foto: @Tiago Cerveira
entrevista

EM OFF com Daniel Pereira Cristo | Músico, cantautor e multi-instrumentista

Entre cordas que contam histórias, raízes que ecoam identidade e uma teimosia boa, daquelas que constroem caminhos, Daniel Pereira Cristo abre-nos a porta ao seu universo: um mundo onde Zeca Afonso inspira, Einstein seria convidado para jantar e o verão sabe a mergulhos no Cávado com os filhos. Entre cadernos que guardam ideias, pudins irresistíveis e sonhos de dar a volta ao mundo, o músico que vive para criar revela, EM OFF, o que o move, o que o inquieta e o que o faz acreditar que a música, tal como a vida, só faz sentido quando nasce de verdade.

 

Qual seria o título da tua autobiografia?

Daniel Pereira Cristo, o Músico Apaixonado.

Se pudesses viver dentro de um filme, qual escolherias?

Acho que gostava de me ver num qualquer filme surrealista do Tim Burton ou do Wes Anderson, naqueles ambientes fantásticos, filosóficos e engraçados.

Uma palavra que te descreve, atualmente?

Teimoso – espero que no bom sentido! No sentido de lutar muito para ter uma carreira como músico independente, no sentido de acreditar muito na importância da nossa música e instrumentos de raiz no panorama cultural português e de lutar para que eles tenham o lugar que merecem.

Qual é a tua música preferida?

Não consigo nomear uma só, desculpem (sorriso)! Mas, as minhas grandes referências na música são o Zeca Afonso (e a generalidade dos nossos incríveis cantautores: Fausto, Zé Mário Branco, Sérgio Godinho ou Jorge Palma, o Júlio Pereira na música instrumental a partir dos nossos cordofones portugueses e, da Galiza, os Berroguetto… cada qual com tanta música genial e maravilhosa, que recomendo mesmo que todos possam escutar e descobrir.

Quem gostavas de ter como convidado num jantar?

Como homem apaixonado pela ciência que também sou (sou licenciado em Física e Química pela Universidade do Minho), gostava de ter Albert Einstein – a mente mais brilhante de sempre. O mundo é e será sempre uma incógnita: a sua origem, os porquês…, mas a visão de Einstein foi deveras muito à frente, adorava tê-lo conhecido e falar sobre os mistérios do Universo.

Se só pudesses comer um prato para o resto da vida, qual seria?

Peixinho grelhado na brasa, regado com um bom azeite e alho picado. Para além de gostar tanto, acho que seria uma opção muito saudável (sorriso).

Café ou chá? Com ou sem açúcar?

Café sem açúcar, a puxar a atenção e o foco (sorrisos).

Qual é a sobremesa que nunca consegues recusar?

Pudim Abade de Priscos. Dizem que é calórico, que tem toucinho, que é uma bomba, isto e aquilo… mas, quando bem confecionado, é de facto a melhor sobremesa do mundo!

Verão ou inverno? E porquê?

Verão e o prazer infinito de o passar com os meus filhotes, porque como trabalhador independente, tenho essa possibilidade de trabalhar em casa e estar com eles 3 meses seguidos. E, nem que seja ao fim do dia, ir religiosamente dar um mergulho no Cávado, todos os dias. E, sempre que há um pouco mais de tempo, ir visitar um museu, andar de bicicleta, ir até ao mar com eles, etc… ou simplesmente o prazer de não fazer nada… à sombrinha com o ar quentinho à nossa volta.

Um livro que te marcou?

100 Anos de Solidão – uma das mais incríveis obras literárias de sempre, a incrível história escrita pelo Nobel Gabriel García Márquez (jornalista e ativista colombiano).

Qual é a tua cidade de eleição?

Roma e a sua beleza, o sol, a luz, os monumentos, a comida, os museus e a História, sempre com tanto por descobrir, tantas camadas… um dos principais centros do mundo antigo!

O que não pode faltar na tua mala ou mochila?

Um livro ou um caderno de notas, porque numa mente criativa, as ideias estão sempre a pulsar e há que registar.

Qual seria a tua habilidade superpoderosa?

O hiperfoco com a música, ora curtindo, ora em ensaio, mas especialmente a criar bandas sonoras. A criatividade que não sei de onde me vem, mas que me acompanha sempre e que parece não ter fim, juntamente com uma capacidade de trabalhar horas seguidas ou dias inteiros sem me cansar. Como dizia Confúcio: “Escolhe um trabalho de que gostes e não terás que trabalhar um dia na tua vida” – tenho essa sorte!

Qual é a primeira coisa que vês no telemóvel de manhã?

Os pendentes do WhatsApp, sempre muitas mensagens… nas vidas “a mil” que todos levamos…

Se pudesses dominar instantaneamente uma nova língua, qual seria?

Acho que seria a língua com mais nativos falantes do mundo – o Chinês Mandarim. Queria depois a oportunidade de fazer uma viagem pelo Oriente e descobrir essa cultura milenar, realmente diferente e que se tem tornado cada vez mais preponderante no mundo atual.

Qual é o teu lema de vida?

Como li num farol museu em San Diego, numa pequena digressão nos Estados Unidos que fiz pela Califórnia: “Do the best you can, with what you have, where you are!” (Faz o melhor que puderes, com o que tiveres, onde estiveres). Acho que se o fizermos, viveremos uma vida com sentido e sem culpas. No meu trabalho com a música de raiz, o meu lema, que procuro passar a miúdos e graúdos, é: “Saber quem somos, para melhor sabermos onde queremos ir e chegar”!

O que fazes para te animares num dia mau?

Lembrar-me que tenho que ser grato pelo tanto que tenho, lembrar-me de que há dias bons e dias maus… abraçar os meus filhos, tentar fruir o verde das árvores ou mar… inspirar fundo no seio da Natureza e dizer a mim próprio que tudo se há de resolver.

Preferias viajar para o passado ou para o futuro? Porquê?

Assusta-me o passado por tanta desigualdade que ele teve e assusta-me o futuro por essa mesma razão, por a desigualdade dar mostras de se querer instalar novamente. Numa visão mais despreocupada e até romântica, gostava de sentir e visitar o início das grandes civilizações antigas e as suas manifestações culturais.

Viagem de sonho?

Uma volta ao Mundo com a minha família, a minha mulher Filipa e os meus filhotes Diogo e Luís. À aventura, com tempo, fruindo a diversidade cultural deste mundo e desfrutando das suas belezas, arquitetura, cultura, música, gastronomia e História. A “pedir”, pede-se o máximo.

Clube do coração?

Sporting Clube de Braga e mais nenhum!

Qual foi a coisa mais inesperada que aprendeste recentemente?

Nunca ter as coisas como garantidas… especialmente a saúde (porque vemos sempre gente próxima com problemas e a definhar). Como dizia o avô da minha mulher: “Quem tem Saúde e Liberdade, é tão rico e não o sabe”! Uma frase que transformei em single do meu novo álbum.

Qual é o teu guilty pleasure (Ou seja, que coisa gostas tanto de fazer, mas gostas pouco de confessar)?

Procrastinar no sofá a ver televisão e a comer um petisco qualquer (sorrisos).

Qual o maior medo que tens?

Que o mundo, o meu país, a minha cidade, os meus amigos, a minha família ou os meus filhos não estejam bem.

Quem é o teu ídolo?

Os grandes ativistas da Humanidade: Nelson Mandela, Mahatma Gandhi, Aung San Suu Kyi, Aristides de Sousa Mendes, os nossos Capitães de Abril, etc, e a sua abnegação e coragem de lutar pelos direitos dos homens e pelo bem comum! Serão sempre uma grande inspiração e exemplo!

Uma memória que nunca esquecerás?

A nível pessoal, ser pai e construir uma família. Profissionalmente, ganhar o Prémio Carlos Paredes 2018 e fazer o concerto em nome próprio na passagem de ano 18/19 num repleto Terreiro do Paço em Lisboa, com banda grande e com convidados especiais como Ana Bacalhau ou Tatanka, para uma plateia de mais de 200 mil pessoas.

 

 

 

 

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