Sem Treta

A terra dos sonhos é aqui: zet gallery

Pintura, desenho, escultura. Tinta, cor, brilho, luz. Cimento, betão, metal. Os materiais fundem-se e entrelaçam-se numa dança que ocupa todo o espaço. Há poucas paredes nuas e, a cada esquina, aguarda-nos uma surpresa, com formas imprevisíveis que surgem diante dos nossos olhos. Aqui respira-se cultura. Respira-se arte. Mas, acima de tudo, respira-se orgulho e dedicação. Persistência. Felicidade. Estamos na zet gallery, na companhia de Helena Mendes Pereira, Catarina Martins e Vanessa Ribeiro. A terra dos sonhos é aqui.

A essência

Não é uma galeria, não é uma plataforma: é uma fusão das duas ou, se quisermos, “um modelo único de divulgação de artistas e arte contemporânea”, conforme é possível ler na página online da zet gallery. Quando surgiu, há cerca de cinco anos, chamava-se Shair Project.

“Quando inaugurou era uma plataforma de divulgação de artistas emergentes muito vocacionada para a presença online. Ao longo destes cinco anos o projeto passou por algumas linhas estratégicas diferentes que, desde a chegada desta equipa, se consolidaram naquilo que é agora. Quando arrancou era algo único, pelo menos a nível nacional, mas acreditamos que o modelo de negócio da altura e a forma como a galeria funcionava passava por atividades muito efémeras. As exposições estavam patentes de três a quatro semanas, o que achamos não ser tempo suficiente… Nem para o público ter contacto com a arte, nem para que os artistas possam ter uma divulgação merecida e as suas obras um tempo necessário de exposição”, explica Catarina Martins, responsável pela Comunicação e Produção da zet gallery.

Com as mudanças de estratégia, também o nome do projeto foi alterado. “Zet” não é nenhuma palavra arcaica ou estrangeira: é uma espécie de contração bem humorada – refletindo o espírito do grupo dst, em que o espaço se encontra inserido – do nome do fundador: José Teixeira. (Zé Teixeira = zet). “Gallery”, em inglês, apela à internacionalização, tornando o nome mais acessível a todas as línguas.

“É uma prática nas galerias de arte. Desde a década de 50 que começaram a assumir o nome dos respetivos fundadores. Regra geral, estes eram opinion makers, grandes colecionadores que depois decidiram fazer negócio com as suas aquisições. Eram sobretudo colecionadores europeus que foram para a América, na altura da II Guerra Mundial. Era a terra dos sonhos, dos sonhos que todos podemos realizar, e assim começaram a surgir as galerias. É uma prática que vemos expandir-se por toda a Europa, por todo o mundo”, explica Helena Mendes Pereira, curadora da zet.

As mudanças na galeria começaram e não mais pararam. A equipa que está à frente do projeto considera que o sucesso do espaço – com números cada vez mais atrativos, ano após ano – reside numa série de fatores que vão muito para além da programação cultural. Um dos objetivos principais da zet é a democratização do acesso à arte: não querem que o projeto seja visto como mais uma startup, ou que se limite a ser uma espécie de bolha, onde apenas uma elite pode entrar. Para isso precisam de consolidar a presença do espaço no mercado. Como é que isto se consegue? Com credibilidade.

“O mercado da arte é altamente personalizado, e a sua credibilidade depende sempre dos agentes que estão envolvidos. E o Engenheiro José Teixeira tem-se afirmado não só como mecenas, mas como colecionador. (…) Esta associação ao nome dele faz todo o sentido. No fundo correspondia a algo que também procuramos alterar desde que viemos para aqui em termos de modelo de negócio: não desvalorizar a plataforma enquanto elemento diferenciador, até porque hoje em dia as compras online são uma tendência de mercado, mas aproximar o conceito daquilo a que chamamos galeria tradicional, com espaço e exposições”, adianta Helena.

Na plataforma online da zet gallery estão representados mais de quatrocentos artistas, ao contrário do que acontece com as tradicionais galerias de arte, em que o número não costuma ultrapassar as três dezenas. A plataforma é, assim, mais democrática no acesso, mas há critérios, ou seja, nem todos os artistas conseguem expor lá o seu trabalho. Ainda assim, trata-se de critérios menos “apertados” do que os necessários para expor e para outras ações que a zet leva a cabo com os artistas, como colocá-los em projetos do espaço público, a título de exemplo.

“Este duplo modelo é o equilíbrio perfeito para o colecionador atual. Há muitas plataformas de arte online, já com reputação e notoriedade. O que elas não têm é filtro curatorial. A nossa tem, mas não restringe tanto os artistas como uma galeria tradicional. O que temos é algo que não afugenta ninguém na primeira fase. As pessoas ainda têm receio de entrar numa galeria, de colocar questões, de ver preços, regatear, fazer perguntas. Portanto, temos uma primeira montra anónima, que é online, mas depois também temos um espaço físico. Há apresentações de livros, inaugurações e espetáculos onde podemos contactar com artistas presencialmente. Fundimos a galeria e a plataforma num só projeto, faz todo o sentido porque se torna mais completo e responde aos requisitos atuais e diferentes perfis de consumidores”, diz Catarina.

Esta diversidade de possibilidades deve-se ao facto de a zet gallery ter uma área de exposição muito ampla, com cerca de 800 m2, distribuídos por diferentes salas, havendo ainda um pequeno auditório onde podem decorrer os mais variados eventos. Há ainda uma “sala para a realização de oficinas de artes plásticas e outros espaços de apoio, onde se incluem áreas de reservas, devidamente equipadas para acondicionar obras de arte”, refere a página da plataforma.

A terra dos sonhos

Durante a nossa conversa, a palavra que mais se repete é “persistência”. Os três elementos da equipa têm a certeza de que a zet está no caminho certo, mas também têm consciência que muitos dos desafios representam um caminho lento onde a determinação é a palavra-chave. Um dos desejos é que a zet seja um espaço habitual na e para a cidade, um sítio que os locais estejam habituados a frequentar. O que leva o seu tempo, assumem.
A persistência passa também pela forma como a zet gallery trata os artistas que nela expõem: de forma individual, personalizada e pensada ao mais ínfimo detalhe. Afinal, a terra dos sonhos parece ser aqui.

“Não desistimos, estamos sempre a fazer coisas e, posso arriscar dizer isto, damos as condições aos artistas que mais nenhuma galeria no país dá. Fazemos catálogos bilingues para as exposições, todos os nossos conteúdos são bilingues, fazemos vídeos e muitas outras coisas. A forma como tratamos os artistas e organizamos as exposições procura sempre a felicidade deles. Ainda que eles cheguem ao final das exposições e por qualquer motivo não vendam nada – pode acontecer –, fazemos transporte, seguro, damos todas as condições possíveis… Também há a vantagem de estarmos inseridos neste grupo: temos recursos, é possível pintar uma parede, adaptar o espaço, fazer de tudo! Se é preciso vir um artista de Lisboa ou de Espanha, como já aconteceu, damos alojamento, alimentação, procuramos mesmo tratar bem as pessoas”, diz Helena.

A curadora diz ainda que os artistas até podem chegar ao fim sem receitas, mas também não terão tido despesas. “Pelo menos sentiram que foi feito um ótimo trabalho de divulgação da sua arte, foi um trabalho em que se deu tudo, em que não se podia fazer mais. Sentem que a exposição estava bem organizada, não tiveram despesa, as obras estavam bem expostas”, afirma, convicta.

De acordo com Catarina, há alguns artistas relutantes em ir à inauguração da própria exposição. Mas, quando se deixam convencer, ficam surpreendidos: a casa está sempre cheia. Há um compromisso do grupo dst que também aqui funciona, assim como em outras atividades que a empresa realiza: se há uma inauguração, todos os funcionários da empresa vão ou são convidados a ir.

“Essa é a energia que queremos criar, queremos que as pessoas fiquem connosco porque as tratamos bem e elas sabem que nas várias coisas que podem acontecer têm uma oportunidade de fazer algo. Queremos fazer acontecer”, afirma Helena.

A equipa e o grupo desdobram-se e o que é solicitado aparece: desde o alojamento dos artistas, à divulgação e acomodação das obras, a zet dá sempre o melhor que consegue. O projeto não trabalha com exclusividade – ao contrário da maior parte das galerias – mas oferece outras mais-valias que, segundo Helena, “mais ninguém dá”. Percebem que o trabalho está a dar frutos quando, por exemplo, o artista contacta a galeria e explica que há alguém interessado na aquisição de uma obra, ao invés de optar por uma venda “doméstica”, que excluiria a zet da equação.

“Como é que se combatem as vendas domésticas? Tratando bem as pessoas, dando o nosso melhor, sendo melhor do que os outros. E persistindo numa estratégia! Estamos aqui há três anos a persistir, fazemos envios personalizados por correio, divulgação ao máximo… isto porque acreditamos no futuro! O projeto não existe para alguém ser rico. O projeto existe para que os artistas possam ser artistas. Temos connosco muitos que trabalham em restaurantes ou pizzarias… E muito bem, mas queremos ajudá-los a ter visibilidade e a seguir os seus sonhos. Há muitos artistas com trabalhos dignos, mas quando acreditamos num artista o nosso sonho é vê-los a viver apenas do seu trabalho artístico”, explica a curadora.

Helena, Catarina e Vanessa agradecem à administração da zet, que lhes dá “carta branca” e meios para fazer tudo aquilo que acham ser necessário pelos artistas.

“Aqui não há o medo de errar, de falhar. Num mural da dst há uma citação de Samuel Beckett que diz qualquer coisa como “tente de novo, faça de novo e erre melhor”. E acho que é mesmo isso, o Engenheiro José Teixeira quer que nós arrisquemos, que pensemos em coisas diferentes. Quer-nos a inovar, a pesquisar, a querer mais todos os dias. Claro que sabemos que isto tem de ser rentável, mas sentimos muita liberdade de pensamento e ideias novas. Isso é extremamente gratificante”, sorri Vanessa, assistente de Comunicação e Produção.

A arte é de todos

Catarina explica que a zet gallery foi a materialização pessoal de um mecenato cultural de anos e anos, acabando por ter um posicionamento muito natural face à história da família Teixeira. E outro dos objetivos do espaço tem vindo a ser conseguido a pouco e pouco: derrubar barreiras e aproximar a arte das pessoas.

“Temos aqui pessoas com menos habilitações e elas já perderam o pudor de fazer perguntas, questionar, apreciar. Isso para mim é uma grande vitória. O contacto diário com a arte destrói barreiras. Acho que essa é que é a magia do grupo, além de envolver todas as pessoas… Mais do que isso, é ver estas pessoas, que não vão a museus nem a galerias, de repente começarem a ter uma relação de habituação e de respeito com a obra de arte. Até podem dizer que não gostam de uma coisa, mas não é pejorativo, é uma opinião”, diz Helena.

Vanessa explica que, muitas vezes, até durante os transportes das obras, artistas e funcionários acabam a contactar uns com os outros. Os funcionários opinam, sugerem “isto aqui”, “aquilo ali”, falam com os artistas. São pessoas de mundos completamente diferentes a interagir, “algo lindo de se ver”, diz.

A zet nasceu em Braga, o que não foi uma escolha aleatória, mas sim vontade do seu fundador. Apesar de haver outras galerias, o grupo dst considera que não poderia ser noutro local, o que não invalida uma aposta na internacionalização. Mas há público para a arte em Braga?

“O público depende muito das alturas do ano. Mas cada vez mais sentimos que há pessoas a vir cá frequentemente. Não só locais, mas também turistas, há vários turistas que têm sido encaminhados pelo Gabinete de Turismo. Em Braga, fruto do trabalho que tem sido feito a nível de curadoria, os que ainda não conheciam o espaço aproximam-se e acham estranho nós já estarmos aqui há cinco anos: não sabiam que a zet existia. Mas temos sentido uma grande diferença até nas ações que fazemos… No início chegamos mesmo a cancelar uma Conversa d’ Artista [ver caixa] porque não apareceu ninguém”, confessa Vanessa.

A equipa volta a ser unânime: o interesse pela cultura cresceu, os números da zet assim o demonstram. Mas ainda há muito caminho a percorrer, dado que a centralização continua a ser rainha em Portugal. Apesar disso, municípios como Guimarães, Famalicão ou Bragança têm dado cartas na programação e investimentos culturais.

“Estamos num país com alergia às periferias, que concentra investimentos e equipamentos no Porto e Lisboa, mas a verdade é que cada vez mais começa a haver aposta do poder local em investimento, em equipamentos culturais, em formação cultural de forma descentralizada. (…)  Temos que fazer o investimento primeiro e trabalhar os públicos depois. Este não é um comportamento exclusivo de Braga, é um comportamento dos territórios periféricos de alta densidade demográfica, cujo investimento cultural já começa a acontecer… agora!”, refere Helena.

Catarina é da mesma opinião e refere que o aumento de interesse se nota em toda a cidade, referindo o Theatro Circo e o gnration como espaços que persistiram e que hoje são considerados icónicos.

“Eles persistiram, assim como nós pretendemos persistir nesta linha em que acreditamos. Acho que esta falta de investimento nestes últimos anos fez com que o público de Braga se habituasse a uma lógica maior de entretenimento, lazer, café. E isto é o oposto de entretenimento. Pode haver confusão de conceitos e deve ser clarificada. Sabemos que há público à espera da Noite Branca, por exemplo, e podemos nela introduzir elementos estéticos ou artísticos, fundi-los, de forma a que as pessoas possam ter contacto com as instalações artísticas”, indica.

A equipa considera que há espaço para tudo – entretenimento e cultura – e que Braga tem até margem para ver uma fusão das duas vertentes. Apesar de haver maior investimento cultural neste momento, o passado é difícil de apagar e a zet tem de lutar contra hábitos enraizados. Helena tem uma opinião ligeiramente diferente e considera que a balança pública deve pender para a cultura.

“Acho que tem de haver uma aposta muito maior naquilo que é a dita cultura e menos investimento nas coisas de caráter popular, ou então que essas coisas tenham pelo menos uma preocupação estética mais elevada. Se há esse desafio estratégico e esse olhar para a frente, e se acho que há espaço para tudo, acho que devemos desequilibrar um pouco a balança e dar mais espaço à cultura”, afirma.

Como comunicar arte?

A zet gallery apresenta cerca de seis exposições por ano, coletivas ou individuais. Dada a sua localização, esforço de curadoria e de comunicação e divulgação, já viu milhares de pessoas passarem pelo espaço. Será fácil chegar até elas?

“O público da arte contemporânea tem uma questão. A arte do seu tempo é incomunicável. Nós hoje olhamos para o trabalho de Miguel Ângelo na Capela Sistina e achamos aquilo incrível, magistral. Mas ele foi completamente incompreendido quando o fez. Aquilo que estamos a apresentar aqui não vai ser compreendido de forma massiva, vai ser compreendido por uma elite. Há vários recetores que não são ativados pelo público em geral, que não tem a ideia das camadas, o tema da nossa exposição de agora [ver caixa]. Eu tenho camadas de leitura que me são dadas pela minha formação, pelo olhar treinado, pelas exposições a que vou… Mas uma pessoa que não frequente exposições, etc., não tem essas camadas”, diz Helena.

Foi um risco, mas tínhamos de perguntar: estarão os média a desempenhar o papel de aliados na comunicação e divulgação da arte e cultura? No mundo do imediato, dos cliques e do “grotesco”, ainda há palco para a arte? Como é que os meios de comunicação podem ajudar o universo artístico?

“Os média têm de funcionar como mediador. Nas galerias e instituições a linguagem relacionada com a arte pode ser complicada, difícil de entender para quem não é da área. Acho que os média deviam simplificar sem desvalorizar, aproximando os públicos das exposições e das iniciativas culturais. Deviam dar valor à arte e às atividades culturais, que infelizmente não é o que dá mais cliques…”, responde Vanessa.

Catarina anui e explica que é um erro replicar um texto de curadoria escrito por Helena num jornal. Para a responsável de Comunicação, o discurso deve ser sempre adaptado. É exatamente isso que a zet gallery faz com todo o material que produz. Uma visita às instalações, a título de exemplo, nunca poderá ser igual à anterior visita. A equipa adapta o discurso a partir do momento em que percebe quem tem diante de si. Catarina considera essencial aos média perceberem o conceito das exposições patentes e chegar mesmo ao diálogo com os artistas, a única forma de os perceber. A eles, pessoas como nós.

“O foco nos artistas é algo que na linha de comunicação da galeria tentamos sempre fazer. Cada semana é reservada a um artista, sendo que o ponto alto é sempre o vídeo, geralmente relacionado com a exposição. Isso é uma forma de esbater a ideia de que o artista vive num universo paralelo e desfasado da nossa realidade, o que não é verdade”, afirma.

Helena reitera o que diz a colega e explica que, por muito que a zet já trabalhe os seus textos, o público do espaço será diferente daquele que se pretende alcançar com a cobertura mediática. É, por isso, sempre necessário fazer adaptações.

“Compreendo e sei que as redações estão concentradas em Lisboa e Porto, têm pouco dinheiro, poucos meios, pouca gente. Compreendendo isso tudo, há duas coisas que considero fundamentais e que podem ser feitas. Jornalismo é serviço público, por isso, se sou jornalista de um país, tenho de ter noção do território. Fiz um trabalho há uns tempos sobre a localização geográfica das notícias sobre cultura e o resultado foi avassalador. Fiz isso durante três meses para uma disciplina e o único equipamento que aparecia era o Centro de Arte Contemporânea Graça Morais, em Bragança. Se faço serviço público, e isso aplica-se aos políticos, tenho de saber que o território é abrangente, por isso tenho de o equilibrar”, aponta.

A curadora sublinha ainda que qualquer galeria ou plataforma de arte estará sempre disponível a ajudar os jornalistas a decifrar um discurso que possa ser visto como mais hermético ou inacessível.

“Nós também temos de ter esse trabalho aqui. Fazemos fotografias, damos material, escrevemos, explicamos por telefone, tudo o que for possível! Não ter possibilidade de ir aos sítios não pode ser desculpa. Tem que haver cuidado com aquilo que se está a tentar transmitir. O país já é pequeno, se ainda o tornamos mais pequenino…”, desabafa, em jeito de conclusão.

 

Palimpsestos

De 28 de setembro a 16 de novembro   gratuita 

Exposição coletiva de Sara Maia, Jorge Abade, Hélio Luis, Patricia Oliveira, Ricardo de Campos e Monica Mindelis, com curadoria de Helena Mendes Pereira.

De acordo com Helena Mendes Pereira, vivemos numa sociedade e num tempo em que nada do que vemos é real. Para irmos a um evento ou entrevista mascaramo-
-nos, fazemos um upgrade do que somos quotidianamente, queremos dar uma ideia melhor daquilo que somos. Mascaramos o que mostramos de nós próprios nas redes sociais. Os meios de comunicação mascaram aquilo que nos querem dar a ver. Tudo o que nós vemos é um palimpsesto de coisas, está sempre a ser raspado e a ser reescrito, diz a curadora. E há camadas, sobre camadas, sobre camadas de coisas… Helena pensou nesta exposição durante largos meses e o resultado é uma forma de combate à sociedade “analgésico” que somos, como lhe chama. Quando temos uma dor, tomamos um comprimido. E a dor desaparece. Não podemos sofrer, não podemos cair, não podemos sofrer por amor ou sentir ódio. Temos de estar na linha do controlo. A sociedade é um enorme palimpsesto e a curadora deseja lançar uma reflexão sobre isto mesmo. Porque é que estamos constantemente assim, porque não podemos ser nós próprios sem máscaras?

       

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