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Braga volta a falar de música

Chama-se “Falando de Música” e promete contar muitas histórias através de concertos comentados. Executado pela Sinfonietta de Braga, numa parceria com o Município e enquadrado no programa “Descentra”, o projeto tem sido um sucesso, levando a música erudita a várias áreas da cidade, mesmo as mais periféricas. Agora há mais um ciclo de concertos prestes a chegar!

“Vítima da crise da modernidade, a sociedade civil viveu, ao longo do último século, uma distanciação das artes consideradas eruditas, até então sempre acessíveis a todos os públicos. Fazendo justiça ao manifesto da sua fundação, a Sinfonietta de Braga pretende desenvolver um papel ativo e dinâmico na promoção cultural da região onde floresce”, afirma Paulo Morais, Diretor Artístico da Sinfonietta de Braga.

A Sinfonietta quer, assim, divulgar uma programação musical que também abarque os valores da Associação, de forma a reanimar a arte musical sem, no entanto, “falsear o seu entendimento”, como sublinha Paulo Morais.

“Com a duração total de uma hora, sem intervalo, estes concertos articulam-se como um tríptico: nos dois primeiros quadros, uma camerata de músicos profissionais naturais da região pintará, com o maior carinho, as histórias que estão na raiz de duas obras chave da música para cordas. Na terceira imagem, a mesma camerata acompanhará uma soprano a solo num dos ciclos de canções mais emblemáticos da cultura ocidental. Por fim, como já é habitual, o nosso fiel público será brindado com uma ária de ópera”, explica.

Os concertos têm a duração de uma hora, sem intervalo, e Paulo diz que têm muitas histórias para contar, dando a conhecer algumas das criações mais famosas da História da Música. 

“Os sons da orquestra são mágicos e bem capazes de nos elevar numa viagem magnífica”, conclui o Diretor Artístico.

“O espetáculo proporcionado pela Sinfonietta de Braga na igreja paroquial de Crespos, foi, antes de mais, um evento arrojado e pioneiro na freguesia. Pela primeira vez foi realizado um Concerto de Música Clássica em Crespos  tendo-se verificado uma adesão surpreendente por parte da população. Foi um momento único e envolvente. As pessoas deixaram-se levar pelas interpretações musicais criando um ambiente espetacular.”

Como “em equipa que ganha não se mexe”, a soprano convidada volta a ser Rita Duarte Morais, licenciada em “Música – Canto”, pela Escola Superior de Música, Artes e Espetáculo (ESMAE) do Porto. Rita começou os estudos musicais com seis anos no Conservatório de Música Calouste Gulbenkian de Braga na classe de viola de arco, onde concluiu o VIII grau. Paralelamente, estudou harpa e canto lírico a partir de 2010. Atualmente é aluna do Mestrado de Interpretação em Lied “Victoria de Los Ángeles”, na Escola Superior de Musica de Catalunya, em Barcelona.

“Para mim, colaborar no «Falando de Música» com a Sinfonietta de Braga consiste numa forma de voltar às origens geográficas e familiares, associando a arte à amizade! Trata-se de poder trazer e divulgar o estudo, o meu trabalho, o que a música me ensina e enriquece! Na verdade, o «Falando de Música» valoriza competências artísticas experimentadas fora de Portugal, projetando-as na minha inesquecível cidade de Braga”, explica a solista.

Rita considera essencial levar a música a todo o tipo de público, desmistificando a ideia de que a música erudita se destina apenas a elites, a determinadas classes socais e a grandes cidades e teatros. A ideia do “Falando de Música” é precisamente a contrária, daí grande parte dos concertos acontecer em freguesias não centrais.

“Além disso, este projeto está sempre associado ao facto de trabalhar entre amigos: o melhor ambiente para desenvolver o profissionalismo e a dedicação que esta profissão nos exige. Apesar de solista, no «Falando de Música» não sou a diva, sou um motor da equipa. É um trabalho que só é possível com o contributo de cada um, reconhecendo o valor pessoal e artístico de cada elemento do grupo”, explica.

No ano em que Braga assume a responsabilidade de Capital da Cultura do Eixo-Atlântico, Rita Morais diz que a escolha das “Seis Canções Portuguesas” de Ernesto Halfter não é inócua: pretendem celebrar a herança cultural que é comum à península.

“Halfter, um dos elementos do «Grupo de los Ocho de Madrid», viveu uma parte significativa da sua vida em Portugal ao lado da pianista portuguesa Alicia Câmara dos Santos, com quem casou. É neste contexto que nascem obras como a Canção de Berço e a Rapsodia Portuguesa para piano e orquestra, inspiradas no folclore popular português, e ainda este ciclo sobre poemas tradicionais compilados por Alexandre Rey Colaço na sua antologia Cantigas de Portugal”, afirma.

A soprano não poderia estar mais feliz com a aceitação por parte do público em relação ao “Falando de Música”, dizendo que é gratificante a forma como têm sido recebidos e que denota muito carinho e atenção, fazendo todos os envolvidos sentir que realmente há algo de muito grande na música.

rita-morais-revista-minha“Um valor cultural capaz de chegar ao público e que este demonstra capacidade de receber! Lembro que em Portugal ainda há muito trabalho a realizar neste sentido. Vejo que este é um processo que requer tempo, mas considero que está muito nas nossas mãos tentar conduzir dessa mudança!”, remata.

O compositor Nuno Jacinto também volta a comentar os concertos e não esconde a felicidade por fazer parte do projeto, elogiando a “qualidade artística excecional” da Sinfonietta de Braga.

“Como comentador, a minha tarefa é aparentemente simples e hercúlea, pois significa desafiar o ouvinte a um pequeno jogo de fingimento: incorporar emoções e sensações dos criadores de outrora e relacioná-las subjectivamente, fazê-las suas. Imaginar ser transportado para outros tempos, para outras geografias, num ambiente confidente, descontraído e enriquecedor”, explica.

Para Nuno, só será possível apreciar e desfrutar da música através de um “perfeito silêncio interior”, o ingrediente essencial na procura de sentido numa linguagem abstrata, mas que tem a capacidade de transformar quem a experimenta.

“Ter conhecimento sobre o compositor e o seu tempo, a circunstância da composição e construção arquitectural da obra, aproxima-nos desta arte, torna-nos testemunhas e cúmplices, torna a música verdadeiramente de todos”, sublinha.

Uma das freguesias que volta a receber um concerto comentado é a de Crespos e Pousada. O Presidente da Junta da União de freguesias de Crespos e Pousada, José João Correia, não poupa elogios ao evento, sublinhando o aplauso efusivo do público, em pé, na anterior edição.

“O espetáculo proporcionado pela Sinfonietta de Braga na igreja paroquial de Crespos, foi, antes de mais, um evento arrojado e pioneiro na freguesia. Pela primeira vez foi realizado um Concerto de Música Clássica em Crespos  tendo-se verificado uma adesão surpreendente por parte da população. Foi um momento único e envolvente. As pessoas deixaram-se levar pelas interpretações musicais criando um ambiente espetacular”, explicou, acrescentando que todo este entusiasmo se revelou o tónico necessário para a realização de novo concerto.

 

 

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