Conto

Capítulo II: Panóplia de emoções

“Pronto, mais uma história que estaciona dentro de um filme!” – frases como esta são as ditas normais. Mas, não vamos cair no erro de fazermos um julgamento precipitado. Deixem-se embrulhar e vão compreender a força do amor. Ele, já homem, estacionava ali, quase que dava para se beijarem só de se olharem. Iniciaram-se com uma troca de olhares envergonhada, um desviava o olhar, enquanto o outro fugia para se encontrar.

À medida que a viagem ia dando lugar a um encantamento sublime, Camila descrevia aquele ser numa suave prosa. Eu, que os vejo de fora, juro que parecia que o sol nascia dentro dos seus olhos, diria que a luz daquele dia tinha nascido ali.  E, no meio da multidão, Camila conseguia sempre arranjar um espaço para se fazerem cruzar, pois cada paragem nos diferentes apeadeiros significava a entrada de mais pessoas. Era impossível não se sentir o toque do que estava a florir, como se a presença dos outros fossem flores.

A determinada altura, Camila liberta um sorriso inquietante e indisfarçado, e só pensava – “Estas coisas não acontecem comigo!”. E, ficaram ali, numa conjugação inocente que inicia uma qualquer coisa (ainda) sem definição. Apesar de incomodada, só pedia para que aquele ser bonito aos seus olhos não saísse antes dela. Começaria a vida de Camila, a partir dali, a ter mais cheiro de primavera?

Chegando ao Porto, e sem mais nenhuma estação para continuar, ambos saíram. Porém, seguiram caminhos distintos. Camila foi para norte e aquele ser desconhecido foi para sul. Ela, até já não ser possível, ia olhando para trás sem hesitação, como se aquele gesto a levasse a andar para a frente. Os dias foram passando e passando, já eram a soma de muitos, e, Camila, foi-se desamarrando daquela visão, não voltando a pensar no assunto de uma forma presente, ia só imaginando como seria se o voltasse a encontrar. Uma imaginação pouco confiante. Talvez até pensasse todos os dias a partir dali, mas não o manifestava. Traduzia, apenas, um sorriso suave de uma paixão injustificável.

Mas, talvez. Talvez ela estivesse a alimentar a ervilha do amor dentro de si, em que a bactéria do mesmo não se deixa dormir. Mais um dia acontecia e, Camila, à espera do comboio para regressar a Braga, começa por ouvir que há um atraso na chegada do mesmo por motivos que não foram explícitos. As pessoas começaram a reclamar e a falar alto. Camila, de pé, a aguardar pelo comboio que se tinha atrasado, já impaciente, começa a caminhar pela estação. Dá voltas e voltas, olha o relógio, ouve música, lê uma página do livro e senta-se.

Senta-se e aquele banco já tinha duas pessoas a fazer-lhe companhia. Camila, no jeito de se sentar, olha para o seu lado direito, e a segunda pessoa que estava nele era a visão mais bonita do seu universo. Era ele! Oh meu Deus! Era ele que estava ali, a uma distância de nada para se enlaçarem. Camila tentou esconder aquele sorriso que lhe estava a querer explodir da cara. E, num vibrar do coração, que lhe agita o corpo todo, evitou ser tão transparente e palpável. “Camila, já todos percebemos que há um contágio de borboletas coloridas nesse coração, agora não achas que podes usar palavras para uma primeira abordagem? Sabes que os sorrisos são uma receita maravilhosa, mas quer dizer, um coração falante dá para mudar a cor do mundo”.

A sua voz interior como sempre a dar um empurrão, ou a deixar Camila mais nervosa. “Importas-te de não ser tão chata e deixares-me respirar?” – devolveu-lhe, inquieta num som interior. Camila ia admirando aquele ser da forma mais reservada que conseguia. Ele, apresentava barba por fazer, era moreno, de olhos grandes, vestia uma camisa azul bebé, calças de ganga clara com um hoodie em volta da cinta, o que resultava num visual apetecível. Calçava umas sapatilhas vintage sujas de amor e ao seu lado pousava uma mochila. Um estilo descontraído que não deixava Camila desapegada. Ainda no banco, ele fazia uns rabiscos profundos num caderno, que pareciam de trabalho, ia esboçando sorrisos discretos para o mesmo como se aquele lhe falasse e, ela ali, a evidenciar tudo o que começava a sentir. O que estaria aquele deus grego, aos olhos de Camila, a esboçar? Que profissão teria?

Os minutos passavam e sobre o atraso não havia mais impaciência, pois permaneciam lado a lado, prontos para que tudo acontecesse. Eles desconheciam como esta sensibilidade irrefutável do que absorvem não dá lugar a questões, é como uma montanha russa de emoções capaz de intersetar qualquer coração. Um romance sincero, limpo e bonito demais torna-se uma história sólida em qualquer espaço. E torna-se impossível não pegarmos num lenço de papel para limparmos o que o coração exprime de tão sublime que chega. (a próxima edição continua a acrescentar confettis de amor a esta história) 

Juliana Gomes, escritora
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Instagram: juli_ana_juli

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