A Associação Comercial e Industrial de Vila Nova de Famalicão nasceu em 1911. Há mais de cem anos que defende os interesses e acompanha as necessidades dos comerciantes e industriais do concelho inscritos como sócios. Numa altura em que as associações comerciais e industriais se reafirmaram como essenciais, o Presidente da Direção, Xavier Ferreira, explicou à revista Minha como é que estes setores vivem momentos frágeis como aquele que o mundo atravessa e que tipo de apoios podem esperar.
A Associação Comercial e Industrial de Vila Nova de Famalicão nasceu em 1911. Há mais de cem anos que defende os interesses e acompanha as necessidades dos comerciantes e industriais do concelho inscritos como sócios. Numa altura em que as associações comerciais e industriais se reafirmaram como essenciais, o Presidente da Direção, Xavier Ferreira, explicou à revista Minha como é que estes setores vivem momentos frágeis como aquele que o mundo atravessa e que tipo de apoios podem esperar.
Quantos associados tem a ACIF? A ACIF tem cerca de 900 associados. Ao longo dos últimos anos tem havido um aumento do número de associados, o saldo tem sido positivo. Na última crise, em 2008 e 2009, houve o encerramento de várias empresas e aí perdemos alguns associados. Ao longo dos tempos temos reconquistado associados em diversas áreas, sendo que a predominância ainda é a comercial.
Devido à pandemia como está a atividade comercial e industrial do concelho? A industrial, tendo um pendor têxtil e alimentar, conseguiu reinventar-se e não tem sofrido tanto quanto a comercial. A atividade comercial tem sido muito fustigada por esta pandemia, especialmente pelo medo. É evidente que o vírus tem muito mais de desconhecido do que de conhecido e traz à população um conjunto de receios e um conjunto de medos que depois vai ter implicações nas saídas à rua, nas festas, nos eventos… O desaparecimento dos eventos veio provocar na atividade comercial, especialmente do calçado, vestuário e restauração, um quase cortar completo da atividade. Esta rotura prejudicou imenso a atividade económica.
Tem havido falências? Em setembro e outubro sabemos de empresas que já não reabriram. Temos tido diversas queixas nesse sentido… As que aderiram ao layoff ainda não encerraram e têm aguentado os postos de trabalho. Outras que não o fizeram optaram por encerrar.
Com perspetiva para abrir no futuro? Dificilmente. São pequenas lojas que já não voltarão a abrir.
Esta dinâmica vai criar um vazio no setor? As cidades estão a ser tomadas pelos grandes grupos. Famalicão não foge à regra. Começamos a ver grandes marcas a tomar conta do espaço e dos espaços com melhor localização na cidade. Isso altera completamente aquilo que é a dinâmica comercial do passado. Hoje as grandes marcas querem estar também nas cidades e perceberam que junto das cidades, sem ser em centros comerciais, poderão ter sucesso. Já estão a fazê-lo em Famalicão.
O comércio tradicional vai perdendo força? O comércio de proximidade está envelhecido. A geração mais velha, os grandes comerciantes dos anos 60/70, hoje está com 80 anos. Não é uma atividade tão apelativa porque a concorrência é totalmente diferente entre as grandes superfícies e o comércio tradicional. Começou a deixar de ser apelativa para a juventude. A juventude foi ingressando, e ainda bem, nas universidades. Cada vez mais os jovens estão nas universidades com aspiração a outro tipo de atividades. O comércio foi perdendo esse fulgor que outrora tinha. Nota-se que está a precisar de apoios, está a precisar de se reinventar. Enquanto um jovem tem a capacidade e a elasticidade mental, a força física e anímica para tentar mudar e alterar procedimentos, os mais velhos não têm muita vontade. Já fizeram um percurso de muito trabalho, de muita dedicação, de muito sacrifício. O comércio é uma atividade de muito sacrifício! Em termos de horários, de dedicação, em termos de capacidade. No fundo, os comerciantes das pequenas zonas como Famalicão acabam por ter uma função muito para além do simples vender. Acabam por ser o psicólogo da terra e aquele que vai ouvindo as reclamações do que está mal na cidade, no mundo, na família… e isso também desgasta.
O setor precisa de apoio… Estatal, local? Está a referir-se a que apoios, concretamente? Vários apoios. O comércio teve alguma pujança quando existiram mecanismos europeus que foram muito bem aproveitados pela maior parte das cidades. A ACIF deu um grande contributo na altura com o PROCOM (Programa de Apoio à Modernização do Comércio). Isto há mais de 20 anos, quando várias lojas foram intervencionadas e quando houve mais investimento no comércio. Modernizaram-se em termos de imagem, de procedimentos, de equipamentos informáticos, de recursos humanos com formação em diversos fatores que foram importantes. A partir daí nunca mais houve nenhum incentivo e nenhum programa. Isto veio penalizar as empresas porque não têm nenhum incentivo.
A indústria tem tido muito mais apoios, tem tido visão e hoje vê-se também a nova questão colocada pelos governantes da reindustrialização, de alteração do paradigma daquilo que é a indústria nacional, em que se percebeu que estávamos dependentes do exterior e muito concretamente da China. Hoje estamos a reinventar os processos e o tipo de produtos que nós próprios fabricamos. A parte da grande distribuição tem o poder na mão e a parte do pequeno comerciante está a definhar todos os dias, não tem incentivos. As autarquias – e Famalicão teve um papel importante nisto – tentam de alguma forma minimizar os custos associados com diminuições de derrama com “Lojas com História”, diminuindo-lhes a parte do IMI, ou com a isenção nesta altura da pandemia do custo das esplanadas, uma atitude muito importante, acabando com o espaço fechado e criando dinâmica na cidade. Mas isso não chega, especialmente nesta altura em que não havendo eventos culturais, toda a dinâmica comercial e económica está parada.
Defende o lançamento de um programa que venha revitalizar o comércio? Há dias o meu colega de Braga dizia que é importante injetar dinheiro nas empresas. É verdade que as empresas não podem depender de subsídios, mas situações extraordinárias precisam de medidas extraordinárias. É assim que tem de ser pensado. As empresas têm de ser apoiadas: mecanismos como o layoff foram aceitáveis, mas tem de haver medidas concretas em que a tesouraria da empresa seja imediatamente compensada. Eu defendo que a medida mais fácil e mais rápida seria isentar as empresas da TSU durante alguns meses. A carga fiscal sobre o trabalho é enormíssima! Se a entidade patronal estivesse isenta dessa contribuição durante um período de tempo em áreas específicas como o comércio de proximidade, teríamos aqui a possibilidade de melhorar a tesouraria. Esta possibilidade das moratórias ajudou, mas não significa que a situação esteja resolvida. Significa adiar um problema, um problema que se vai agudizar. Penso que é insuficiente o apoio que está a ser dado às micro e pequenas empresas.
E o Mercado Municipal, que vai reabrir no próximo ano, também é uma janela de oportunidade, certo? Acho que a abertura de um espaço que é atrativo em termos visuais pode ser diferenciador. Pode ter uma nova centralidade da própria comunidade. Se nós conseguirmos trazer para dentro do mercado lojas de produtos locais, cafés, restaurantes e bares vamos fazer com que a própria juventude se fixe nos espaços sem perturbar o ambiente e o descanso da cidade.
Acredito que é um elemento âncora, um novo comércio da cidade. Acredito que com esta reestruturação da cidade em termos de obras vai dinamizar o comércio local e vai atrair novos clientes e de outras origens. Famalicão tornou-se nos últimos anos muito atrativa em diversas áreas. Primeiro, em termos dos meios rodoviários: já há pessoas que são do Porto e moram em Famalicão. É fácil entrar na autoestrada, a habitação é mais barata do que no Porto. Em termos de hotelaria temos atraído já novas cadeias para se instalarem em Famalicão. Estamos a ganhar uma dinâmica empresarial que está a atrair pessoas de fora do concelho e isso é fundamental. Nós não vivemos só com os de casa. Temos obrigatoriamente de atrair toda a zona envolvente e as proximidades de Famalicão.
A ACIF tem proposto algumas medidas para mitigar os efeitos negativos da pandemia? Temos tido a noção perfeita, e isto é importante também para a própria comunidade, que quanto menos bem estivermos em termos comerciais, em termos locais e em termos de economia, mais importantes são as associações empresariais.
Nesta pandemia foi muito importante o posicionamento das associações comerciais e industriais. A ACIF desenvolveu em permanência um conjunto de atividades de informação de apoio jurídico, de comunicação, como nunca o tínhamos feito de forma online. Tivemos um trabalho empenhado para não deixar nada que fosse importante por transmitir aos nossos associados. Criamos em parceria com a Câmara Municipal um projeto que tínhamos chamado “Comércio da Vila”. Foi tentar fazer com que os comerciantes tivessem uma ferramenta e pudessem ser ajudados com uma plataforma conjunta que poderá trazer maior impacto!
Fizemos o “Comércio da Vila” em parceria com a autarquia para tentarmos dinamizar o comércio online aqui das lojas da terra. Infelizmente não teve o impacto que nós desejaríamos, precisamente pela dificuldade que as empresas hoje têm de se readaptarem. A grande competição que há no mercado online, e especialmente com os preços, dificulta a ação daqueles que têm diferenciação pelo produto. A camada mais jovem da população quando procura o que quer que seja, vai procurar o produto-preço e não produto-serviço. Isto dificulta a ação. Naturalmente o online para as grandes marcas já é um procedimento que até é mais fácil porque lhes retira necessidade de ter colaboradores nas lojas. É um procedimento já completamente mecanizado para esse fim. Para as lojas de proximidade não. A forma de estar e de agir com o cliente é a proximidade. Esta nova ferramenta ainda é um pouco estranha, mas temos tentado e temos feito tudo para que isso seja possível.
E em termos de formação?
Nós fizemos várias formações online e estamos já a fazer presencialmente com grupos pequenos. Na ACIF, nos últimos dois anos, optamos por fazer uma grande destrinça entre a casa de formação e a do empresário, que é na Avenida 25 de Abril. Temos um palacete que está adaptado para a formação e para os empresários. Para a parte mais dedicada aos associados usamos as instalações da sede em que temos o apoio jurídico, apoio financeiro, informação mais próxima dos comerciantes, por isso estamos no miolo da cidade.
Em termos de formação, o objetivo é proporcionar aos empresários e também a colaboradores formação específica. Temos alguma formação para desempregados. Temos a formação modelar com várias línguas inglesas, folha de cálculo, educação parental e, em termos do conhecimento pessoal, os estados do “eu” e da gestão e tempo.
O grande objetivo é estarmos em perfeita sintonia com as necessidades do mercado. Hoje não faz sentido formação a metro. O que temos de fazer é formação direcionada para os nossos empresários. Nesta última fase a maior dificuldade dos empresários são as configurações dos programas que obrigam a investimentos. Nós hoje queremos resolver esta situação pandémica, esta situação de atrofia financeira, mas estamos a esquecer que as empresas não são só o hoje. Essa é a grande dificuldade para o futuro. O médio prazo vai ser fundamental para as empresas.
Há algum projeto na Associação que queira destacar? O nosso objetivo é uma aproximação cada vez maior aos empresários. Ao longo dos anos, fruto da conjuntura e da atividade pujante de algumas associações setoriais, fomos perdendo a indústria e hoje estamos a reconquistá-la. Não tanto pelos serviços em que eles podem precisar de nós, mas por uma questão de comunidade e de bairrismo, de sentir esta vitalidade do próprio concelho, o que vai contagiando positivamente diversas áreas.
Desde que estamos na direção da ACIF, um dos objetivos foi abri-la à comunidade. Normalmente não há nenhum evento que não tenhamos convidado sempre alguém a estar connosco. Se a economia for pujante, for capaz, toda a sociedade melhora. Se as famílias estiverem bem, o negócio vai florescer. Nós somos parte da comunidade e queremos que ela esteja bem.
O vosso mandato é até quando? Abril do próximo ano. Estamos próximos das eleições. É importante que as pessoas deixem o seu comodismo e que estejam dispostos a participar no coletivo. O associativismo necessita cada vez mais de pessoas com novas ideias, com capacidade. O apelo que faço aos associados da ACIF é que se apresentem com disponibilidade para haver eleições disputadas com projetos que sejam diferenciados, com projetos que sejam um acrescentar e um prolongar desta associação por mais cem anos. Espero que haja vários candidatos às eleições da ACIF, e que consigamos discutir ideias, de modo a fazer com que este projeto possa continuar.
Jorge Oliveira
Jornalista