“O meu irmão” marcou a entrada definitiva de Afonso Reis Cabral no panorama literário português. Vencedor do Prémio LeYa 2014, o autor tinha apenas 24 anos quando mereceu a distinção. A história, que à partida poderia ser relativamente simples, mantem-nos agarrados ao livro – que além de um grande livro, é um livro grande, com 368 páginas – do princípio ao fim.
Miguel tem 40 anos e nasceu com Síndrome de Down. Quando os pais morrem, o que acontece a este filho? Surpreendentemente, o irmão – apenas um ano mais novo – decide pedir a sua guarda e assumir essa responsabilidade. A relação entre os dois é complexa: há alturas em que o coração do leitor pode ser inundado pelo amor que une os dois e há fases em que esse amor assume a forma de nó na garganta perante as situações que nos são descritas. É indiscutível a beleza da relação: Miguel não percebe nada do mundo, vive-o com umas lentes inacessíveis ao comum dos mortais. O irmão guia-o através dos problemas e obstáculos que surgem a toda a hora, umas vezes pacientemente, outras impelido apenas por aquela que parece ser uma obrigação originada pelo laço sanguíneo.
Há ainda um elemento externo que pode ameaçar as fundações da relação entre os irmãos: chama-se Luciana e é o amor da vida de Miguel. Devo explicar uma coisa aqui: o irmão de Miguel quando assumiu a sua guarda, parece tê-lo feito de forma a expiar os seus pecados. Divorciado e com a vida “num caco”, concentrou as esperanças da salvação no irmão. Quando se apercebe que, para o irmão, Luciana é muito mais importante do que qualquer outra coisa no mundo, tem de lutar contra os seus próprios demónios, como a inveja, o ciúme e a frustração.
O livro começa do fim para o início e os saltos – analepses – ao longo da história são constantes. É mesmo necessário lê-lo por inteiro para perceber a relação entre os dois irmãos e arrisco dizer que só uma segunda leitura é capaz de evidenciar pormenores que ficam escondidos à primeira e que nos permitem desfrutar realmente desta história. Considero que “O meu irmão” é um hino ao amor, um hino à família e, sobretudo, um hino aos direitos das pessoas com deficiência. Também elas podem amar, viver felizes e completas, desde que lhes seja dada essa oportunidade. Note-se que também o autor tem um irmão com Síndrome de Down, pelo que muitas das pinceladas da história têm, pelo menos, um fundo de verdade ou inspiração. Ainda não voltei a ler nada de Afonso Reis Cabral, mas fiquei curiosa. É um escritor capaz de escrever sobre coisas complicadas de forma simples, o que me cativa muito. Não falta escrita hermética por aí… e este autor contraria-a de forma sublime. Não há grandes artifícios no texto ou palavras que nos obriguem a abrir o dicionário de cinco em cinco minutos. O livro oferece-nos também uma belíssima descrição de uma aldeia no interior de Portugal, em contraste com o bulício da cidade (neste caso, do Porto). Quase ficamos com vontade de fazer as malas e ir… sem data de regresso.
Miguel tem 40 anos e nasceu com Síndrome de Down. Quando os pais morrem, o que acontece a este filho? Surpreendentemente, o irmão – apenas um ano mais novo – decide pedir a sua guarda e assumir essa responsabilidade. A relação entre os dois é complexa: há alturas em que o coração do leitor pode ser inundado pelo amor que une os dois e há fases em que esse amor assume a forma de nó na garganta perante as situações que nos são descritas. É indiscutível a beleza da relação: Miguel não percebe nada do mundo, vive-o com umas lentes inacessíveis ao comum dos mortais. O irmão guia-o através dos problemas e obstáculos que surgem a toda a hora, umas vezes pacientemente, outras impelido apenas por aquela que parece ser uma obrigação originada pelo laço sanguíneo.
Há ainda um elemento externo que pode ameaçar as fundações da relação entre os irmãos: chama-se Luciana e é o amor da vida de Miguel. Devo explicar uma coisa aqui: o irmão de Miguel quando assumiu a sua guarda, parece tê-lo feito de forma a expiar os seus pecados. Divorciado e com a vida “num caco”, concentrou as esperanças da salvação no irmão. Quando se apercebe que, para o irmão, Luciana é muito mais importante do que qualquer outra coisa no mundo, tem de lutar contra os seus próprios demónios, como a inveja, o ciúme e a frustração.
O livro começa do fim para o início e os saltos – analepses – ao longo da história são constantes. É mesmo necessário lê-lo por inteiro para perceber a relação entre os dois irmãos e arrisco dizer que só uma segunda leitura é capaz de evidenciar pormenores que ficam escondidos à primeira e que nos permitem desfrutar realmente desta história. Considero que “O meu irmão” é um hino ao amor, um hino à família e, sobretudo, um hino aos direitos das pessoas com deficiência. Também elas podem amar, viver felizes e completas, desde que lhes seja dada essa oportunidade. Note-se que também o autor tem um irmão com Síndrome de Down, pelo que muitas das pinceladas da história têm, pelo menos, um fundo de verdade ou inspiração. Ainda não voltei a ler nada de Afonso Reis Cabral, mas fiquei curiosa. É um escritor capaz de escrever sobre coisas complicadas de forma simples, o que me cativa muito. Não falta escrita hermética por aí… e este autor contraria-a de forma sublime. Não há grandes artifícios no texto ou palavras que nos obriguem a abrir o dicionário de cinco em cinco minutos. O livro oferece-nos também uma belíssima descrição de uma aldeia no interior de Portugal, em contraste com o bulício da cidade (neste caso, do Porto). Quase ficamos com vontade de fazer as malas e ir… sem data de regresso.
De acordo com a LeYa, “Afonso Reis Cabral nasceu em Lisboa em 1990 e cresceu no Porto. É o quinto de seis irmãos. Escreve desde os 9 anos. Em 2005 publicou o livro Condensação, no qual reuniu poemas escritos até aos 15 anos. (…) É licenciado em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, tendo recebido o Prémio Mérito e Excelência atribuído ao melhor aluno do curso. Sempre se imaginou a trabalhar na área editorial. Trabalhou como revisor em regime de freelance e desempenha atualmente as funções de editor”.
Flávia Barbosa