Sem Treta

Rede de percursos pedestres reforça oferta turística de Vila Real

Uma rede de percursos pedestres homologados é a nova atração turística de Vila Real. Sete trilhos,
num total de 94 quilómetros, convidam a descobrir um território entre o Alvão e o Marão, destino
da biodiversidade e porta de entrada para o Douro Património da Humanidade.

As videiras aprimoram as uvas que hão de alegrar convivas em vários cantos do mundo, depois de
transformadas em vinho. Deixando de prestar atenção aos cachos, que jogam às escondidas
com as folhas, e olhando para o horizonte, vêse a paisagem descomunal do Douro Vinhateiro. Os montes
esculpidos com socalcos estendem-se até às nuvens, que formam um cordão branco a contrastar com o azul que pinta o céu, numa tarde soalheira.
Estamos em Nogueira, no concelho de Vila Real, um dos pontos do PR3 VRL – Percurso Pedestre do Douro Vinhateiro I, um dos sete trilhos que este município de Trás-os-Montes está a lançar.

um total de 94 quilómetros, a nova oferta turística pretende levar os pedestrianistas a descobrirem o concelho passo a passo, atraindo visitantes ao mundo rural.
A vereadora com o Pelouro do Turismo, Mara Minhava, explica que «este projeto está alinhado com a estratégia que o Município tem vindo a desenvolver na última década dedicada ao seu património natural».

Falando na sessão de apresentação da rede de percursos pedestres, que decorreu no final do mês de julho, na Fnac do Nosso Shopping, a autarca destaca que esta é uma «forma de valorizar o mundo rural». «Mais do que um projeto de valorização da natureza, este é um projeto que trará enorme retorno económico porque é muito valioso do ponto de vista turístico», afirma.

Na mesma linha, Domingos Pires, dirigente da Portugal NTN, empresa responsável pela implementação desta rede de percursos pedestres, sustenta que o projeto pega na infraestrutura física colocada no terreno para a transformar num produto turístico que possa alavancar as comunidades locais.

Por seu turno, o presidente da Câmara Municipal, Rui Santos, considera que «este é um investimento imediato», na ordem 144 mil euros, financiado em 85% pelo Programa Operacional Norte 2020, que é feito «a pensar no futuro». «Vila Real é o destino da biodiversidade, com o Marão e o Alvão, porta de entrada para o Douro Património da Humanidade. É um território muito interessante, que vale a pena visitar, ficar e voltar», assegura.

Assim, no âmbito do Projeto Tríade Turística, para além da sinalização dos percursos pedestres, homologados pela Federação de Campismo e Caravanismo de Portugal, foi desenvolvido material informativo para guiar os caminhantes. Existe um mapa da rede, há folhetos para cada um dos trilhos e em breve vai estar em pleno funcionamento a aplicação móvel “Feel Vila Real”, com todas as informações de que os visitantes necessitam para conhecer o território em segurança, desde os traçados dos percursos, a locais para visitar, comer ou dormir, incluindo a possibilidade de se reportar alguma anomalia detetada ao longo da caminhada.

No terreno, no início de cada uma das pequenas rotas, há painéis informativos e uma placa direcional para que ninguém tenha dúvidas sobre o sentido que deve seguir. O texto está em português, mas com um QR Code que remete para as versões em inglês, francês e espanhol, línguas em que estão escritos os folhetos relativos a cada um dos trilhos.

Para já, estão homologados os trilhos PR2 VRL – Percurso Pedestre do Vale do Corgo Norte; PR3 VRL – Percurso Pedestre do Douro Vinhateiro I; PR6 VRL – Percurso Pedestre das Florestas do Marão; PR7 VRL – Percurso Pedestre do Carvalhal de Gontães; PR8 VRL – Percurso Pedestre do Mineiro; PR9 VRL – MDB – Percurso Pedestre do Alvão | Barragens Barreiro – Lamas de Ôlo; e PR10 VRL – Percurso Pedestre do Fojo do Lobo, havendo a possibilidade de inclusão de novos traçados nesta rede.

Descobrir o território passo a passo

Percorrer os trilhos de Vila Real é sinónimo de passar por paisagens diversificadas, em que a natureza e o homem se unem em laços de comunhão, de descobrir pontos de interesse distintos e de viver momentos como aquele em que a calma do rebanho obriga o trânsito automóvel a seguir pela estrada ao seu ritmo.

Foi para dar a conhecer o potencial turístico do concelho que a apresentação da rede de percursos pedestres incluiu uma visita ao território dirigida à comunicação social, com passagem por locais pertencentes a diferentes trilhos, mas que são demonstrativos do que os pedestrianistas podem encontrar.

A próxima paragem é no Miradouro Vintage Camping Alvão, com vista para a cidade de Vila Real, com a curiosidade de a estrutura do miradouro ter o formato de um carro de bois, em homenagem à tradição agrícola de Lordelo.

Na fronteira dos concelhos de Vila Real e Mondim de Basto, pode-se percorrer o PR8 VRL – Percurso Pedestre do Mineiro, que evoca a memória da exploração mineira do volfrâmio, que ocorreu nesta região durante boa parte do século XX, num trilho marcado pelas paisagens de montanha e pela agricultura intensiva do vale, orientada para a produção de erva para o gado (raça bovina maronesa). Destaque para a capela de Nossa Senhora de La Sallete, padroeira dos mineiros, de onde se contempla o vale da Campeã e a Serra do Marão.

No périplo pelo território, nos dias quentes, a Cascata de Galegos da Serra, na ribeira de Arnal, freguesia de Vila Marim, convida para um mergulho. Perto da estrada, basta seguir com cuidado por um caminho de pedras para chegar à queda de água localizada em pleno Parque Natural do Alvão.

Segue-se um dos locais mais emblemáticos do concelho, a Casa de Mateus, onde há programas que permitem visitar a casa, a capela e os jardins. É possível fazer provas de vinhos, entre os quais o famoso Mateus Rosé, produzido pela Sogrape, e ver as antigas garrafas baixas e bojudas desta marca, inspiradas nos cantis dos soldados da Primeira Guerra Mundial.

O esplendor do edifício remonta ao século XVIII, quando António José Botelho Mourão, 3.o Morgado de Mateus, decidiu reconstruir o palácio. É atribuído ao arquiteto e decorador italiano Nicolau Nasoni o traço daquele que é considerado como um dos monumentos mais representativos do Barroco no Norte de Portugal. Destaque também para a biblioteca composta por 6000 volumes, incluindo os documentos relativos à edição monumental de “Os Lusíadas”, de 1817, da responsabilidade do Morgado de Mateus, D. José Maria de Souza-Botelho.

Passear pelos Passadiços do Corgo

Desfrutar de um paraíso natural dentro da cidade é o que propõem os Passadiços do Corgo, entre o Bairro dos Ferreiros e a Vila Velha. Aliando a colocação de passadiços à recuperação de um percurso pedonal antigo, este empreendimento permite o acesso às zonas mais escarpadas do rio Corgo.

Nesta caminhada é possível andar junto ao rio Corgo, parar num ponto de observação de aves e avistar a Central do Biel, uma das primeiras centrais hidroelétricas em Portugal, que atualmente está a ser alvo de um processo de musealização. O passeio desperta a curiosidade para visitar o património do centro da cidade, tal como a Casa dos Marqueses de Vila Real, em que se destacam as janelas Manuelinas, e a Sé, antiga igreja de arquitetura gótica do convento de S. Domingos, fundado em 1424, que sofreu adaptações ao longo dos séculos.

Ruma-se então até à Vila Velha, local de origem da cidade, onde existem as ruínas das antigas Portas da Vila, nas imediações do Museu da Vila Velha. Os museus do município de Vila Real têm entrada gratuita.

Jorge Mourão, da Pastelaria Nova Pompeia, recorda que a história do covilhete remonta ao tempo em que as tendeiras levavam as frigideiras de Braga para as festas de Santo António em Vila Real.

Vendo aqui uma oportunidade de negócio, as mulheres de Vila Real começaram a fazer estas empadas nas formas de barro preto de Bisalhães – o processo de fabrico do barro preto de Bisalhães é Património Cultural Imaterial da Unesco desde 2016.

Inicialmente, era massa de pão recheada com um preparado em que «a carne era cortada aos bocadinhos e refogada com cebola, alho e louro. Quando ficava alourada, juntava- se uma pinga de vinho tinto e assim sucessivamente até cozer. Quando estivesse cozida, adicionava-se água, enchidos e presunto. Este preparado era moído no passe-vit», conta Jorge Mourão.

Nesta zona mais antiga fica a igreja de D. Dinis, ao lado da qual está a capela de S. Brás, associada a uma das tradições gastronómicas da cidade. Dita a tradição que no dia de Santa Luzia, 13 de dezembro, as raparigas dão aos rapazes o pito, um pastel de massa tenra com recheio de abóbora. Os rapazes retribuem no dia de S. Brás, com uma gancha, um doce em forma de cajado feito de açúcar caramelizado.

Em matéria de doçaria, destaque para a crista de galo, uma das Sete Maravilhas Doces de Portugal. Este é um doce conventual de massa tenra, com um recheio de ovo, amêndoa e maçã, recortado com uma forma semelhante à crista de um galo.

Um dos ícones gastronómicos com maior destaque é o covilhete, iguaria feita com massa folhada recheada com carne de vaca, que faz parte da mesa de Vila Real, vencedora das 7 Maravilhas à Mesa.

Com a passagem do tempo, relata, a massa passou a ser massa folha «enriquecida com um bocadinho de banha». Atualmente, fora de Vila Real, já é possível comprar esta empada ultracongelada no Auchan e lojas gourmet, fruto da aposta neste produto feita pela empresa Soul&Flavors.

Luís Mendonça, membro da Confraria do Covilhete, explica que, depois de registado o nome “Covilhete de Vila Real”, está a decorrer o processo de qualificação do produto. O objetivo é que o covilhete seja um produto com Indicação Geográfica Protegida (IGP). «O que já foi feito pela Confraria do Covilhete permitiu um salto enorme. Hoje, todas as padarias da cidade fazem o covilhete, que passou a ser uma imagem de marca do concelho», argumenta, salientando que o Município também tem ajudado na promoção.

Em matéria de gastronomia, as opções na cidade são diversificadas, tendo uma das escolhas da organização sido o Bons Tempos, restaurante que propõe «gastronomia regional com pitadas gourmet», confecionando «as mais antigas receitas preparadas com um toque de modernidade».

Outra das propostas foi o Terra de Montanha, restaurante que iniciou a sua atividade em 1998, dedicando-se «em exclusivo à gastronomia e enologia de Trás-os-Montes».
A decoração traduz o foco nos pergaminhos vitivinícolas da região, sendo possível comer dentro de pipas de vinho adaptadas a mesas.

Já um elemento diferenciador do Bacalhau & Companhia são as tábuas de bacalhau e de carne, pensadas para grupos. Fora do centro de Vila Real, em Relva, União das Freguesias de Borbela e Lamas de Olo, o restaurante Encosta do Alvão aposta em «comida tradicional em forno a lenha e petiscos», servida num ambiente familiar.

Os participantes no périplo ficaram instalados no Hotel Miracorgo, onde é possível ver a cidade, o rio Corgo e respetivos passadiços, bem como usar a piscina.
Depois do descanso, com as energias revigoradas, fica-se com vontade de pôr novamente os pés ao caminho.

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