Reportagem

PÓVOA DE LANHOSO Um tesouro de tradição, património e natureza

Póvoa de Lanhoso afirma-se como um dos mais autênticos concelhos do norte de Portugal. Combinando um invejável património histórico, um legado cultural profundo e uma ligação ancestral à arte do ouro, esta terra minhota é um destino que merece ser conhecido, vivido e valorizado. Assume-se como um território de alma, onde a tradição abraça a modernidade, o património dialoga com a natureza, e a arte do ouro continua a brilhar com o fulgor de outrora. Um destino que honra o passado, vive intensamente o presente e olha com confiança para o futuro.

 

A TERRA DO OURO E DA FILIGRANA

Designada como a terra do ouro, a Póvoa de Lanhoso é reconhecida nacional e internacionalmente pelo seu papel ímpar na preservação da arte da filigrana, uma das mais finas expressões do artesanato tradicional português. A técnica milenar, transmitida de geração em geração, encontra aqui um dos seus mais respeitados bastiões, com especial destaque para as freguesias de Travassos e Sobradelo da Goma.

A Sala de Interpretação da Filigrana, situada na Casa da Botica, é um espaço museológico e pedagógico que revela os segredos desta arte, desde a manipulação dos delicados fios de ouro até ao processo de polimento final. Através de painéis interpretativos e um itinerário expositivo, os visitantes são conduzidos por um universo de minúcia, destreza e beleza rara, homenageando os mestres filigraneiros locais.

Complementar a este percurso é o Museu do Ouro de Travassos, inaugurado em 2001, que resulta da visão e dedicação de Francisco de Carvalho e Sousa, ourives de profissão e guardião desta tradição. O museu preserva duas antigas oficinas, apresentando uma reconstituição fiel de uma oficina dos anos 50, uma sala dedicada ao ouro e espaços para exposições temporárias. É um centro de dinamização cultural e formativa que reforça a importância da filigrana na identidade povoense.

 

CASTELO DE LANHOSO, O GUARDIÃO DA HISTÓRIA

Elevando-se no topo do maior afloramento granítico monolítico da Península Ibérica, o Castelo de Lanhoso domina a paisagem como guardião silencioso de séculos de história. A sua origem remonta ao período medieval, embora o monte tenha sido habitado desde o Calcolítico. A sua localização estratégica, entre os vales dos rios Ave e Cávado, garantiu-lhe um papel central na defesa e controlo da região. Dinis atribuiu foral ao concelho em 1292, reforçando a importância da fortaleza. Hoje, é símbolo patrimonial e cultural da Póvoa de Lanhoso, palco de reencontros com o passado e cenário privilegiado para visitas pedagógicas e turísticas.

Ali bem perto, implantado no Monte do Pilar, o Castro de Lanhoso beneficia de uma localização privilegiada, que lhe conferia naturais condições de defesa. As estruturas habitacionais, de planta circular e retangular, distribuem-se em socalcos na vertente oriental do monte, sustentadas por muros de suporte.

O sítio arqueológico foi alvo de intervenções pontuais ao longo do século XX. As escavações conduzidas por Carlos Teixeira, nos anos 30, e por K. Petruso, em 1982, revelaram diferentes fases de ocupação anteriores à romanização.

Em 2001, a Câmara Municipal da Póvoa de Lanhoso promoveu ações de valorização do espaço, com a limpeza das estruturas existentes e a construção de um núcleo de três habitações castrejas reconstituídas, baseadas em dados arqueológicos. O conjunto integra ainda um percurso interpretativo dedicado ao Castro de Lanhoso e à Cultura Castreja, proporcionando uma experiência educativa e imersiva aos visitantes.

 

CULTURA E NATUREZA

A estátua de Maria da Fonte constitui o mais emblemático símbolo da Revolução homónima, deflagrada na Primavera de 1846, na freguesia de Fontarcada, concelho da Póvoa de Lanhoso. Este movimento popular, liderado por centenas de mulheres da região, teve como catalisador a contestação das chamadas “Leis da Saúde”, mas rapidamente evoluiu para uma contestação mais profunda à autoridade das recém-instaladas estruturas liberais. Os confrontos, inicialmente localizados, depressa se propagaram por todo o Minho e, subsequentemente, a diversas regiões do país, culminando na queda do Governo.

Figura icónica da resistência popular e da luta pelos ideais de justiça e igualdade, Maria da Fonte viria a afirmar-se, ao longo do tempo, como uma das mais notáveis heroínas da história portuguesa. A primeira homenagem escultórica que lhe é dedicada foi inaugurada em Lisboa, em 1920, por ocasião do centenário da Revolução Liberal. Já na vila da Póvoa de Lanhoso, berço do movimento, apenas em 1978 se concretiza a elevação de uma estátua em sua honra, obra do escultor bracarense Jorge Ulisses. A 29 de maio de 2022, esta mesma peça foi reinstalada junto à igreja românica de Fontarcada, o local histórico onde tiveram lugar os primeiros confrontos da Revolução de Maria da Fonte.

Para conhecer a história de Maria da fonte, uma das figuras femininas mais marcantes da História de Portugal, deve visitar o Centro Interpretativo Maria da Fonte (CIMF), situado junto ao emblemático Theatro Club, no centro urbano da Vila e Concelho da Póvoa de Lanhoso, no largo com o nome do maior benemérito que esta terra conheceu, o brasileiro de torna-viagem António Ferreira Lopes, onde em meados do século XIX se localizava a estalagem de Maria Luísa Balaio, para muitos investigadores, a verdadeira Maria da Fonte.

O Centro Interpretativo Maria da Fonte (CIMF) afirma-se como um espaço cultural dinâmico e multifacetado, inteiramente dedicado à preservação e divulgação da memória de uma das figuras femininas mais emblemáticas da História de Portugal. Através de uma sala de interpretação equipada com painéis informativos e soluções digitais interativas, o CIMF proporciona uma experiência imersiva e educativa a visitantes de todas as idades. Complementado por serviços educativos dirigidos a escolas, grupos organizados, famílias e público em geral, incluindo percursos temáticos, jogos e livros digitais, projeções multimédia e edições especializadas, o centro integra ainda um auditório, um pequeno anfiteatro exterior e diversas áreas expositivas. Destaca-se também o núcleo documental, que alberga o Arquivo Histórico Municipal, arquivos depositados, uma biblioteca focada no período do liberalismo e um valioso espólio artístico e etnográfico, consolidando o CIMF como um importante polo de conhecimento e cidadania histórica.

Ao lado, funciona o Theatro Club, com 120 anos de existência, que podemos considerar o coração cultural do concelho. Inaugurado em 1905, continua a ser palco de espetáculos marcantes, incluindo o Concurso Nacional de Teatro Ruy de Carvalho, que celebra o teatro amador nacional.

Para os apaixonados da natureza e da sustentabilidade, o Centro de Interpretação do Carvalho de Calvos (CICC) oferece uma experiência única. Localizado na freguesia de Calvos, numa área extensa verde, o centro homenageia o Carvalho de Calvos (ali situado). Com mais de 500 anos, o exemplar de Quercus robur mais antigo da Península Ibérica e segundo mais antigo da Europa, está classificado como árvore de interesse público desde 1997. De acordo com as medições mais recentes do Registo Nacional de Arvoredo de Interesse Público, realizadas pelo ICNF em julho de 2015, esta árvore monumental atinge cerca de 30 metros de altura, apresenta um perímetro médio da copa de 112 metros e uma base de tronco com 11,5 metros de perímetro. Relativamente à atividade do Centro, promove ações de educação ambiental e preservação da biodiversidade, sendo também local de lazer e aprendizagem intergeracional.

No interior do CICC, o “Observatório do Carvalho de Calvos” apresenta-se como um espaço de sensibilização e educação ambiental, dividido em três núcleos expositivos: um dedicado ao Carvalho Alvarinho, outro centrado nas práticas de Reduzir e Reutilizar e um terceiro que explora os conceitos de Reciclar e Reparar. Com uma área total de 3,1 hectares, o parque envolvente acolhe ainda uma horta biossocial e uma horta comunitária em regime de agricultura biológica, canteiros de plantas aromáticas e medicinais, áreas de lazer e um parque de merendas. O CICC dinamiza um vasto leque de atividades ambientais gratuitas, adaptadas a diferentes públicos, com temáticas que abrangem os resíduos, a água, a biodiversidade, a alimentação saudável, a agricultura sustentável, a energia, a geologia e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030. Ao longo do ano, o Centro celebra também diversas efemérides ambientais através de dias e semanas temáticas, como o Dia Mundial da Terra (22 de abril), a Semana do Ambiente (2 a 10 de junho), a Semana Europeia da Mobilidade (16 a 22 de setembro), ou o Dia da Floresta Autóctone (23 de novembro), entre outros momentos de consciencialização ambiental e envolvimento comunitário. Para os interessados, a marcação de visitas ou de atividades pode ser feita diretamente junto do CICC, reforçando o seu papel enquanto polo ativo de educação para a sustentabilidade.

No mesmo parque verde encontra-se instalado o Centro Cyclin’Portugal, uma infraestrutura de apoio aos praticantes de BTT. Equipado com balneários, casas de banho, área de lavagem de bicicletas, bar e uma máquina self-service para pequenas reparações, o centro oferece condições adequadas à prática da modalidade. A rede de percursos associada, que atravessa todas as freguesias do concelho da Póvoa, apresenta diferentes níveis de exigência física e técnica. Ao longo dos trilhos, os ciclistas são conduzidos por locais de elevado interesse patrimonial, natural e paisagístico, características que fazem deste centro uma referência para os entusiastas do BTT.

No leque de pontos de interesse, não podemos também deixar de referir o Miradouro de São Mamede. Situado na União de Freguesias de Calvos e Frades, destaca-se como o ponto mais elevado do município, alcançando os 750 metros de altitude. A partir deste privilegiado local, desfruta-se de uma deslumbrante vista panorâmica sobre a região do Minho, abrangendo a imponente Serra do Gerês, o pitoresco vale do Cávado e, ao longe, a linha do horizonte onde o mar se insinua.

 

AVENTURA E LAZER

Para quem procura adrenalina, a DiverLanhoso é uma referência incontornável no turismo de aventura em Portugal e na Europa. Com mais de 50 atividades ao ar livre, desde bungee jumping a canyoning, o parque combina adrenalina com hospitalidade, oferecendo alojamento em casas de madeira, gastronomia minhota e uma natureza deslumbrante. É um destino completo para famílias, escolas e grupos organizados.

Em contraste, as praias fluviais de Verim e da Rola proporcionam momentos de descanso e contacto com a natureza. A praia de Verim, com águas límpidas e acessibilidades melhoradas, é procurada por centenas de veraneantes, enquanto a praia da Rola, em Taíde, encanta pela sua paisagem ribeirinha e tranquilidade, sendo partilhada por habitantes da Póvoa de Lanhoso e de Guimarães.

 

GASTRONOMIA DE EXCELÊNCIA

E, por fim, visitar um local sem conhecer a sua gastronomia é perder uma parte fundamental da experiência cultural e sensorial que o destino oferece. Na Póvoa de Lanhoso, a gastronomia é tipicamente minhota diferenciando-se pela mistura de ingredientes colocada na confeção dos pratos: o saber, a memória, a herança e o amor, tudo com o intento de proporcionar uma experiência única de saborear os alimentos com deleite e com prazer. Aqui, a gastronomia é rica e diversificada, com várias especialidades de pratos onde se destacam o Cozido à Portuguesa, o Cabrito à São José, a Vitela Assada, o Bife à Romaria, um emblemático prato da Romaria de Nossa Senhora de Porto de Ave, que se realiza na freguesia de Taíde, as Rochas do Pilar, um pastel típico da região, tal como os “charutos”, um doce de marmelada especial envolto de uma massa fina (hóstia) que está em processo de certificação e registo da marca. Além disso, a Póvoa de Lanhoso é conhecida pelos seus Vinhos Verdes, que complementam a gastronomia local.

Para completar a experiência, em jeito de sugestão, a visita à Póvoa de Lanhoso deve incluir uma refeição no Restaurante O Victor, em São João de Rei. A tradição e a qualidade aliadas à simplicidade do ambiente rural conferem-lhe uma reputação invejável. O bacalhau na brasa com batata a murro é a sua especialidade, mas a costeleta de vitela e o cabritinho assado são igualmente memoráveis. Tudo regado com vinhos de excelência e rematado com sobremesas típicas como o leite creme.

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