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Patrick Rocha: “Tudo o que sou, ao Big o devo”

Se há nove anos dissessem a Patrick Rocha que esta era a vida que iria ter, provavelmente o então rececionista de um hotel iria rir-se. Com 23 anos, solteiro, vivia ainda com os pais e tinha um emprego estável, já estava efetivo. A vida começou a mudar quando decidiu tornar real um sonho de há muito: adotar um rottweiler. Foi buscá-lo ainda cachorro, com nove semanas, e chamou-lhe Big. Tudo corria bem, cão e dono eram inseparáveis. 

A determinada altura, o Big começou a apresentar problemas comportamentais: era agressivo com outros cães e pessoas estranhas. Patrick deu por si a ver vídeos no YouTube e frequentar o maior número de formações possível para reverter o comportamento de Big. 

“Frequentei alguns cursos com outros treinadores para resolver o problema e não consegui. Foi então que comecei a tentar resolver os problemas por mim mesmo. Seminários, workshops, cursos online, comecei a investir a sério na área e foi assim que consegui resolver o problema do Big. Essa mesma aprendizagem permitiu-me ajudar centenas de cães que já passaram por mim até hoje”, explica.

Contrariando os muitos conselhos que ouvia e que lhe diziam que o melhor era “desfazer-se do cão”, dar o Big para adoção não era sequer uma hipótese equacionada e mantê-lo trancado também não. O que é certo é que, depois de várias técnicas de reforço positivo aplicadas, o comportamento de Big começou a mudar. Patrick já tinha confiança em sair com ele livremente – apesar de o ter sempre com trela, como manda a lei – e para todo o tipo de espaços. 

Os vizinhos de Patrick, ao verem a transformação do rottweiler, começaram a pedir ao jovem que treinasse os seus cães. Durante algum tempo Patrick manteve-se como rececionista: os treinos a cães eram um hobbie que lhe dava imenso prazer. A certa altura, os pedidos eram tantos que teve de fazer uma opção. Decidiu arriscar e fundou a sua própria empresa com o objetivo de treinar outros cães. A profissão ainda não é devidamente reconhecida, legalmente é um “prestador de serviços a animais de companhia”. Mas o que faz vai muito para além disso. Ficava assim para trás o emprego estável, mas à sua frente havia todo um mundo de sonhos para tornar reais. 

Quando falamos com Patrick, o treinador tem de consultar a agenda várias vezes. Reparamos que tem os horários todos preenchidos. Em cada campo, um animal e um dono de que se lembra imediatamente, apesar de serem imensos. Patrick explica-nos que há cães com todo o tipo de problemas, independentemente da raça ou porte. Há cães ansiosos, agressivos, desconfiados, assustados. A todos tem conseguido dar a volta – sempre que os donos cumprem as suas orientações – através da técnica de reforço positivo. Nunca foi mordido e trata cada um deles como se fosse o seu.

Em 2016, já casado, Patrick tem nova alegria na vida: o nascimento da filha. Em casa tinha o Big, a Foxy e o Lucky, mais dois cães. Patrick não quis facilitar, apesar do comportamento sereno de Big.

“Joguei na prevenção e gestão de risco. Fiz um trabalho muito árduo com a minha filha, com muito reforço positivo. Mas, como costumo dizer aos meus clientes, «se tem confiança no seu cão, faça tudo por não a perder». Quando eu estava em casa, o Big aproximava-se da minha filha, ia para o sofá, fazia tudo o que lhe apetecia. Se eu não estivesse, dizia à minha esposa para não haver contacto direto. Um pequeno descuido pode fazer com que percamos a confiança no nosso cão…”, diz-nos.

Patrick explica que, independentemente de se tratar de um Pincher ou de um S. Bernardo, qualquer cão pode morder. Se se sentir intimidado, com uma dor ou outro estímulo menos positivo, pode reagir e morder. E quando falamos de cães que já manifestaram problemas de agressividade, as recaídas são uma realidade perfeitamente plausível.

“Morder é a forma de eles comunicarem e temos de respeitar isso. Cabe-nos a nós, humanos, jogar pelo seguro. Devemos sempre apostar na prevenção”, sublinha.

O Big já não está vivo. Em fevereiro de 2018, Patrick teve de tomar uma decisão no mínimo dolorosa. Depois de vários derrames cerebrais que deixaram várias sequelas a Big – incluindo cegueira e falta de orientação –, Patrick decidiu-se pela eutanásia. A filha, na altura com dois anos, também pesou na decisão. O treinador tinha receio de que Big sofresse outro derrame cerebral em casa – ou que sentisse algum dos aspetos acima mencionados – e que um gesto da pequena fosse mal interpretado pelo cão, dando origem a uma desgraça.

O Big estava a sofrer, não havia a mínima hipótese de reverter o seu estado e a imprevisibilidade era uma realidade cada vez maior. Patrick, apoiado pelos vários veterinários que acompanhavam Big, tomou a decisão mais difícil da sua vida, mas antes disso levou Big a um último passeio pela praia e a comer gulodices, como tanto gostava. Patrick ainda se emociona quando recorda este momento, mas diz que não mudava nada. 

Há pouco tempo partilhou na internet os últimos momentos com o “cãopanheiro” e os vídeos tornaram-se virais. Como em qualquer exposição mediática, recebeu todo o tipo de comentários. Mas prefere relevar os menos bons e concentrar-se nos positivos.

“Nunca pensei que tivessem a visibilidade e mediatismo que tiveram! Recebi centenas de mensagens de apoio de veterinários de norte a sul do país a agradecer a partilha, já que a eutanásia continua a ser um tema delicado, por muito que às vezes seja a melhor opção”, explica.

Patrick diz-se feliz, não mudava absolutamente nada na sua vida. Diz que o trabalho continua a ser um hobbie que lhe dá sustento financeiro. É reconhecido a nível nacional e internacional. E, em todos os casos que chegam às suas mãos, só vê desafios em vez de impossíveis. Hoje em dia dedica horas a fio e grande parte da sua vida aos animais. Tudo por causa de um só cão.

 “Tudo o que sou, ao Big o devo. Foi o responsável por tudo o que sou hoje em dia. Não era apenas um cão”, diz, sorrindo.

 

Patrick Rocha
Rua dos Galos, n.º 11
Braga
t. 936 281 721
e.mail: [email protected]
Facebook: @patrickrochadogtrainer

       

1 Comentário

  • Thomaz

    O Patrick é um profissional espetacular, que tem um afeição enorme pelos cães, e uma paciência infindável com os donos dos cães. Quem procura um profissional qualificado, pode confiar nos serviços prestados pelo Patrick.

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