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Do doutoramento ao Yoga, da pressa ao equilíbrio: Gratitude – Arte do Yoga

Está um dia cinzento, frio, chuvoso. O vento sopra com força agitando as folhas das árvores. Entramos no Gratitude – Arte do Yoga de guarda-chuva na mão, sacudindo o casaco e o cabelo húmido. O espaço parece ter uma luz própria que contrasta com a da rua. A temperatura é amena, o estúdio aconchegante. Somos recebidos por caras sorridentes, terminou há pouco uma aula. Alunas e professora reúnem-se à volta da mesa, dispersam-se em cadeiras e sofá, partilham chá e chocolate. Hoje dão as boas–vindas a uma aluna estrangeira, partilham dicas e curiosidades sobre Braga e o Minho. Pouco a pouco começam a sair. Sorrimos ao pensar que naqueles minutos já esquecemos a lufa-lufa e o frio da rua: não se ouvem carros, barulhos incómodos, o vento parece ter amainado. Parece que já não estamos
na cidade.

Sandrina Damião é a proprietária do espaço. A professora de Yoga tem 41 anos – “mas um espírito muito jovem!” –, é casada e tem dois filhos, de dois e quatro anos. Por mais de uma época trabalhou na sua área de formação, Agricultura e Economia rural, em investigação científica aplicada. Fez o seu percurso em Universidades e organismos oficiais ligados à área em Portugal, Inglaterra e França. Teve uma vida rica, preenchida. Mas ainda faltava alguma coisa.

“Com o tempo estava cada vez mais descontente com a área. Havia uma certa tristeza pelo facto de às vezes não poder ser implementado aquilo que eu estudava ou recomendava devido a constrangimentos sociais ou orçamentais. A par disso, a minha profissão era de tal forma envolvente, ocupava-me tanto tempo e energia mental, que não tinha tempo para a minha vida pessoal e familiar. Sentia um grande desequilíbrio na minha vida e por isso é que procurei o Yoga, já em Inglaterra, em 2008”, explica.

A minha profissão era de tal forma envolvente, ocupava-me tanto tempo e energia mental, que não tinha tempo para a minha vida pessoal e familiar. Sentia um grande desequilíbrio na minha vida e por isso é que procurei o Yoga.

Começou a praticar e a sentir que a modalidade era o que lhe trazia equilíbrio e lhe permitia aguentar horas de maior trabalho e ritmos mais acelerados. O Yoga começou a ganhar cada vez mais peso na vida de Sandrina e o trabalho científico começou a ser menos importante. Começou a falar cada vez mais alto a vontade de se concentrar na vida familiar e de ter filhos.

“Quando engravidei disse que não conseguia ser mãe e ter aquela profissão ao mesmo tempo. Não estava contente, conhecia os meus limites, sabia que não ia ter espaço mental para educar uma criança e estar realmente presente na vida dela se tivesse a cabeça naquele trabalho sempre tão exigente. Decidi dedicar-me apenas à maternidade e fiquei muito feliz, mas para quem tinha tido uma atividade profissional tão intensa sentia que me faltava sempre qualquer coisa. No início foi mesmo um choque!”, desabafa.

Sandrina começou a pensar em arranjar um trabalho mais leve, mesmo que não correspondesse à sua área de formação. O marido, sempre presente, disse-lhe para investir mais tempo no Yoga, já que a fazia tão feliz. Uma formação nesta área começou a parecer uma hipótese sorridente.

“Não há coincidências”, diz a professora por várias vezes enquanto conversamos. Ainda em França, muda-se com a família para os arredores de Paris. Equacionava a melhor forma de fazer uma formação no centro da cidade quando o marido um dia chega a casa com um folheto na mão. Havia um espaço de formação mesmo ao pé da casa nova, com uma professora e metodologias que coincidiam exatamente com aquilo que Sandrina procurava. Fez a formação grávida, teve os bebés e continuou a formação.

“Praticar Yoga enquanto estamos grávidas é uma experiência incrivelmente profunda, daí ter sido uma das primeiras valências que coloquei aqui no espaço”, explica.

Foi mesmo em França que teve oportunidade de começar a dar aulas. Sentiu uma alegria tão imensa quando acabou de ministrar a primeira aula que disse ser capaz de o fazer todos os dias. Nunca tinha tido essa sensação. “Até era capaz de o fazer de graça e ainda me pagam para fazer isto?”, pergunta, sem conter as gargalhadas.

A família estava, por essa altura, devidamente instalada em terras francesas. Sandrina feliz com Yoga, o marido satisfeito com o trabalho. Mais concentrados na vida familiar e nos bebés que agora tinham nos braços, começaram a sentir mais a falta dos respetivos pais e familiares. Ter a mãe quase a tempo inteiro em casa foi a prenda que tinham decidido oferecer aos dois filhos, mas com o Yoga e novas rotinas, apesar dos horários flexíveis de Sandrina, sentiam a falta da rede familiar e do apoio dos avós dos bebés, algo que ambos consideravam crucial. Começaram a gizar a hipótese de regressarem a Portugal, o que não se veio a revelar tarefa simples.

“Nós emigramos no início de 2008 porque queríamos diversificar a nossa carreira, aprender outra língua e viajar pelo mundo. Chegamos a certa altura e sentimos que essa opção já tinha dado tudo o que tinha a dar para nós, agora só restava mesmo cultivar mais a parte familiar. Começámos a tentar perceber como estava efetivamente Portugal, informamo-nos, pesquisamos, e o Pedro começou a enviar currículos. Foi um processo ainda bastante longo”, relata.

Tiveram hipótese de ir para o Algarve, Mindelo e Porto. Após algumas contrariedades, surgiu a possibilidade de virem para Braga, o que lhes pareceu perfeito.

“O Pedro é mais cidade, eu sou mais campo. Aqui em Braga temos as duas coisas. Sou de Santo Tirso, ficava suficientemente perto de casa. O Pedro é lisboeta, mas sempre teve um grande fascínio pelo Norte. Ficamos muito felizes. No início ainda tinha o bebé muito pequenino e passava bastante tempo em casa, depois comecei a sair mais e a conhecer melhor a cidade. Adoro tudo! As pessoas, os locais… tudo! Não sou daqui, mas sinto que sou, sinto-me em casa”, diz, enquanto sorri.

Quando o segundo filho completou 18 meses começaram então a pensar na abertura de um espaço onde Sandrina pudesse dar as suas aulas. Não demorou muito até encontrarem o sítio ideal. Os amigos e a família foram cruciais na decoração e remodelação do espaço. Em pouco tempo, o Gratitude – Arte do Yoga abria portas, a 1 de outubro de 2018.

“Temos o serviço de aulas de Yoga e um espaço de Meditação Pranayama, com técnicas respiratórias, que está incluído na inscrição. Mas eu queria que o estúdio fosse mais do que isso, que fosse um espaço onde as pessoas pudessem vir sem máscaras, sentindo que isto é também um pouco delas, que podem sentar-se e beber um chá, desabafar se for preciso. No futuro gostava que este fosse também um espaço cultural, com workshops ou aulas. Há uma riqueza filosófica, cultural e histórica tão grande por trás do Yoga que é uma pena não dar a conhecê-la”, descreve a professora.

Sandrina diz que está feliz, mais feliz e preenchida do que outrora. O Yoga foi uma grande revolução na sua vida, “uma volta completa”, mas que lhe permitiu encontrar-se consigo mesma.

“Yoga é o encontro com nós mesmos, é encontrarmo-nos com a nossa parte boa, com a nossa parte infantil e alegre que tanta falta nos faz”, conclui.

Saímos do estúdio mais leves e com o último desejo de Sandrina para o Gratitude – Arte do Yoga: que cada aluno sinta que ali se vai encontrar com um amigo muito querido e especial que não é mais do que ele próprio. Sorrimos. Afinal o vento continua a soprar furioso, a chuva continua a cair, há carros que passam a todo o vapor, buzinas que inundam a rua, o telemóvel dá sinal de mensagens e chamadas sem fim. Nós é que nos esquecemos disso por uma hora.

 

Gratitude – Arte do Yoga

Rua Dr. Francisco Machado Owen, 220 r/c 4715-021 Braga
www.gratitudeyoga.pt | @gratitudeartedoyoga

e-mail: [email protected]
t. 253 686 024 | 966 762 672

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