Finanças

Garantia do Estado: um impulso real para os jovens na compra da primeira casa

Cátia Clemente,

Especialista em Crédito Habitação

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Nos últimos tempos, muito se tem falado sobre a Garantia do Estado, uma medida criada para apoiar os jovens até aos 35 anos na compra da sua primeira habitação. Com esta garantia, quem cumpre os requisitos pode beneficiar de um financiamento a 100% do imóvel, uma diferença substancial face ao limite de 90% imposto pelo Banco de Portugal. Contudo, alguns artigos e comentários na esfera pública têm sugerido que a medida não está a ser utilizada por quem realmente necessita, insinuando que apenas jovens com capitais próprios a estão a aproveitar. Como profissionais no setor do crédito, que diariamente analisam processos de financiamento, não podemos concordar com esta perspetiva. A realidade que observamos é bastante diferente. A maioria dos nossos clientes não tem os capitais próprios necessários para suportar os custos de entrada na compra de um imóvel sem esta medida. Basta olhar para os preços elevados da habitação em Portugal, resultado do desfasamento entre a oferta e a procura. Para muitos jovens, juntar os 10% exigidos para entrada, mais as despesas e impostos inerentes à compra, representa um desafio quase intransponível face aos seus rendimentos médios. Neste contexto, a Garantia do Estado tem sido, para muitos, a única solução para conseguirem adquirir a sua primeira casa. É importante desmistificar a ideia de que apenas quem tem dinheiro está a recorrer a esta medida. O acesso ao crédito é um fator determinante para a concretização do sonho da casa própria, e a possibilidade de financiar 100% do valor do imóvel representa uma verdadeira alavanca financeira para os jovens. Esta oportunidade permite-lhes deixar de pagar renda durante anos enquanto tentam juntar uma entrada, investindo desde já num bem próprio que pode, no futuro, ser rentabilizado. Claro que a medida levanta outras questões, como o impacto que poderá ter no mercado imobiliário. Se irá pressionar ainda mais a procura e dificultar a estabilização dos preços das casas, é algo que só o tempo dirá. Mas uma coisa é certa: esta política está a mudar vidas e a permitir que muitos jovens e casais finalmente tenham a sua oportunidade de entrar no mercado imobiliário. Portanto, a questão que se coloca não deveria ser se a medida está a ser bem utilizada, mas sim porque não deveria ser aproveitada por quem dela pode beneficiar. Afinal, quando uma solução viável e acessível é criada, não faz sentido deixá-la passar ao lado. Para os jovens que sonham com a casa própria, a Garantia do Estado não é apenas um apoio – é uma porta aberta para um futuro mais seguro e estável. No entanto, é fundamental que a compra seja feita de forma consciente, garantindo que não compromete a estabilidade financeira nem o futuro dos compradores em caso de eventuais alterações nos rendimentos.

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