Freguesia do mês

Freguesia do mês: São Victor

Quem mora em Braga é impossível não conhecer a Freguesia de S. Victor. Se recuarmos até ao tempo da dominação romana, perceberemos que duas grandes vias ligavam Bracara Augusta ao resto do
mundo: a Via XVII e a Via XVIII. À margem destas duas vias foram surgindo lugares de culto cristãos, um deles venerando, desde o século IV, o jovem mártir Victor. 

Até ao século XVI, aquela que conhecemos como Freguesia de São Victor era considerada como um local externo à cidade, já que se encontrava fora dos muros da cidadela medieval. Se as alterações urbanísticas desencadeadas por D. Diogo de Sousa a ajudaram a aproximar-se da cidade, seria com D. Luís de Sousa que o local de culto seria reedificado. De acordo com a Junta de Freguesia de São victor, bem perto da Igreja nasceria, mais tarde, “uma das atividades económicas mais significativas da história de Braga: a chapelaria”. 

Ao longo do século XIX surgiriam grandes indústrias de chapelaria no terreno, levando a uma cada vez maior densidade populacional: na altura da desanexação do território da Freguesia de S. José de S. Lázaro, em 1747, estima-se que possuísse uma população a rondar os três mil habitantes. São Victor foi sempre crescendo ao longo dos tempos – mesmo em 1933 tendo cedido uma parte do seu território para a recém-nascida freguesia de São Vicente – e hoje em dia continua a constituir-se como uma das maiores freguesias de Braga. Desde a instalação do novo Hospital no seu território, em 2011, que todos os bracarenses passam a nascer como sendo naturais de São Victor, mais um fator que ajuda a levar mais longe o nome da Freguesia.

Tanto para ver… tanto que é feito!

São Victor é rica em património histórico: a Capela de Guadalupe, o Recolhimento das Convertidas, a Casa das Goladas, o Complexo Monumental das Sete Fontes, a Igreja Senhora-a-Branca, ou a Capela de Santa Tecla são apenas alguns dos espaços que pode apreciar. Mas, a estes, muitos outros contemporâneos se têm juntado.

“A Freguesia de S. Victor é uma das unidades territoriais mais antigas do concelho e talvez aquela que mais se desenvolveu nas últimas décadas. É uma Freguesia que alia a sua ancestralidade, provada pelos muitos monumentos aqui existentes, a um novo pulsar, muito ligado à Universidade do Minho, ao Hospital de Braga, ao INL, ao Complexo Desportivo da Rodovia, entre outras instituições. É um território propício ao aparecimento de novas oportunidades de negócio, porque a Freguesia de S. Victor situa-se no centro da cidade e está «perto de tudo», mas, em simultâneo, tem várias zonas residenciais, sendo ainda relativamente fácil encontrar imóveis a preços interessantes”, explica Ricardo Jorge Pereira da Silva, Presidente da Junta de Freguesia desde 2013. 

© Avelino Lima

Estes dados permitem explicar as estatísticas que podemos ver na página oficial da Junta de Freguesia: em 2011 havia 29 642 pessoas a viver em São Victor, o que se traduz numa densidade populacional de 7 265,2/km2. De notar que, nesse ano, a Freguesia tinha uma área de 4, 08 km. Ricardo Silva adianta também que não é à toa que São Victor é considerada “uma cidade dentro da cidade”: é lá que se situam equipamentos importantes para a “harmonia social”, como o Hospital, o Tribunal, a Segurança Social, parte da Universidade do Minho, o INL, o Complexo Desportivo da Rodovia, a Unidade de Saúde Pública, o IPDJ, o Centro de Juventude, a 2ª Esquadra da P.S.P. e até o Cemitério Municipal.

“Percebemos assim a dimensão desta Freguesia e como esta se torna única na sua convivência diária com as pessoas. É esta consciência que nos reforça, diariamente, o compromisso de pugnarmos por uma Freguesia que seja socialmente coesa, gerida para as pessoas e com a responsabilidade de irmos ao encontro da população e das suas necessidades, renovando o desejo de que S. Victor continue a ser uma Freguesia Feliz para os seus fregueses”, afirma o responsável.

Esta preocupação com as pessoas saltou à vista em tempos de COVID-19. Apesar de a Junta de Freguesia ter sido obrigada a fechar as portas, foi incapaz de ficar parada e delineou de imediato um plano para apoiar os seus fregueses, apesar de todos os constrangimentos espaciais. 

“Somos conhecidos por ser a Junta de Freguesia que mais tempo passa de portas abertas, pois abrimo-las às 9h da manhã e, apesar de fecharmos os serviços administrativos ao final da tarde, muitas das vezes as portas continuam abertas devido às muitas atividades que são realizadas na nossa sede. A partir do momento em que fechámos as portas, tomámos uma decisão. Podíamos permanecer quietos à espera que a pandemia passasse ou nos tornávamos suficientemente empreendedores para perceber quais eram as maiores necessidades dos «nossos fregueses» e como, em tempo recorde, montávamos uma resposta à altura do desafio que passámos a viver”, explica o responsável. 

Assim, todas as iniciativas culturais foram suspensas – na altura em que Portugal se viu confinado, a Freguesia estaria a viver intensamente a dinâmica da Procissão da Burrinha, como acontece todos os anos – e a Junta de Freguesia concentrou todos os seus esforços nas questões sociais. Nascia assim o Programa “Freguesia Cuidadora”, dividido em quatro eixos de atuação. O primeiro contempla a sinalização de “séniores” isolados. Com plena consciência da existência de vários idosos a precisarem de ajuda em tarefas essenciais – como fazer compras, comprar medicamentos, ir aos correios ou pagar contas – a JF começou a monitorizar as necessidades desta população através de telefonemas com periodicidade regular e específica.

“Outro eixo de atuação consistia em fazermos as compras, à lista, para os cidadãos, evitando que saíssem de casa. Nós íamos às compras, entregávamo-las em casa e éramos ressarcidos pelo valor das compras. Quisemos ser uma Freguesia socialmente empreendedora e que “liderasse” pelo exemplo de proximidade. Numa fase em que muitos cidadãos mais precisavam que as instituições funcionassem e colaborassem, nós não podíamos virar as costas”, defende Ricardo Silva.

O terceiro eixo de atuação, diz-nos – “e talvez o mais expressivo” – consistia na entrega de cabazes com bens alimentares de primeira necessidade para suprir algumas carências identificadas em agregados familiares que se encontram a atravessar um período financeiro mais complicado. Esta atuação foi reforçada a partir do momento que a JF passou a pertencer à Rede de Emergência Alimentar, coordenada pelo Banco Alimentar Contra A Fome. Em quatro meses foram entregues cerca de 600 cabazes num período de quatro meses. 

O quarto eixo, que consistia na possibilidade de uma equipa de voluntários passear os animais de estimação, de forma a evitar que as pessoas saíssem de casa, acabou por não ser utilizado pelos cidadãos da Freguesia, mas uma outra iniciativa surgiu, com os aniversariantes de São Victor a verem os parabéns serem-lhes cantado à janela.

“Foi uma medida de empreendedorismo social, para levar esperança, alegria e energias positivas aos aniversariantes e às suas famílias, numa altura em que os aniversariantes estavam privados de ter uma festa de aniversário como desejariam. A implementação dos Estados de Emergência e devido ao dever de confinamento, não poderia haver convívios familiares, o que podia fazer destes dias especiais, momentos mais tristes. Como não queríamos que ninguém ficasse sozinho ou isolado, decidimos levar este “gesto de carinho” (e de homenagem à vida), através de voluntários da Junta de Freguesia que, munidos do sistema de som instalado na carrinha da Junta, iam pelas ruas cantar os Parabéns aos aniversariantes, capitalizando uma proximidade com os fregueses, e devolvendo a esperança num futuro melhor”, revela o Presidente, orgulhoso.

Em tempos de COVID-19, foi ainda criada a iniciativa #DESENHARSÃOVICTOR, dedicada ao público infanto-juvenil e o Festival “Em Casa É que se Está Bem”, composto por concertos, ao fim de semana, que decorreram a partir da casa dos artistas convidados.

“Este foi o período para nos reinventarmos e provarmos à população que não estamos «confortavelmente instalados». A nossa missão é de serviço e tentamos fazê-lo na sua total plenitude, conscientes do compromisso de zelar pelas «nossas» pessoas”, remata o responsável.

Uma freguesia que não para

Com a freguesia a crescer de ano para ano e o número de iniciativas culturais e sociais a multiplicar-se, é natural que também ainda existam algumas arestas para limar. O Presidente da Junta de Freguesia não o esconde e admite que, naturalmente, há alguns aspetos a melhorar.

“Tenho consciência de que, apesar de depositarmos muito da nossa energia, S. Victor não é território só de virtudes. Tem, também, os seus pontos fracos. O meu desejo é que este território seja harmonioso e feliz, destacando-se pelos bons exemplos e pelas boas práticas. Como esse desiderato não se alcança sozinho, compete-me trabalhar na estruturação de estratégias que possam ir ao encontro desse desejo”, afirma.

© Ana Marques Pinheiro

Desta forma, Ricardo Silva tem vários “sonhos”, entre os quais a conclusão do processo das Sete Fontes e a inauguração do respetivo Parque Verde, bem como o término das descargas poluentes no Rio Este. O Presidente sonha ainda com uma “revolução social, que vá desde a queda das conotações pejorativas referentes aos Bairros Sociais, passando pela disponibilização de imóveis a preços controlados, para promover uma habitação acessível, seja a jovens que pretendem inserir-se no mercado de trabalho e/ou constituir família, seja a seniores de baixos rendimentos”. O responsável gostaria ainda que a nível municipal surgisse um programa integrado de apoio aos mais necessitados, alicerçado, por exemplo, num albergue temporário, com cantina, balneário e lavandaria social. 

“Queria vivenciar a redução das velocidades automóveis em vias tão estruturantes como as Avenidas João Paulo II, Padre Júlio Fragata ou Frei Bartolomeu dos Mártires, pois entendo que as velocidades praticadas em autoestrada não podem ser praticadas em pleno centro da cidade. Mas, não menos importante, desejo ter sempre discernimento e consciência para saber servir a minha Freguesia e ajudar a construir uma comunidade que mantenha a visão de que S. Victor é uma Freguesia Única”, conclui.

Enquanto os sonhos estão a caminho de ser concretizados, aproveite para usufruir de tudo aquilo que a Freguesia já construiu e alcançou. No primeiro Sábado de cada mês pode, por exemplo, visitar o Mercado Branc’arte, assente no Largo e Jardim da Senhora-A-Branca. Na Academia São Victor pode dar azo à criatividade e aprender a tocar guitarra, cavaquinho ou concertina, assim como aprender a bordar, dançar, pintar e até a fazer teatro, entre outras ofertas. O comércio local também pulula nas várias artérias da freguesia, assim como uma ampla rede de espaços educativos e escolas. Não há desculpas para não visitar São Victor!

 

 

 

 

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