, pois tivemos direito e liberdade para pensar, dizer e sentir o que cada um de nós quis e quer.

Apesar das diversas críticas, a comunicação social é um aliado essencial para o combate à pandemia, desde sensibilização à informação dada a cada cidadão. O jornalismo consegue mudar mentalidades e formar a sociedade, segundo do Código Deontológico do Jornalista, com rigor e exatidão. A liberdade de imprensa só surgiu em Portugal no dia 25 de Abril, sem qualquer censura.

Ao longo dos anos, as redes sociais têm-se tornado ferramentas importantes para a sociedade e modificado a esfera pública. Com as mesmas, cada um consegue encontrar um lugar para divulgar a sua opinião, discutir e mostrar as suas ideologias. Apenas se ouvem as vozes livres de cada cidadão, a partir de abril, com a liberdade de expressão.

A Educação é a área mais importante para a evolução e transformação de um país. Portugal conta com uma grande oferta de ensino público, segundo estudo da PORDATA, em 2019 existiam 1.613.371 alunos a frequentar estabelecimentos de ensino público.

Atualmente, a escolaridade obrigatória é até aos 18 anos para formar os cidadãos nas várias áreas e impedir um abandono escolar. Até à Revolução o trabalho infantil era constante, pois a escolaridade obrigatória terminava na quarta classe, a educação oferecida pelo Estado não era equilibrada nem orientada para formar cidadãos livres.

“Só há liberdade a sério quando houver// A paz, o pão// habitação// saúde, educação// Só há liberdade a sério quando houver// Liberdade de mudar e decidir” Sérgio Godinho.

Ricardo Faria Ferreira

A liberdade vai para além daquilo que entendemos, mais longe do que nós fazemos e, até a um ponto, muito mais longínquo do que pensamos. A liberdade é ter escolha. “Se a liberdade significa alguma coisa, significa ter o direito de dizer às pessoas o que não querem ouvir.” George Orwell.

Todos os dias temos esta falsa sensação do que é a nossa “liberdade”, todos dias pensamos que é poder sair de casa e ir tomar um café ou passear. É errado. A liberdade é tudo e mais alguma coisa acerca do que fazemos ao milissegundo do nosso consciente, os mais pequenos gestos, reações ou até escolha de palavras. Ninguém nos pode tirar esta liberdade por maior opressão que possa existir em qualquer lugar do mundo. A vida é feita de escolhas, dizia alguém, é uma boa maneira de pensar, mas só somos totalmente livres quando deixamos de olhar para trás, quando deixamos as dúvidas pelo caminho.

Fomos criados num lugar magnifico, um lugar onde no seu estado mais genuíno, a única definição possível para o descrever é liberdade. Desde os animais, às plantas, à atmosfera, é tudo um exórdio de possíveis objetos ou seres que só existem porque têm liberdade. Aquilo que nos define é esta pequena questão que por muitos não costuma ser pensada da forma que devia ser pensada, vai muito além de simples problemas sociais ou políticos, vai até ao ponto de cada elemento existente neste universo, está em tudo. A liberdade é a mais pura emoção que pode haver, não a podemos fingir.

Contudo, nem sempre dizemos tudo o que queremos ou sentimos, torna-nos mais interessantes e misteriosos, controlar algo tão puro, é exequível, mas pode deixar marcas. De certeza que existirá uma explicação para isto, por enquanto ficamos com o mistério.

De uma perspetiva exterior, podemos interpretar este conceito de muitas formas, mas estamos a falar de algo omnipresente, isso é extraordinário, não existem muitas mais coisas das quais podemos fazer a mesma afirmação. A liberdade é algo que nos rodeia, é isso que faz dela a incrível, imprescindível e vital sensação que levamos para a vida.

Inês Neves

Quando questionada sobre a sua liberdade e quando esta começou arrisco-me a dizer que entre 80 a 90% da população portuguesa responderá que é, sim, livre e que tudo teve início na fatídica data de 25 de abril de 1974. Errado não está, a famosa Revolução dos Cravos em muito contribuiu para a liberdade do nosso povo em mais do que uma área, contudo, agora com 20 anos de vida em sociedade dou por mim a questionar até que ponto realmente somos livres e deparo-me sempre com a mesma resposta, não tanto quanto pensamos e/ou fazemos crer.

É de discernimento básico e comum que para o bem e para o mal somos livres, desde que haja obediência às leis da região/país/cultura onde nos encontramos, logo por aí posso afirmar que não somos 100 % livres. Para além das leis comuns ainda temos, por assim dizer, as leis sociais e com estas eu nunca me dei muito bem, pois rotulam estilos de vestuário, fala, postura e crenças. São igualmente estas leis que decidiram muito recentemente e muito suavemente que não importa qual o sexo da pessoa com que escolhes envolver-te, o que eu concordo totalmente, mas importa a quantidade. Sim, porque se a minha amiga resolver envolver-se com uma rapariga há que respeitar, há mesmo, mas se eu decidir dormir com dois rapazes numa semana “shame on me”, sou uma oferecida, sou uma fácil, etc… Isto para não usar a “temida” palavra usada para descrever mulheres que prestam serviços sexuais a troco de dinheiro. Incrível como em pleno século XXI esta ainda é uma profissão usada como insulto, na minha humilde opinião seja por dinheiro e/ou prazer é uma profissão como qualquer outra e quem a exerce não tem nada que se envergonhar, tal como quem não a pratica não tem nada de a usar como ofensa ou criticar quem a pratica. Para além destas duas que já nos tem bem aprisionados e com poucas escapatórias ainda existe uma que é bem capaz de ser a pior das três, a prisão que nós incutimos a nós mesmos. Quantas vezes, muito antes de outros terem a oportunidade de nos julgar, já nós o fizemos? Frases como: “Comprei esta camisola ontem, mas faz-me parecer gorda”, “Gostava de falar com aquela pessoa, mas ela vai achar-me estranha” e “Gostava de ir ver aquele espetáculo, mas e se alguém me vê lá?”. Estes, “mas”, estes pré e autojulgamentos são a pior prisão em que alguém se pode meter, é como uma pessoa se prender só pela mera hipótese de que poderá fazer/dizer algo que não deveria.

Estas são as três razões porque eu acredito solenemente que liberdade é mais um conceito do que propriamente uma liberdade, agora cabe a cada um pensar o quão livre realmente é.

Joana Rebelo

Num mundo ideal, liberdade seria ser homem e, mesmo assim, desejar ser profissional de Ballet sem qualquer tipo de barreiras ou julgamentos. Liberdade significaria ser mulher e, mesmo assim, poder rapar o cabelo sem medo que achem que estou numa fase terminal de cancro. Liberdade seria não ter medo de sair à rua sozinha porque há hipótese de ser vítima de assédio sexual ou, no pior dos casos, de ser violada. Liberdade significaria que eu, sendo de cor negra, sairia à rua sem receio de pisar o mesmo chão que indivíduos de cor branca e, mesmo assim, sair ileso. Liberdade seria viver numa sociedade em que usar um estilo de roupa incomum seria algo normal e perfeitamente aceitável. Liberdade significaria que tatuar o meu corpo não me impediria de ser aceite no emprego que tanto ambicionava. Liberdade seria poder expressar-me livremente, sem qualquer tipo de censura ou ridicularização. Liberdade significaria ir ver um jogo à casa da equipa contrária à minha e, mesmo assim, poder usar o cachecol do meu clube sem medo de que me ofendam ou agridam. Liberdade seria puder expressar o meu lado criativo nas instituições escolares, ao invés das mesmas me tentarem transformar num ser humano exato e perfeitamente programado. Liberdade significaria escolher a minha vocação de acordo com as minhas capacidades e segundo os interesses dos meus pais ou avós. Liberdade SERIA… Recentemente, comemoramos mais um ano do memorável 25 de abril, data essa que relembra o quão gratificante é possuirmos liberdade. Sem ela, seríamos seres reprimidos, monótonos e acríticos. Porém, ainda há quem não se aperceba da urgência de se continuar a lutar por este direito inalienável. Neste preciso momento, há situações cruéis a acontecer e cabe-nos a nós denunciar alguma falta de liberdade que permanece tolerável na nossa sociedade.

Rafael Henriques

Desde o ventre materno, sonhamos com a sensação de ser livre e desbravar o que a vida tem de mais belo para oferecer: correr, amar, chorar, sorrir e agir, conforme as leis da nossa natureza.

Atualmente, estamos cada vez mais ligados e globalizados com tudo ao nosso redor, mas, o que de facto é ser livre? Sigmund Freud, médico criador da psicanálise, dizia que “A maioria das pessoas não quer realmente a liberdade, pois liberdade envolve responsabilidade, e a maioria das pessoas têm medo de responsabilidade”. A frase de Freud traz-nos uma reflexão sobre qual o limite da liberdade e quando as nossas escolhas interferem na vida do outro.

Ao longo da história da humanidade, a escravidão e regimes ditatoriais usurparam o direito à liberdade de várias pessoas para suprirem os seus próprios desejos, prendendo ou até mesmo assassinando aqueles que tinham ideias contrárias e, desta forma, anulando o livre arbítrio dos cidadãos. As marcas destes tempos foram irreversíveis e ensinaram-nos a dar mais valor ao que há de mais belo na vida, a sensação de ser livre.

Quanto mais livres, mais entregamos uma parte da nossa segurança?

WhatsApp, Instagram, Twitter e tantas outras redes sociais são a maior demonstração da liberdade que temos atualmente. A possibilidade de estar conectado com o mundo externo a qualquer momento é incrível e algo que só foi possível graças à liberdade de inovação para que as pessoas pudessem desenvolver novas tecnologias ao longo do tempo, porém, ao navegar na internet, é sempre bom ficar atento ao que está a partilhar sobre os dados pessoais e não ter a sua priva- cidade violada.

Ser livre envolve responsabilidade, mas só assim podemos sentir, pensar e agir com a nossa própria opinião. É através da liberdade que somos capazes de expressar muitas coisas que a mente pensa e às vezes a boca não consegue dizer. É importante estarmos em constante evolução, aflorarmos o nosso senso crítico, desmistificarmos verdades antigas e superarmos barreiras para que possamos ser a jovem promessa de um futuro mais próspero e digno para si e para todos. Ponham cravos nos canhões e vamos brindar à liberdade!

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