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Paulo Perames

Paulo Perames é bracarense, tem 41 anos e tem um fascínio extraordinário pela natureza. Casado e pai de uma menina de sete anos, Paulo tem-se dedicado, nos últimos anos, ao voluntariado. À limpeza e monitorização de rios, mais especificamente.

Extrovertido e de trato fácil, é amigo do amigo, orgulhando-se de ter “muitos e bons”. Para além disso, é muito ligado à família. “É o meu grande suporte e tem sido decisivo para aquilo que faço”, refere com um brilho nos olhos.

Inconformado profissionalmente, tem dois empregos: é assistente técnico há 14 anos num agrupamento de escolas em Braga e faz segurança privada aos fins de semana. Este último surge como complemento ao trabalho principal, mas ajuda-o “a pagar as contas da faculdade”, à qual regressou, após um interregno de vários anos, para terminar a Licenciatura em Geografia e Planeamento.

Já praticou Taekwondo e quando questionado sobre aquilo que mais gosta de fazer, para além de estar com a família e amigos, Paulo não hesita. “Adoro pesca desportiva e caça submarina. É um dos meus hobbies de eleição desde os 10 anos. No fundo, amo estar junto da natureza e do ambiente. Eu gosto é de estar cá fora, ficar confinado a um espaço fechado é mais uma obrigação do que propriamente um prazer. Amo o planeta, o verde, as flores, a água, as árvores… Tudo isso é vida! E cuidar de tudo isto é uma alegria plena”, atira sem rodeios.

Considera-se um caminheiro, revelando fazer diversos percursos pedestres por ano. É peregrino nos Caminho de Santiago. O tempo livre disponível, tenta sempre ocupá–lo fazendo todo este tipo de atividades. “São momentos muito prazerosos da minha vida”, assinala.

Os pássaros eram e são também uma paixão, tendo chegado a ser um dos maiores criadores nacionais da espécie agapornis roseicollis, atividade que teve de abandonar devido a um problema de saúde.
“Foi-me diagnosticado hipotiroidismo e o pó das aves não era benéfico. Tive de largar essa paixão, mas não me arrependo, porque a saúde está em primeiro lugar e o problema está controlado”, diz.

O seu bem-estar foi reforçado quando, recentemente, decidiu ser voluntário no Projeto Rios, promovido pela Associação Portuguesa de Educação Ambiental (ASPEA). “Já sigo este projeto há muitos anos, mas nunca tinha tido a oportunidade de o integrar ativamente. Há cerca de três anos comecei a interessar-me de forma séria e através da autarquia bracarense, comecei a recolher informação e decidi, há dois anos, adotar um troço do rio em meu nome. Havia várias opções e fiquei responsável por uma fração do Rio Este, entre a avenida 31 de janeiro e a Escola de Santa Tecla, com cerca de 900 metros. Nessa altura não era ainda monitor, mas em 2017 realizei o curso de Monitorização e, após conclusão do mesmo, em junho de 2018, fiquei credenciado para assumir esse cargo”, explica.

No âmbito desse projeto, Paulo faz a limpeza e o levantamento técnico (monitorização) daquele troço, desde análise da temperatura, medição da profundidade e velocidade da água e da largura do troço, medição do ph da água, colheita e análise de vertebrados e invertebrados que existam no rio, entre muitas outras ações. “São coisas giras que fazemos e que nos dão o parecer sobre a qualidade da água que estamos a analisar”, esclarece.

É uma satisfação pessoal enorme quando termino a limpeza e monitorização. Cuidar daquilo que é nosso acho que é um dever que nos assiste.

Sozinho ou acompanhado, Paulo diz que o importante é sentir prazer naquilo que faz. “A minha esposa acompanha-me na maioria das caminhadas. Nas restantes atividades vou sozinho, ou sou acompanhado por um pequeno grupo de amigos. Os mais fiéis são a minha filha e o meu pai”, conta, com um sorriso, revelando um misto de desalento e orgulho. “Dificilmente consigo juntar mais de seis ou sete pessoas”, diz. “Ainda é complicado para as pessoas despender duas ou três horas para ajudar nestas situações e muitas delas têm vergonha de apanhar lixo. É o que sinto no dia a dia. Há muito apoio verbal, mas pouco físico”, reforça. 

No meio de tantos afazeres, Paulo gosta de, todos os dias, ao final da tarde, “encontrar-se” consigo mesmo. 

Para refletir, caminhar, visitar e analisar o rio que lhe é tão próximo. No fundo, para se sentir bem. Tal como se sente ao fazer parte deste projeto. “A natureza é uma questão que me diz muito e, sendo um bracarense de gema, sempre tive vontade de contribuir para a preservação do meio ambiente na minha cidade. Foi a forma que encontrei de o fazer e sinto-me muito grato”, frisa.

Para Paulo, efetuar este trabalho “enriquecedor” foi uma forma também de incutir valores ecológicos ao “maior amor da sua vida”. “A minha filha já me acompanha e apoia-me em certas atividades. Não vai para dentro da água, mas recolhe lixo na zona envolvente e para mim é fantástico ver que ela já tem vontade de ajudar e cuidar daquilo que é de todos nós. É uma excelente forma de prepararmos as gerações futuras”, explica.

Mas se pensarmos que a preocupação ambiental se resume a esta ação desenganemo-nos. Paulo assume esta vontade de contribuir para um planeta mais limpo e saudável numa simples caminhada. “Já há muitos anos que faço plogging e acho que todos o deveríamos fazer, porque não custa nada. Mesmo nada”, sustenta. E o que é plogging? É muito simples. Trata-se de uma atividade ao ar livre que combina a atividade física com a recolha de lixo ao longo do trajeto. 

“Basta levar um saco plástico, roupas confortáveis e um par de sapatilhas. É tudo o que precisa para começar a praticar”, atira. Benefícios? Para Paulo, “muitos”. Desde logo, “melhora a condição física e contribui para fazer do planeta um lugar mais limpo”. 

A sensação de dever cumprido é o sentimento que mais valoriza. “É uma satisfação pessoal enorme quando termino a limpeza e monitorização. Cuidar daquilo que é nosso acho que é um dever que nos assiste”, afirma.

Paulo conta ainda que entre os resíduos que mais encontra durante a limpeza estão metais de diversos tipos, plásticos, até telemóveis e principalmente sacos com dejetos de animais, realidade para a qual Paulo não consegue arranjar explicações. “Revolta-me muito ver que há muito lixo nas águas dos nossos rios. E custa-me muito observar que uma das coisas que mais encontramos são sacos com dejetos de animais. Como é possível alguém recolher estes excrementos do chão, ter caixotes de lixo de 50 em 50 metros e depois lançá-los à água? Não faz sentido nenhum e deveríamos refletir sobre essa problemática. É surreal e muito triste”, assinala.

Para Paulo, a limpeza dos rios e do próprio meio envolvente não deveria ser uma obrigação das instituições públicas. A solução está, no seu entender, no civismo da população. “Se as pessoas se comportassem condignamente e não atirassem lixo para o chão, a cidade e o planeta estariam limpos”, explica. Segundo Paulo, é importante que sejam promovidas ações de sensibilização nas escolas, junto dos professores e com os mais novos para que se envolvam diretamente neste tipo de iniciativas.

Paulo não se vê como um exemplo, mas gostaria que as pessoas olhassem para aquilo que faz como tal. Apela ainda à redução drástica do plástico e sensibiliza a população geral para ajudar na limpeza e conservação dos rios e do meio ambiente. Tudo em prol de um planeta mais limpo para todos. “É a casa de todos nós e merece a nossa atenção”, termina.

       

1 Comentário

  • jose silva

    Conheci em tempos este sr como criador de agapornis visitei a sua coleçao embora uma troca rapida de ideias ,vendo agora a sua historia agradeço a deus e fico satisfeito por haver pessoas destas com esta nobresa ,desejo muita força amigo paulo perames so tenho pena de nao pder continuar com os passarinhos mas a saude primeiro .bem haja um abraço

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