Conto

Capítulo VIII: Pés de Goma

“Gonçalo, há meses que não te vejo e não estou a saber lidar com tanta ausência, mesmo que nunca te tenha tido realmente. Na verdade, parece que sempre estivemos juntos, é isto o que eu sinto. E sinto-o de uma forma que não encontra justificações, talvez porque não haja razões para tudo. E só. Só, porque sim. Quiçá as coisas não precisem de tudo provado, e para mim és um desentendimento de tudo o que parece certo. És um sentido que eu não tinha na minha vida, és um porto seguro onde eu quero construir casa. E podia até inventar cores para sermos um arco íris. Mas percebe. Nada do que possa acrescentar agora é um cliché, penso, deveras, que ele não existe no que respeita ao amor, pois tudo lhe dá mais volume, e tudo lhe adiciona. Tudo é possível dizer-lhe quando ele se apresenta, e tudo não é excessivo ou incoerente.

Desde que te vi, o meu coração passou a ser teu, chegaste para me fazer acreditar num sentimento que julgava perdido no oceano, chegaste para me ensinar a não ter medo de amar mesmo que no fim eu me afogue, e tu não sejas capaz de me salvar. E, mesmo que isto seja só um sonho, quero que saibas que o meu amor por ti está a multiplicar-se, e que o meu coração tem todos os quartos para tu dormires. És para mim, um universo a explodir as coisas mais bonitas dentro dele.

No dia em que me cruzei contigo, o mundo nunca mais teve a mesma cor, cheiro ou paladar. No dia em que chegaste eu nunca mais fui igual. E ainda bem. E se o amor for só para te ver e não te ter, eu estou disposta a amar-te. Estúpido, não é? Mas tudo renasceu contigo. O meu mundo é o teu. Acho que este amor por ti não vai conseguir extinguir-se, acho mesmo que ele nunca vai parar de crescer cá de dentro, onde o coração não tem menos que amor. Posso não te ter, mas já gosto de ti como se da minha vida fizesses cor.

Serás sempre algo para mim. Algo de especial. Alguma coisa que não sei explicar. E nos dias em que as pessoas se chegam a mim a questionar-me como estou, eu não consigo dizer-lhes aquilo que sinto e que queria que ouvissem. Só queria expressar o que me desacelera e me deixa insana. Afinal, a verdade é merecedora de um lugar sublime e distinto. Queria ter-te para mim. E, acredita, eu sou altruísta, mas quando te vejo isso muda. Não sei ao certo o que se passou, não consigo olhar para ti e sentir menos que amor, e não sentir um terramoto de purpurinas coloridas.

E, um dia, mesmo que eu continue só dentro de um sonho, sou eu a chegar para te levar a casa. E, mesmo que toda a gente te odeie, por um motivo qualquer, eu vou amar-te o suficiente para compensar toda a gente. Pois, quando te rires, eu rio. Mesmo que tu chores, eu choro. Mesmo que só cantes, eu canto. Porque sim, e porque o não, aqui, não tem lugar. É algo extraordinário e bonito demais para ser segredo. Não achas?! E se eu tivesse definição para a palavra magia, talvez fosses tu. Gonçalo. E, mesmo que nunca mais te veja, que percebas que sou grata por me teres introduzido algo tão enorme quanto o amor. Camila”

Enfim, o amor é tanto que onde tem pouco já é muito. O amor é tornar as coisas simples em grandes gestos. Camila sentia que estava a entrar dentro de um amor e agora ele desapareceu? A vida por vezes é um desencontro, mas espero mesmo que estes dois não vivam num desencontro constante.

Camila, depois de Gonçalo lhe ter oferecido aquele papel que virou sol num dia de chuva, pensou que a melhor forma de lhe agradecer aquele gesto, dadas as circunstâncias, seria traduzir-lhe em palavras o que estava a vivenciar e começou a plantar aquele sentimento numa folha.

(a próxima edição continuará a acrescentar confettis de amor a esta história).

Juliana Gomes, escritora
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