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António Vilela: “Vila Verde está a crescer como um todo, de uma forma pujante e saudável”

A poucos meses de terminar o último mandato como presidente da Câmara de Vila Verde, António Vilela fala, à Revista Minha, sobre o passado, o presente e o futuro de Vila Verde. Nesta entrevista, aborda várias temáticas, como projetos, a Covid-19, medidas de resposta e as potencialidades de um concelho cada vez mais «dinâmico e atrativo».

Qual o balanço que faz do trabalho já realizado neste mandato?
Faço um balanço, extremamente, positivo. Do ponto de vista da concretização do projeto que pretendia implementar num concelho de referência como Vila Verde, tem sido, efetivamente, um desafio conseguido. Vila Verde conseguiu crescer de uma forma muito harmoniosa em vários níveis, onde destaco a criação de emprego, a reabilitação urbanística, estruturas básicas e criação de riqueza. Hoje, podemos dizer que temos um concelho muito equilibrado no que diz respeito ao seu processo de desenvolvimento. Realço ainda os últimos 3 anos, de grande dinâmica urbanística, com um recorde de projetos, principalmente, em termos de construção unifamiliar. Isto revela grande dinamismo e gera atratividade. Não posso também esquecer que Vila Verde recebeu, nos últimos anos, muito investimento, direcionado da atividade industrial e agrícola.

E ao longo de toda a sua presidência?
Desde o início que foi definida uma estratégia a curto, médio e longo prazo. Em cada uma dessas fases, fomos concretizando os projetos delineados, num planeamento global, sempre focados no máximo rigor. Ao longo destes 12 anos, fomos concretizando os objetivos. E a avaliação que faço daquilo que foi prometido e concretizado é muito elevada, muito próxima dos 100 por cento. E tem sido feito, ainda, um trabalho de base importante, tendo em vista vários projetos que irão ser concretizados nos próximos anos.

Daquilo que foi concretizado, que obra quer destacar?
O processo de restruturação das infraestruturas escolares. Este projeto teve início ainda antes de assumir a presidência de Câmara, quando era vereador da Educação, onde foi feito um plano para reabilitar todos os edifícios escolares e realizar uma reorganização da rede escolar, a terminar em 2015. Foi concretizado, todas as escolas do primeiro ciclo e pré-escolar foram reabilitadas e foram construídos novos centros educativos. Neste momento, em substituição do Estado, estamos a reabilitar as escolas EB 2/3. As obras estão praticamente concluídas e, com isto, ficamos com a rede escolar do concelho toda reabilitada, num processo gradual e contínuo, bem programado e de grande proximidade com toda a comunidade educativa. Isto significa, que as nossas crianças têm, atualmente, acesso a ensino de qualidade. Numa estrutura preparada para enfrentar os vários desafios, desde o pré-escolar ao secundário e profissional. Aproveito também para destacar um programa, que inicialmente, seria em parceria com o Estado, na área dos Cuidados Básicos de Saúde, concretamente nas nossas extensões de saúde. E foram todas reabilitadas. Uma delas entrou em funcionamento em dezembro de 2020 e a última está em processo de análise de propostas. Com isto, toda a estrutura de Cuidados Básicos à população fica em edifícios remodelados e com excelentes condições para os profissionais e utentes. A estes exemplos, acrescento outros como os planos municipais de saneamento, água ou mobilidade e trânsito. Tudo isto, gerido com fundos comunitários, que fazemos questão de aproveitar ao máximo, e ainda, de acordo, com a disponibilidade financeira do município.

«Vila Verde olhou, desde o primeiro dia, para a Covid-19 de uma forma muita séria. E procurou rapidamente articular-se com a estrutura de saúde local»

O que tem feito a autarquia para minimizar os danos provocados pela Covid-19?
Vila Verde, desde o primeiro dia, olhou para este problema de uma forma muita séria. E procurou rapidamente articular-se com a estrutura de saúde local. Foi dos primeiros concelhos que conseguiu adquirir logo de base, materiais e equipamentos individuais e distribui-los junto dos profissionais e das unidades de saúde, mas também em lares. Depois, criamos medidas internas e externas de auxílio à população, desde logo um gabinete de apoio com psicólogo, com linha direta, geramos também, em articulação e análise com as juntas de freguesia, uma estrutura no terreno com apoio domiciliário, que incluiu acesso a receituário e alimentos às pessoas mais isoladas ou com maiores dificuldades, como os idosos. Temos conseguido fazer um trabalho de proximidade. Gerimos, ainda, da melhor forma, a questão da realização de testes e conseguimos, em articulação com os profissionais de saúde e a Universidade do Minho, realizar, em tempo útil, os testes necessários. Atualmente, temos duas instituições no concelho a efetuar testes e o próprio município dispõe de um conjunto de testes rápidos para despistar e socorrer qualquer situação de emergência.

«Vila Verde está a crescer como um todo de uma forma saudável, graças à capacidade empreendedora de portugueses, mas também de muitos vilaverdenses que conseguiram criar empresas com vocação exportadora e em crescimento»

Como vê, atualmente, o concelho de Vila Verde?
Há uma grande diferença entre o que era Vila Verde há uns anos atrás e o que é, atualmente. Antes, víamos a nossa agricultura e o nosso território quase abandonado. E, hoje em dia, assistimos a uma atividade agrícola em crescimento e, sobretudo, restruturada. Em determinado período, muitos produtos deixaram de ser rentáveis, mas rapidamente, houve um ajustamento que levou inclusive à criação de novos empresários e empresas agrícolas que se adaptaram aos tempos. Atualmente, somos o concelho com mais jovens agricultores e aquele que tem o maior número de explorações de pequenos frutos, ao qual já se associaram duas unidades de comercialização para o exterior, com grande impacto na economia. A nossa vinha também foi restruturada e, hoje em dia, temos grandes unidades de produção, inclusive com vinhos reconhecidos e premiados. Destaco também uma unidade de queijo artesanal, medalhada em vários anos consecutivos, com o melhor queijo do mercado para consumo. Não posso esquecer o turismo e o alojamento, onde houve um crescimento exponencial. Neste ponto, realço a unidade Torre de Gomariz, um hotel de referência, considerado dos melhores do mundo e muito procurado para turismo rural. A nível industrial, o concelho possui uma rede muito diversificada, capaz e competitiva. E o concelho continua a receber muitas unidades industriais e de grande porte, isto significa que está a gerar atratividade ao investimento. Em traços gerais, Vila Verde está a crescer como um todo de uma forma saudável, graças à capacidade empreendedora de portugueses, mas também de muitos vilaverdenses que conseguiram criar empresas com vocação exportadora e em crescimento. Apesar da crise e de toda esta retração na economia, tirando alguns casos particulares de pequenos negócios, o concelho de Vila Verde continua a receber grandes investimentos associados a grandes projetos com caraterísticas nacionais e internacionais.

O que o concelho tem para oferecer aos visitantes?
Tem muito para oferecer. As pessoas são o seu bem mais precioso. Os vilaverdenses são trabalhadores, afáveis e muito acolhedores. Depois, temos um território diversificado, com paisagens belíssimas e com caraterísticas e potencialidades muito próprias. Na parte Norte, destaco os trilhos e o contacto direto com o ambiente. Na zona sul, relevo o potencial dos nossos rios e das nossas praias fluviais. Depois, não posso esquecer a excelência da nossa gastronomia e dos nossos restaurantes. Para além de projetos de turismo rural, cerveja artesanal e chocolate, e o ambiente saudável que Vila Verde apresenta.

O antigo edifício da Adega Cooperativa de Vila Verde será transformado num Centro de Artes e Espetáculos, a “Adega Cultural”. Que dinâmica trará este projeto a ao concelho?
Este novo equipamento, irá dispor de uma área coberta de 7000m2, que permitirá a criação de espaços expositivos, espaço museológico/artes, mercado de produtos tradicionais: agrícolas e artesanato, espaço de eventos e espetáculos, espaços para empresas e espaço multiusos dotado de instalações de apoio. O objetivo é que aquele edifício sirva como “porta de entrada” para o parque verde do centro urbano de Vila Verde, que incluirá equipamentos de desporto e de lazer. Está enquadrado na requalificação de toda a área envolvente, criando ali uma nova centralidade para a vila. Estes projetos perpetuam e solidificam a identidade cultural do concelho, fortalecem a imagem positiva de Vila Verde no exterior, divulgam e promovem as inúmeras potencialidades do território e alavancam o turismo e a economia local.

Outro projeto é o Centro de Promoção da Gastronomia e Ciências Gastronómicas de Vila Verde que permitirá a reabilitação do edifício da Antiga Escola Primária de Vila Verde. Que mais valias conduzirá ao concelho e à região?
Este projeto da Câmara Municipal, cofinanciado por fundos comunitários, permitiu criar um ambicioso plano de reabilitação urbana que representa uma mais valia para o território, com capacidade para atrair pessoas e catalisar o comércio e os serviços A singularidade da nossa gastronomia reclamava este investimento. Vai atrair novas perspetivas de valorização e de projeção de uma riqueza ancestral inestimável. Este Centro de Promoção da Gastronomia terá um espaço destinado a investigação e à confeção de alimentos, salas de formação, espaços polivalentes de provas e toda uma área exterior requalificada, que permitirá a realização de vários eventos

Como é que Vila Verde se encontra em termos de comércio tradicional?
Está com muita vitalidade. Destacam-se pela quantidade e diversidade. E continua a crescer. Isto significa, que há muito potencial económico em Vila Verde. A juntar a tudo isto, temos uma mão-de-obra empreendedora, capaz e qualificada.

«Este ano, a iniciativa “Mês do Romance” terá um programa muito reduzido e será transmitido por meios digitais»

E em termos culturais?
Procuramos ter uma agenda cultural diversificada ao longo do ano e que possa manter o concelho ativo. O último ano, devido às circunstâncias que conhecemos, foi atípico para a cultura e, 2021, perspetiva-se idêntico. Por exemplo, em fevereiro, “Mês do Romance”, normalmente, são promovidas mais de uma centena de iniciativas. Este ano, estamos condicionados e será um programa muito reduzido, realizado, essencialmente, via online. Um deles é a Gala que será transmitida por meio digital. Não haverá jantar, nem público a assistir ao desfile. Tudo será transmitido online. Em termos de infraestruturas culturais, destaco ainda a Academia de Música de Vila Verde que, para além de promover o ensino de música aos nossos jovens, alguns deles com grande reconhecimento internacional, é também um parceiro em vários eventos.

O que tem sido desenvolvido pela autarquia para fomentar a prática desportiva?
Em termos desportivos, temos feito uma aposta, essencialmente, no apoio à formação. Criamos uma rede de recintos desportivos e de qualidade, que pudessem satisfazer os interesses da população. Existem várias estruturas desportivas, desde campos de futebol 7, futebol 9 e futebol 11, com relvados sintéticos. Existe também um conjunto de pavilhões desportivos e clubes representativos do concelho com uma grande dinâmica desportiva. Destaco, obviamente, a canoagem. Em Vila Verde, temos muitos praticantes desta modalidade, muitos deles premiados a nível nacional e internacional. Alguns, inclusive, com participações nos Jogos Olímpicos. E, em parceria com o Município, foram organizados de forma exemplar, na vila de Prado, os maiores eventos de canoagem, nos últimos anos, como o Europeu de Maratona, a Taça do Mundo e o Campeonato do Mundo. São eventos que nos orgulham e que elevam o nome de Vila Verde.

«Para mantermos os jovens, temos, também, de manter as famílias. Temos direcionado políticas e criado infraestruturas de apoio para que todos se sintam bem»

O que tem sido feito para manter os jovens no concelho?
Para mantermos os jovens, temos, também, de manter as famílias. Temos direcionado políticas e criado infraestruturas de apoio às famílias para que elas se sintam bem. Para que possam ter acesso a uma educação de qualidade, mas também à saúde, à prática desportiva, a formação profissional, musical, entre muitas outras modalidades. E, principalmente, para que possam ter acesso a emprego. É fundamental, mas precisamos de gerar investimento, atratividade e riqueza. E isso tem sido conseguido. Entre várias medidas, realço o valor do IMI no escalão mais baixo possível. Temos preços justos e competitivos em serviços de água, recolha de resíduos sólidos urbanos, saneamento, entre outros. Outro incentivo que destaco é o facto dos jovens com menos de 35 anos que queiram construir casa em Vila Verde, não pagam taxas urbanísticas, ou seja, licenças de construção. Devido à realidade atual que vivemos, existem também apoios às empresas, para todos os investimentos no concelho nas áreas do turismo, agricultura e florestação, ficando isentos do pagamento de taxas urbanísticas. O mesmo sucede nas indústrias, se cumprirem um conjunto de requisitos mínimos, fáceis de atingir em termos de empregabilidade e investimento. As famílias e os jovens têm, portanto, muitas e boas razões para se fixarem no concelho.

Quais são as áreas geográficas que mais o preocupam?
Do ponto de vista da desertificação, a parte Norte do concelho tem vindo a perder muita população. É uma área com caraterísticas diferentes, mais montanhosa e mais afastada das zonas urbanas, sobretudo da nossa ligação com Braga. Estamos a tentar combater isso, com a construção de infraestruturas, capazes de captar o interesse da população, dando-lhes melhores condições em determinadas áreas. Uma delas foi a requalificação da Unidade de Saúde de Portela do Vade que reabriu recentemente. Temos também bons equipamentos sociais, como lares, centros de dia e apoio domiciliário. Para além disso, estamos a tentar encaminhar alguma indústria para Norte e temos conseguido. Por exemplo, o parque industrial de Geme está completamente cheio e estamos a tentar ampliar esta área. Também criamos uma rede de espaços do cidadão que prestam diversos serviços à população, essenciais para o seu quotidiano. É muito importante ainda criar uma rede de transportes públicos mais eficaz. Está a decorrer um processo de concurso, através da Autoridade Municipal de Transportes, estando em fase final, que irá permitir uma grande regularidade dos transportes públicos, com preços muito baixos.

Cumpre o seu último mandato como Presidente da Câmara de Vila Verde (faltam alguns meses para as eleições autárquicas). Já começou a pensar no que irá fazer?
É uma questão que não me preocupa. A minha intenção, por agora, é levar este último mandato até ao fim, cumpri-lo com o máximo de rigor e esforço, e efetuar aquilo que prometi aos vilaverdenses.

Desde que é o Presidente da CM de Vila Verde, qual foi o momento mais marcante que viveu?
Foram vários. Pela negativa, foi não ter conseguido que o Poder Central tivesse executado a variante com ligação à Estrada Nacional 101. Continua a ser um sonho. Outra mágoa é, também, não ter conseguido a ligação a um nó da A3, na freguesia da Lama, no concelho de Barcelos. Seriam obras fundamentais para promover esse crescimento que queremos na zona Norte. Pela positiva, destaco uma obra, que irá iniciar ainda este ano, uma ligação estruturante que será uma alternativa ao percurso pela N101, que é uma via nascente que ligará o Norte e o Sul do concelho. Outra obra que também está definida a breve prazo, é a construção da estrada entre a rotunda da EN 201, na Vila de Prado e o Parque Industrial de Oleiros, com ligação rápida ao centro urbano de Braga. Depois, tivemos o prazer de concretizar outros projetos que melhoraram a qualidade de vida das pessoas, como a requalificação total dos edifícios escolares, uma rede enorme de equipamentos desportivos, a conclusão da rede de cuidados básicos de saúde ou a distribuição de água em casa de milhares de pessoas. Depois, conseguimos gerar um concelho atrativo, com uma marca muito própria. Os produtos “Namorar Portugal” são reconhecidos e estão presentes em, praticamente, todos os cantos do Mundo. São um verdadeiro cartão de visita.

Alguma vez pensou chegar a presidente de Câmara?
Nunca tive esse objetivo. Aquando da saída de José Manuel Fernandes para assumir uma candidatura a deputado do Parlamento Europeu, eu era vice-presidente do município e foi-me proposto esse desafio, que aceitei com muita honra e total compromisso.

Quais as referências políticas que tem?
Sempre fui um Cavaquista convicto. Fui mandatário em todas as candidaturas de Cavaco Silva à presidência da República e seu apoiante em todas as eleições legislativas. É um homem pragmático que conseguiu maiorias absolutas e conduziu o país, com dever patriótico e com governações marcantes.

Tem hobbies? Como passa o seu tempo livre?
O principal hobbie é trabalhar (risos). Faço jus ao pensamento “Escolhe um trabalho de que gostes e não terás que trabalhar nem um dia na tua vida”. Mas também gosto muito de jogar futebol, coisa que não tenho feito no último ano, devido à pandemia. Quando era mais jovem, pratiquei atletismo e tive algumas incursões pelo teatro. Gosto muito de viajar e conhecer, principalmente, Portugal. E adoro entreter-me na minha pequena atividade agrícola.

E lemas de vida?
Praticar sempre o bem e ajudar, dentro do possível, as pessoas.

«Os vilaverdenses são pessoas humildes, talentosas, empreendedoras, valentes e capazes de mover o mundo»

Que mensagem quer dirigir aos munícipes do concelho de Vila Verde?
Quero endereçar uma mensagem de esperança. Estamos a viver um momento difícil e que exige de cada um de nós muita determinação, responsabilidade e força. Todos temos várias dificuldades pela frente e gostaria de deixar uma palavra de grande coragem e ânimo para todos. Os vilaverdenses são pessoas humildes, talentosas, empreendedoras, valentes e capazes de mover o mundo e estou convicto que serão capazes de vencer este desafio.

Para terminar, qual seria a palavra que escolheria para o definir?
Cumpridor!

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