A Vercoope – União das Adegas Cooperativas da Região dos Vinhos Verdes é, atualmente, um dos principais representantes dos vinhos verdes em Portugal. Em entrevista à Revista Minha, o presidente da administração, Casimiro Alves comenta a evolução do setor Vitivinícola e perspetiva o caminho a percorrer na valorização do vinho verde em termos internacionais.
Para que possamos contextualizar os nossos leitores, pedia-lhe que começássemos esta entrevista por fazer uma breve apresentação da Vercoope e qual o papel que tem hoje no mercado? A Vercoope é uma União de Adegas Cooperativas da Região dos Vinhos Verdes, da qual são associadas as adegas de Felgueiras, Amarante, Paredes, Famalicão, Braga, Guimarães e Vale de Cambra. Produz e vende anualmente 9,5 milhões de garrafas de Vinho Verde e detém uma faturação anual que ronda 15,5 milhões de euros. É, neste momento, o segundo maior engarrafador de Vinho Verde em Portugal.
Que balanço faz até ao momento da atividade da instituição? O balanço é bom. Temos crescido nos últimos dez anos e conseguimos valorizar o produto das nossas adegas associadas. Melhoramos constantemente a qualidade dos nossos vinhos e prosseguimos ganhando quota de mercado. Os nossos vinhos são cada vez mais internacionais, podendo ser adquiridos nos 5 continentes em mais de 40 países. Temos conquistado cada vez mais prémios e distinções nacionais e internacionais o que reflete um reconhecimento de qualidade e consistência dos nossos vinhos. A reputação e a notoriedade da Vercoope como uma referência de força e qualidade nos Vinhos Verdes são uma realidade. E a imagem, reputação e notoriedade da Vercoope é cada vez melhor e mais forte para os seus parceiros de negócio e consumidores.
«Penso que vamos chegar a um novo equilíbrio onde o consumo de vinho será menor em volume, mas superior em valor. Será um consumo mais sofisticado e equilibrado»
Como caracteriza o panorama atual do setor Vitivinícola em Portugal? Com alguns desafios! O consumo mundial de vinho está a diminuir e há alguma pressão sobre os preços, principalmente nos vinhos tintos. Penso que vamos chegar a um novo equilíbrio onde o consumo será menor em volume, mas superior em valor. Será um consumo mais sofisticado e equilibrado e as empresas irão adaptar-se às novas realidades do mercado.
Quais são os maiores desafios com os quais se debate o setor? Passam por aumentar a qualidade e o valor dos vinhos para fazer face à diminuição de consumo. Orientar a produção para gamas de produto de maior valor e, mesmo assim, manter os índices de procura. Aumentar valor significa aumentar preços e, claro, aumento de preços no imediato pode traduzir-se numa diminuição da procura até se encontrar novo equilíbrio. E até nesse novo equilíbrio, é necessário manter-se a sustentabilidade das vendas. Não é um caminho fácil, mas é um caminho que temos de percorrer.
Como vê o papel das cooperativas para o desenvolvimento da Agricultura e da própria economia? As Cooperativas são empresas cujos acionistas são os agricultores e são eles que mais sentem as dificuldades do setor. Juntam-se para serem mais fortes, concentrando a oferta dos seus produtos. Vão ser cada vez mais importantes no desenvolvimento da nossa agricultura. Estão a ser decisivas por todo o nosso território e com forte e positivo impacto a nível económico e social nas áreas mais rurais.
E em que medida considera a importância da Vercoope como suporte para os produtores? É vital para a defesa dos viticultores. Representa 15% da produção e comercialização do Vinho Verde. A Vercoope está intimamente ligada ao território rural, onde se produzem as uvas que depois transformamos em vinho. Estamos também muito próximos dos mercados de venda e consumo, quer nacionais e internacionais. É essa a nossa importância, somos interlocutores diretos dos mercados para os nossos produtores e vice-versa. Os produtores fazem parte da nossa missão que passa por disponibilizar os nossos vinhos aos consumidores com qualidade e preços justos, mas valorizando toda a cadeia de produção e comercialização, ou seja, dos viticultores, às adegas, aos nossos parceiros de negócio.
Qual o peso das exportações na atividade da Vercoope? Os nossos Vinhos Verdes representam no negócio global da empresa cerca de 35% em valor e 30% em volume. Por outro lado, tem um outro peso, que é o combate à sazonalidade. Para muitos outros mercados externos, para além do hemisfério sul, o vinho verde consome-se bastante durante o outono/inverno. Por outro lado, é um peso de valor, pois comercializamos também vinhos mais premium.
Em que países já estão inseridos? Estamos em mais de 40 países nos 5 continentes. No nosso top 10, estão: Alemanha, Brasil, Cazaquistão, EUA, França, Japão, Noruega, Polónia, Rússia e Ucrânia. Mas também vendemos para praticamente todos os países da União Europeia, e outros países terceiros como Angola, Bielorrússia, China, Coreia do Sul, México, Nova Zelândia, Perú, UK, Uzbequistão, entre muitos outros.
«A qualidade dos vinhos verdes é reconhecida internacionalmente, foi “só” preciso mostrá-la. Foi feito um enorme esforço de divulgação nos últimos 20 anos. É um vinho adaptado aos consumidores modernos»
A que se deve esta afirmação dos Vinhos Verdes nos mercados internacionais? Em primeiro lugar, à sua divulgação. A qualidade é reconhecida internacionalmente, foi “só” preciso mostrá-la. Foi feito um enorme esforço de divulgação nos últimos 20 anos. É um vinho adaptado aos consumidores modernos: fresco, jovem e pouco alcoólico. É também um vinho que harmoniza muito bem com a gastronomia internacional. O Vinho Verde afirmou-se como uma categoria única no mundo, e vai conquistando cada vez mais consumidores e mercados. De facto, foi uma contribuição de todos os produtores da Região de Vinhos Verdes que apostaram na qualidade e atratividade do produto, promovendo-o de forma consistente e persistente com várias entidades, como a Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes, a Fenadegas, a Viniportugal, a CAP, e também os seus parceiros de negócio locais, não esquecendo as várias entidades e associações empresariais e institucionais.
E o mercado nacional? É muito importante para nós, pois representa ainda 65% das nossas vendas globais. Para toda a Região dos Vinhos Verdes, o mercado nacional representa cerca de 50%.
Qual é a vossa capacidade de produção? 15 milhões de litros.
Que vinhos vendem mais? As marcas Felgueiras, Via Latina e Pavão.
Que fatores identifica que explicam que alguns dos vossos vinhos sejam constantemente premiados Um grande esforço na melhoria da qualidade. Um esforço que começa logo na viticultura e passa pela enologia. E claro, não só a qualidade, mas também a sua consistência ao longo dos anos. O nosso foco é que os nossos vinhos sejam bons, apreciados e valorizados pelos nossos consumidores, mas também valorizamos o seu reconhecimento por especialistas e júris internacionais.
«O nosso farol é o valor. Só assim conseguimos alcançar uma boa imagem, notoriedade e reputação»
Há quem diga que não devemos ser um país de quantidades, mas sim de qualidade, apostando num setor premium ou ultra premium. Concorda? O caminho faz-se caminhando. Vamos melhorando cada vez mais a qualidade e veremos até onde conseguiremos ir. O nosso farol é o valor e assim alcançar uma boa imagem, notoriedade e reputação.
E a afirmação dos vinhos verdes da região vai passar cada vez mais pela diversidade de castas? Já é um fator decisivo. Os vinhos de casta representam já um papel importante na região. Temos como referência o Alvarinho, o Loureiro, o Vinhão, o Espadeiro e outras castas que irão ser importantes. Também as misturas de duas ou mais castas. No nosso caso, cada vez vendemos mais monocastas e vinhos de duas castas. Sentimos cada vez mais interesse por parte dos consumidores e trading.
E relativamente aos preços? Irão continuar a crescer sustentadamente permitindo valorizar toda a cadeia de valor.
O que é para si um bom vinho? O que dá prazer a beber.
Como nasceu o seu gosto pelos vinhos? Na família.
Considera que os vinhos representados pela Vercoope são um exemplo claro que um vinho bom não tem de ser necessariamente caro? Sim, sem dúvida!
Quando vai a um restaurante o que pensa quando vê os preços dos vinhos? Um pouco exagerados.
Que fatores considera que poderiam influenciar positivamente o desenvolvimento económico da região em que se insere a Cooperativa? Mais apoios aos agricultores, mais apoios ao investimento e promoção internacional dos vinhos. Além disso, é importante que exista menos burocracia.
Qual deve ser a estratégia para o futuro dos vinhos portugueses? Deve passar pela internacionalização e pela sua boa imagem e reputação internacional.
Que projetos têm em mente preconizar para os próximos tempos? Pretendemos garantir a certificação da sustentabilidade dos vinhos.
E como encaram o futuro? Com otimismo.
Que mensagem gostaria de deixar aos produtores de vinho? Gostaria de deixar uma mensagem de confiança. Quem trabalha com qualidade terá o futuro garantido.