O Dia Mundial da Saúde Mental comemora-se a 10 de outubro e lembra
a importância de se falar e valorizar este tema. Neste sentido, a Revista
Minha esteve na Casa de Saúde do Bom Jesus, em Braga, e, em modo
de partilha, juntamo-nos a Catarina Iglesias, responsável pelo Serviço
de Psicologia da Casa de Saúde, a João Tiago, professor da Escola
de Psicologia da Universidade do Minho, a Laura Koppensteiner, que
terminou agora o mestrado em Clínica e Psicoterapia de Adultos e
também à utente da Unidade Sócio Ocupacional do GIS, Dalila Ferreira,
numa conversa informal que explora a relevância da temática e o impacto
que tem na sociedade.
A pandemia de Covid 19 foi um dos assuntos em cima da mesa. Apesar do impacto negativo na sociedade, foi também o ponto de partida para se abordar com maior enfase a saúde mental, desencadeando várias doenças associadas, como a ansiedade e a esquizofrenia. Catarina Iglesias, questionada sobre o escalar desta temática durante a crise pandémica, confirmou que se tornou mais evidente a necessidade de ajuda psicológica por parte da população. «O isolamento fez realmente com que muitos problemas, que até estavam um bocadinho escondidos, aparecessem com maior intensidade, nomeadamente ansiedade, algumas fobias e até outro tipo de doença mental, como esquizofrenia», afirmou. Por seu turno, João Tiago, de um ponto de vista mais científico, confirmou que, fruto da sociedade em que vivemos hoje em dia, onde as exigências são enormes e onde há diversas dificuldades a nível financeiro, profissional e também social, o país não está realmente preparado para responder a esta questão. Poderemos, então, estar a falar de uma segunda pandemia? «A verdade é que é um indicador muito, muito relevante e preocupante. Há um aumento dos suicídios, nomeadamente nos mais jovens e o aumento deste número é preocupante», afirmou o professor. «Há pessoas que sofrem diariamente por ansiedade, por depressão, por burnout e que passam uma vida inteira em grande sofrimento, sem qualquer tipo de resposta eficaz ao seu problema. E Portugal não está preparado, infelizmente, para esta resposta. O Serviço Nacional de Saúde não está preparado», relatou João Tiago. Uma vez que os jovens, que são a faixa etária mais preocupante nos dias de hoje, questionamos Laura Koppensteiner sobre a forma como estas patologias afetam os mais novos. O estigma permanece, mas o aspeto interessante que a estudante salientou diz respeito ao medo que existe perante a família.
«Há também, curiosamente, nos jovens, uma baixa procura por causa da família, porque não sabem como vão abordar a família em relação ao facto de precisarem de ajuda psicológica».
«Há também, curiosamente, nos jovens, uma baixa procura por causa da família, porque não sabem como vão abordar a família em relação ao facto de precisarem de ajuda psicológica», explicou, sublinhando a necessidade de trabalhar nesse sentido e de arranjar ferramentas para que a população jovem tenha onde recorrer, caso não seja possível fazê-lo junto de familiares. E ninguém melhor do que a utente Dalila Ferreira para nos falar deste estigma e do medo que também a acompanhou no seu processo. Começou por nos contar que era jovem e que foi difícil assumir que sofria de alguma patologia que não era considerada “habitual” nos anos 90. «A entrada na universidade foi um choque muito grande. Tive então que ser internada quando me deu o primeiro ataque, onde não me foi logo detetada a esquizofrenia, e o internamento foi aqui na Casa de Saúde das Irmãs Hospitaleiras», revelou. O processo foi longo mas quando, finalmente, lhe foi dado o diagnóstico, foi necessário abdicar da sua carreira como professora. Desde 2018, faz parte do GIS (Gabinete Integrado de Serviços de Saúde Mental), onde passa os seus dias, e afirma que a partir daí nunca teve uma recaída de internamento. «O GIS é uma casa, é uma família. Há companheirismo, há amizade. Os rótulos não existem, não há estigma. Fora dali, infelizmente ainda existe tudo isso», relatou. Por todas estas razões, torna-se imperativo ouvir a voz da Saúde Mental. Seja a esquizofrenia, a depressão, a ansiedade ou outra patologia de foro mental, é fundamental estarmos atentos aos sinais…aos nossos e aos dos que nos rodeiam. E o Dia Internacional da Saúde Mental serve exactamente para percebermos a dimensão dos desafios nas nossas vidas, que podem dificultar o regulamento das nossas emoções e resultar em problemas psicológicos. Um dia fundamental para que, cada vez mais, estas doenças sejam vistas como outras que são já consideradas “normais” pela sociedade.