A notícia chegou em plena reunião matinal: Luis Sepúlveda faleceu, vítima de COVID-19. O escritor tinha estado recentemente em Portugal no emblemático encontro “Correntes d’Escritas”, pelo que a notícia do seu estado correu país de norte a sul. Depois de algumas informações contraditórias e algum silêncio, parecia que o pior teria passado…
Penso que a melhor forma de homenagear alguém que já não se encontra entre nós é fazer com que a sua memória viva permanentemente no nosso coração. Luis Sepúlveda era um escritor e viverá sempre nos livros que escreveu.
Autor de dezenas de obras, entre elas destaca-se, para mim, a “História de uma gaivota e do gato que a ensinou a voar”, incluída no nosso Plano Nacional de Leitura. Li-a já adulta e, à semelhança de outros livros direcionados para um público mais jovem, marcou-me bastante. As histórias infantis têm o condão de nos fazer viajar no tempo, recordando uma altura em que tudo era mais simples, mais ingénuo e mais puro. Os livros infantis existem para nos lembrarem também que ainda temos dentro de nós a capacidade de ver o mundo com umas lentes mais coloridas.
“História de uma gaivota e do gato que a ensinou a voar” conta-nos as peripécias de um gato que ficou responsável por criar uma gaivota bebé. O primeiro desafio? Não a comer o ovo… Provação ultrapassada, vamos a mais uma: criar a gaivota e ensiná-la a voar. Mas o que sabe um gato sobre penas e voos?
O livro conta-nos a história de uma amizade – que é muito mais do que uma amizade – entre dois animais completamente diferentes. Fala-nos de capacidade de superação, de contrariar instintos primários e daquilo que somos capazes de construir quando nos unimos. “História de uma gaivota e do gato que a ensinou a voar” é um hino à amizade assente nos princípios básicos que devem pautar sempre esta ligação: honra, cooperação, solidariedade, entrega e até abdicação.
Obrigada ao Luis por nos ter deixado uma obra – entre tantas outras – capaz de nos afastar, mesmo que apenas por momentos, dos vícios do tempo. Obrigada ao Luis por nos fazer ver que um dos tesouros mais preciosos que podemos ter é alguém que está ao nosso lado e nos entregou o seu coração de bandeja. Obrigada ao Luis por nos mostrar que é nosso dever acolher e aconchegar esse coração como se fosse nosso. Obrigada por este e por tantos outros hinos à amizade.
Que descanse em paz.
Flávia Barbosa
Diretora de Informação
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